Como vice-decano da Academia Brasileira de Letras, tenho acompanhado bem de perto o movimento de renovação da casa que consagrou a vida e a obra de imortais como Austregésilo de Athayde e Ruy Barbosa. Agora, é um outro Ruy que entra, o Castro, que se notabilizou em dois campos do conhecimento: o jornalístico e o literário, com as suas vitoriosas biografias.
A vaga é a de número 13, que pertenceu ao notável Sérgio Paulo Rouanet, autor de uma célebre lei de incentivo à cultura e que foi indevidamente criticado no governo anterior, num dos seus incríveis desserviços ao país. Felizmente passou e estamos vivendo outros e mais promissores tempos.
Minha ligação com o novo imortal, a quem dei a espada, na cerimônia de posse, é muito antiga. Data dos anos 50, quando eu era chefe de reportagem da revista “Manchete” e Ruy um dos nossos jovens e promissores repórteres. Esperava que ele recordasse esses bons tempos, mas ele preferiu outros caminhos para fazer a sua narrativa, de todo modo bastante apreciada, como se viu pelos demorados aplausos com que foi saudado.
Mesmo sendo colunista da “Folha de São Paulo”, onde escreve quatro vezes por semana, Ruy encontrou tempo para elaborar livros de 500 páginas cada, em média, sobre grandes figuras da história brasileira, como Nelson Rodrigues (“O anjo pornográfico”), Garrincha (“Estrela solitária”) e Carmen Miranda, uma portuguesa que se tornou carioca por adoção e que acabou vivendo tempos brilhantes no cinema norte-americano.
Lembro bem de ter recebido um telefonema de Ruy para me perguntar sobre os porres de Garrincha. Eu estivera com ele em Poços de Calda e Araxá, em 1958, nos preparativos da Copa do Mundo, afinal vencida pelo Brasil na Suécia. “É verdade que Garrincha enchia a cara depois dos treinos, causando grande preocupação à nossa Comissão Técnica, dirigida por Vicente Faola?” Honestamente, sempre muito cuidadoso em todos os pormenores do meu trabalho, não pude confirmar a notícia que chegara aos ouvidos do jovem repórter de Caratinga, mas também carioca por adoção. Não sei se ele ficou contente com as minhas afirmações. Garrincha era uma das nossas maiores esperanças de vitória. E isso acabou se confirmando em Estocolmo.
São fatos passados. Hoje, o que importa é que Ruy Castro entrou lindamente para a ABL, com uma cerimônia muito bonita.