Empiricamente percebe-se que o ser humano é uma criatura especial por diversas razões: só ele é capaz de raciocínio lógico, agir moralmente, produzir cultura, fazer história, transformar o seu meio e a si próprio. Em comparação com toda a existência (universo, natureza, seres vivos) não é exagero afirmar que o ser humano é um ente sobrenatural.
Biblicamente há uma explicação essencial para tamanha singularidade: de acordo com o livro de Gênesis, Deus nos criou à Sua própria imagem e semelhança (Gn 1:27). Isso significa que os homens têm uma natureza incomparável e é exatamente por isso que este ser especial agrupa um conjunto de capacidades inéditas não verificadas em qualquer outra criatura.
Deus deu ao homem tamanha distinção com um propósito central: estabelecer uma relação sincera com ele.
“todas as coisas foram criadas por ele e para ele” (Colossenses 1: 16c).
Biblicamente, os atributos especiais do homem possuem esse objetivo especial: conhecer, amar e glorificar a Deus. A Bíblia ensina que fomos criados para ter um relacionamento íntimo com Deus e viver de acordo com os Seus princípios.
Como sinal de confiança não concedeu apenas existência com propriedades únicas, mas nos entregou autoridade e domínio sobre toda a criação (Gn 1:28). Uma bênção que implica também em enorme responsabilidade para cuidar e administrar o mundo criado, revestidos com a autoridade concedida do Alto.
Mas o homem não honrou esse presente. Ao invés de aproveitar sua liberdade para fazer a escolha correta, isto é, corresponder ao seu proposito, decidiu livremente, ainda que sob o protesto do Pai, transgredir.
Com a decisão adâmica em favor do mal, veio a desgraça: a queda! Com a transgressão original, o homem perdeu a autoridade e o Diabo assumiu o controle do mundo.
Porém, o Pai não abandonou a sua criação especial. As Escrituras ensinam que Deus amou tanto o ser humano que enviou Seu Filho, Jesus Cristo, para morrer na Cruz e oferecer a salvação a todos que creem Nele (Jo 3.16). Essa oferta de reconciliação é exclusiva para os seres humanos, o que torna insofismável nossa importância perante a face do Todo Poderoso.
Existe agora uma oportunidade para que o ser humano tome o caminho de volta. A reconciliação com Deus é ao mesmo tempo a reconciliação consigo mesmo, com seu propósito existencial. Para tanto, deve decidir conscientemente reestabelecer o relacionamento com a Deus que precisa ser pessoal, íntimo e profundo. Isso envolve buscar ao Pai, estudar Sua Palavra, orar e ter comunhão com Ele. Conhecer a Deus implica em entender quem Ele é, Suas características, Seus planos e propósitos para nossas vidas.
Uma vez conhecido, devemos amá-lo com todo o nosso ser, ou seja, de todo o coração, alma, mente e força (Mc 12.30). Amar a Deus significa colocá-Lo em primeiro lugar em nossas vidas, obedecer aos Seus mandamentos e buscar a Sua vontade em todas as áreas.
Amando-o recebemos glórias em tudo o que fazemos. Isso significa viver de forma que nossas ações, palavras e pensamentos reflitam a glória de Deus. Glorificar a Deus envolve viver uma vida de retidão, bondade, amor e generosidade.
Além disso, a Bíblia também ensina que fomos criados para desfrutar da comunhão com outros seres humanos. Fomos chamados a amar e servir uns aos outros, compartilhar o amor de Deus com os semelhantes e ser bons administradores dos recursos que Deus nos confiou.
As características, propósitos e desígnios especiais do ser humano, bem como os desafios de santidades aos quais está confrontado, só podem ser adequadamente reconhecidos e trabalhados eficientemente quando descemos ao detalhe buscando entender mais sobre a nossa própria natureza constitutiva. Ao fazê-lo, imediatamente nos deparamos com nossa tripla conformação.
De acordo com a Bíblia, o ser humano é composto por três partes constitutivas ao mesmo tempo integradas e distintas: o espírito, a alma e o corpo:
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 5: 23).
Os dois primeiros constituem nossa parte intangível e eterna enquanto a terceira é um instante físico e mortal.
Analisaremos em detalhe cada uma de nossas partes nos próximos artigos.