Foi uma amizade de muitos anos. É grande, pois, a dor sentida pela perda da escritora Nélida Piñon, que faleceu em Portugal, aos 85 anos de vida.

Tive o privilégio de ser o seu vice-presidente, na gestão da ABL, em 1997. Quantas ideias criativas e generosas, na primeira gestão de uma mulher à frente da Casa de Machado de Assis. Lembro que as bem sucedidas visitas guiadas nasceram  da sua imaginação. E muitas  iniciativas.

Autora consagrada de “A República dos Sonhos”, Nélida escreveu mais de 20 livros, todos com bela repercussão inclusive internacional. Doou ao seu amado Instituto Cervantes mais de 8 mil livros e documentos. Hoje enriquece  um belíssimo acervo que fica no bairro de Botafogo.

Ela foi uma intransigente defensora dos direitos humanos, especialmente das mulheres e dos negros. Escreveu sistematicamente sobre isso.

E amou seus cachorrinhos, o primeiro dos quais foi o famoso  Gravetinho Piñon e depois Susie Piñon, com os quais inclusive viajou para diversos países. Sua cultura era um poderoso misto de galego  e português.

Fomos amigos há mais de 30 anos. Ela era formada em jornalismo pela PUC-Rio, com obras espalhadas por cerca de 30 países. Carioca, teve também um grande apreço pela sua descendência espanhola.  Costumava se pintar antes e vestir sua melhor roupa. Era um ritual que sempre respeitava, com toda solenidade. Foi uma escritora de vários estilos, como demonstrou  no seu clássico “Vozes do deserto”. Sua paixão pela literatura veio desde cedo. E assim  ganhou o Prêmio Príncipe de Astúrias.

Pode-se registrar na sua rica biografia uma amizade relevante com escritores como Gabriel Garcia Marques e Mário Vargas Lloza, com os quais costumava sempre se corresponder. Dizia que “os livros nasceram pra viajar”. E ela ia com eles, espalhando suas ideias pelo mundo.

A perda de Nélida Piñon não é sentida apenas pela ABL, mas pelo país de um modo geral, pois ela foi uma figura muito querida. Sempre demonstrou solidariedade com os que sofrem,  especialmente em nosso país.

Nos muitos artigos publicados na imprensa a respeito do falecimento de Nélida Piñon, que todos lamentamos, sempre destacamos uma das suas principais qualidades: a generosidade. Doou seus quatro apartamentos para as duas cachorrinhas da sua vida, uma das quais, Susie, estava com ela no seu passamento, em Lisboa. Figura exemplar de amiga, Nélida prestou também relevantes serviços à casa de Machado de Assis, da qual chegou a ser presidente, fato ímpar para uma mulher em nosso país. É com muita saudade que  lembro da nossa amizade, da qual guardo lembranças inesquecíveis. Sobretudo porque fomos colegas na diretoria da ABL e tive o privilégio, pois, de acompanhar sua imbatível criatividade.




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