Blaise Pascal é um dos pensadores fundamentais da história do Ocidente. Reconhecido por ter criado a calculadora e pelo seu legado na matemática e na física, sua importância vai muito além das ciências exatas. Epistemologicamente seu pensamento constitui um chamado ao equilíbrio entre razão e fé.
Ele viveu na França do século XVII, mesmo sendo contemporâneo de Descartes e da explosão racionalista que o acompanhou, não aderiu ao zeitgeist (espírito do tempo) de sua época, buscando trilhar um outro caminho; insubmisso à moda inovou pelas veredas do bom senso.
Pascal era aficcionado pelo infinito. Tratou do tema em cada área que transitou. Para ele, não fazia sentido buscar limitar Deus ou o próprio ser humano às estreitas fronteiras da intelecção racional.
Pascal se contrapôs à ideia de que a racionalidade é absoluta. Apesar de seus feitos científicos, acreditava que a razão tem óbvias restrições. Ele ensina que o ato de perceber ou entender algo de forma profunda e significativa requer a disposição de estar atento ao que vai além da própria cognição. Pascal empenha-se em provar que existem aspectos da vida que não podem ser exauridos por meio da análise metódica típica do raciocínio lógico.
A razão simplesmente não consegue responder a todas as perguntas relacionadas à existência. Apesar de ser capaz de resolver problemas matemáticos complexos e desvendar mecanismos de funcionamento da natureza, ela é inútil para resolver satisfatoriamente questões como o sentido da vida ou a essência da realidade.
Consequentemente, recomenda que a confiança em relação à razão seja equilibrada, visto que há algo no ser humano que está acima e vai além.
Sua famosa frase, “o coração tem razões que a própria razão desconhece” expressa bem seu pensamento. Em suas reflexões, elaboradas na obra póstuma “Pensées”, Pascal conceitua o coração como o centro do “eu” individual. Uma parte do ser humano que escapa totalmente à razão lógica, não porque rivalize com ela mas porque a transcende. O coração está acima e vai além do intelecto.
Que parte nossa é capaz de captar e reunir no mesmo plano as verdades práticas àquelas essencialmente espirituais e existenciais? Definitivamente não é a mente racional, mas o coração. Para Pascal, o coração proporciona uma espécie de acesso direto ao conhecimento inexplicável logicamente.
A mente racional é capaz de escrutinar o sentido das coisas visíveis. Já o coração é essencial tanto para a experiência sensível quanto àquela religiosa. Pensar com o coração nos permite arranhar o infinito, compreendendo o que escapa às sinapses cerebrais. Através dele enxergamos além do mundo e podemos contemplar o próprio Deus.