A Teoria da Escolha Racional, forte entre economistas e relevante entre cientistas sociais, afirma que o ser humano opera no mundo de maneira predominantemente racional e auto referenciada, fazendo escolhas que procuram otimizar meios e fins, sempre pretendendo maximizar ganhos e reduzir ameaças e perdas.
Com base nessa teoria, analistas buscam explicar a ação humana na perspectiva da interação estratégica e compreender condições concretas de escolha com vistas a prever as operações dos agentes que se relacionam mutuamente na economia, política e na sociedade.
Esta perspectiva apresenta algumas falhas já amplamente reconhecidas, duas delas são: a suposição equivocada de que as escolhas ótimas para os agentes podem ser padronizadas e de que decisões estratégicas sempre dependem da qualidade das informações anteriormente obtidas. Tais deficiências limitam o alcance do modelo e suas pretensões.
O que os economistas e cientistas sociais não veem é que na base desses dilemas, existem princípios espirituais que os alicerçam. Refletindo biblicamente, sabe-se que o ser humano pode até pensar que possui o comando, mas a verdade é que nossa capacidade de intervir nos rumos da nossa própria vida são muito restritos:
“Todos os caminhos do homem lhe parecem puros, mas o Senhor avalia o espírito” (Provérbios 16: 2).
Isso não tem a ver apenas com o que foge ao nosso controle, as tais condições limitadoras que nos enredam sem que tenhamos os meios para nos libertar. Além dessa espécie de problemas, existem também dilemas atinentes ao próprio campo de ação que depende exclusivamente das nossas decisões conscientes.
Quando vamos escolher um caminho, precisamos antecipar consequências, ter ideia de onde cada decisão pode nos levar. A teoria da Escolha Racional está correta ao determinar que é típico do ser humano arbitrar procurando maximizar ganhos e reduzir perdas, porém, tais são sempre passíveis do “déficit de informação”. Quer dizer, sempre que buscamos o melhor, o fazemos segundo as informações que possuímos e se tais não forem precisas, se estiverem incorretas ou forem insuficientes a chance de erro é imensa.
Até aqui os próprios cientistas admitem deficiência na teoria. A questão está no desdobramento filosófico. Quando teremos todas as informações precisas (corretas e suficientes) para qualquer decisão? Ora, a vida concreta sempre guarda um lugar de honra para o fator imponderável. Quem poderia prever, por exemplo, que em 2020 haveria a pandemia COVID-19? Que em 2022 a Rússia atacaria a Ucrânia? Que uma grande empresa ou um grande banco estariam fraudando seus balanços?
Na verdade, o ser humano jamais consegue reunir as informações relevantes sobre coisa alguma porque a realidade concreta é para nossos olhos sempre inconstante e mutável.
Mas não existe só esse desafio externo ao agente da ação, há outro que nasce dentro de cada um de nós. Também é necessário refletir sobre a maneira como processamos o que nos é apresentado. Ou seja, como moldamos nossos desejos, selecionamos nossas preferências e interpretamos as informações no processo de tomada de decisão.
O que se forma no coração do ser humano é um mistério. Por que queremos o que queremos? Por que não aceitamos certas coisas e aceitamos outras? Por que nossa inclinação é “tal” e não “qual”? Nós mesmos não sabemos quem dirá os outros. Portanto, não é tão simples dizer que “sempre escolhemos o melhor”, pois muitas vezes o que achamos que trará o bem, na verdade, trará o mal.
Portanto, nossas escolhas, resultam da síntese (mistura) entre o que trazemos de bagagem dentro de nós e as informações que conseguimos obter.
Se o que desejamos contiver alguma mácula e se o que sabemos não é toda a verdade, possivelmente, ainda que estejamos pensando que tomamos a melhor decisão, provavelmente estaremos agindo contra nós mesmos.
Por isso devemos entregar todas as nossas intenções e os nossos caminhos ao Senhor, porque somente Ele sabe de tudo, somente o Altíssimo contempla o quadro completo com todas as variáveis: ele enxerga o que vive em nossos corações e tem em vista todas as possíveis consequências de cada ato nosso.