Sabemos que fomos feitos semelhança do Criador (Gn 1: 27) isso porque, antes de qualquer coisa, somos seres espirituais.

De acordo com as Escrituras, o espírito é a nossa primeira dimensão imaterial e transcendente, um aspecto que está além do corpo e da alma. É a parte excelsa, mais elevada do indivíduo. É nossa fração divina, uma porção sagrada do nosso ser que se conecta diretamente com Deus.

Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (João 4: 24). O verso revela que Deus é espírito, ou seja, que ele não é um ente físico, não está contido por um corpo tangível, mas que também não se trata de algo etéreo como uma inteligência difusa ou uma consciência cósmica. Deus não é a natureza ou o universo, diversamente, é pessoal, determinado não pela constituição material, mas pelo seu poder e caráter.

Na verdade, qualquer coisa que se diga a respeito de Deus é apenas uma aproximação, um esforço para tornar cognoscível algo incompreensível, incapturável pelo pensamento. Via de regra, usa-se do artifício de analogias para tornar crível o que não é naturalmente inteligível. A analogia é uma tentativa de aproximação conceitual e que, portanto, é necessária para descrever o Eterno que ultrapassa qualquer conceito ou ideia. Jesus Cristo utilizou largamente o recurso analógico para explicar os mistérios de Deus (por exemplo em João 3). Consequentemente, para que entendamos Deus em Sua substância (se é que podemos determinar uma substância divina), o escritor sagrado diz que Deus é “espirito”, o que de fato isso quer dizer só se saberá na glória.

Mas também acaba falando algo sobre nós mesmos, porque nós também temos em nossa constituição algo que só podemos descrever ou caracterizar através de um esforço analógico idêntico daquele aplicado para nos aproximar da compreensão sobre Deus. Concluímos que os seres humanos compartilham em sua parte essencial da mesma natureza de Deus. No caso, ambos, Criador e criatura, são espírito. Sendo assim, da mesma maneira como ser espírito é um mistério para Deus, é um mistério para a criatura.

Consequentemente, a circunscrição do tema “espírito” humano deve ser precedido pela advertência de que se trata de um esforço exploratório limitado, uma aproximação, uma descrição meramente analógica, visto que ele está do outro lado da fronteira que demarca a imanência, seu pertencimento é o mesmo de Deus, ou seja, a transcendência.

Como não podemos nos alçar à transcendência, o espírito individual é compreendido mais em seus efeitos do que em sua natureza. Neste caso, podemos captá-lo ao determinar que enseja basicamente três condições: a vida, a consciência e a relação com o Eterno.

Como fonte de vida, constitui a essência que anima e dá subsistência ao ser humano, como afirmam as Escrituras (Gn 2: 7). O espírito, do grego pneuma, é o ar, o fôlego que rompe com o inanimado e produz o milagre do viver. Ele se antecipa à própria alma e concede uma condição ultra excepcional a alguns entes que são feitos seres vivos (Tg 2: 26a).

Porém, o espírito vai além, mais do que uma parte vital, ele também é a fonte da voz mais profunda que nos orienta em nossa jornada vivente. É nele que está abrigada a consciência individual, aquele clamor manso e suave que pronuncia palavras a partir do mais profundo do nosso ser (Rm 2: 29). É a partir do espírito que a consciência instrui o coração [o ponto modal que amarra corpo, alma e espírito, como se verá em artigo posterior] (Pv 20: 27). A voz da consciência não é mero pensamento, é mais profunda que a razão e mais penetrante do que as emoções. É o meio através do qual o espírito conversa com a alma da pessoa.

A Bíblia também ensina que o espírito é responsável pela capacidade de adorar, orar, reconhecer a verdade sublime que ocorre ao se receber a revelação divina. A adoração sincera nasce no espírito (Jo 4: 23, 24).

A oração é a comunicação com Deus, é uma conversa travada no plano espiritual o qual acessamos por meio exclusivo do espírito (Ef 6: 18). O espírito também é responsável pelo discernimento espiritual que não atua conforme os elementos do mundo, requer um outro tipo de inteligência que não é meramente intelectual, mas estritamente espiritual (1 Co 2: 14). É, portanto, o repositório da sabedoria mais profunda que transcende os limites do intelecto humano (1 Co 2: 11). E é visto como a capacidade de se conectar com verdades universais e com a essência do nosso ser (1 Co 2: 6-9). Exatamente por isso que é no espírito que nasce a busca pelos significado e propósito da própria vida (1 Jo 4: 6). Quando regenerados, o Espírito Santo se conecta ao espírito individual e passa a remodelar a alma e, consequentemente, o coração crente (Ro 8: 16).

É através do espírito que os seres humanos podem experimentar a regeneração espiritual e passar pela autêntica transformação interior.




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