Atualmente presenciamos uma salutar divulgação de grandes clássicos do pensamento Estoico. Nomes como Sêneca, Epicteto e Marco Antônio, expoentes da variante romana, vêm aparecendo nas pautas de debates e entrevistas com respeitáveis intelectuais públicos.
Tem sido apresentado como uma espécie de alternativa terapêutica para as angústias existenciais, uma reflexão em favor da autodisciplina emocional e a preparação para lidar com os caprichos do destino deste mundo que fica cada dia mais confuso e progressivamente aflitivo.
Vale a pena conhecer o estoicismo, sem sombra de dúvidas, tem muito a nos ensinar. Porém, existe uma filosofia muito mais potente em seus efeitos, muito mais efetiva para encontrar a tão almejada ataraxia (paz de espírito dos estoicos). Estou me referindo a Cristo!
Muito se fala que o estoicismo teria influenciado o cristianismo. Como o primeiro estava capilarizado na cultura romana e disseminado no ambiente intelectual da época dos apóstolos, é razoável admitir que a linguagem e temática tipicamente estoicas apareçam nos textos do Novo Testamento. Se Paulo se comunicava com Sêneca, como nos revela o padre Jerônimo, a hipótese de afinidade ganha robustez.
Porém, afirmar que houve mais do que diálogo aventando uma suposta influência substancial, requer admitir outro nível de comprometimento teórico da Palavra Inspirada com a filosofia pagã.
Não se tratou de influência, os cristãos, apologeticamente, usaram de algumas teses estoicas com a finalidade de se aproximar dos leitores, especialmente os mais letrados, certamente versados em filosofia. Na verdade, os textos bíblicos foram muito além dos estoicos.
À guisa de confirmação da superioridade de Cristo em relação à melhor filosofia dos séculos I e II, abaixo seguem algumas reflexões comparativas:
(1) Nos estoico, Deus é imanente, no cristianismo Deus é transcendente. O divino não está no mundo, ele é maior e melhor que o mundo. Por isso ele pode oferecer as respostas mais adequadas, pois ele transcende as vicissitudes da realidade perecível.
(2) Os estoicos acreditam que descobrem Deus através da investigação da natureza, no cristianismo Deus é revelado. Não se trata de colocar a mente humana em um patamar acima do qual de fato está. Não existe maneira de Deus caber na limitada razão humana. Sem fé simplesmente não compreendemos.
(3) Deus para os estoicos, não é pessoa, não há providência, não há milagre ou mudança de rumo. Trata-se de um deus exclusivamente mecânico. Diverso do Deus bíblico que é providência pura e amor inesgotável.
(4) Muito diferente dos estoicos, para os cristãos, o ser humano não é uma tábua rasa, em sinergia a priori com o cosmos. Diversamente, o homem tende a agir contrário à lógica de Deus, tende a infligir sofrimento a si e aos outros por causa do pecado. Não é, portanto, uma questão de preservar a sinergia, mas de alcançá-la por meio da reconciliação com Deus para que, em função desta, haja reconciliação com a própria natureza.
(5) Os estoicos não enxergam que o certo e o errado são conhecidos por revelação. O que fornece o ponto de vista correto sobre o funcionamento do cosmos não pode ser acessado apenas pela lógica, uma vez que tal está submetida às mudanças que governam o plano sensível e é corrompida pela degradação das paixões humanas.
(6) Cristo vai muito além da fleumática resignação estoica: o porvir importa, existe uma direção para a qual a humanidade pode caminhar muito além da fatalidade da vida material.
(7) Para os estóicos a morte é algo que se deve aceitar com placidez, para os cristãos a morte é meramente uma passagem para uma existência sublime: a glória!
(8) A paz da alma implica em não ter expectativas pessoais? Para os estóicos sim, para os cristãos não. A expectativa da salvação é o que move o crente a superar o mundo e a si mesmo.
A concepção de amor, por sua vez, é bastante afim. O amor cristão é muito parecido com o proposto pelo filósofo e imperador Marco Aurélio: um cimento social poderoso que permite, no desapego sereno, criar vínculos de entendimento entre pessoas que precisam coexistir ou conviver sem ter outros laços entre si, senão o senso de respeito que vem do amor temperante.
Mas quem nos deixou o exemplo inspirador de amor puro? Somente aquele que se sacrificou por quem lhe virou as costas!