Visita guiada ao Parque da Lajinha revela história silenciada de comunidade negra

Segundo informações do site da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), antes de se tornar um espaço público, aberto a toda comunidade, a área do Parque da Lajinha, no bairro Teixeiras, era ocupada pela comunidade Vila da Prata, formada em meados da década de 1970, nas terras da Fazenda da Lajinha, que, com a morte dos antigos donos, tornou-se propriedade da Prefeitura de Juiz de Fora. A história dessa comunidade, formada prevalentemente por negros e trabalhadores oriundos da zona rural, permaneceu apagada por décadas, desde a remoção dos moradores, concluída em 1981. Para resgatar e difundir essas memórias, a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) promove duas visitas guiadas no Parque da Lajinha, sendo a primeira neste sábado, 12, às 10h. Já a segunda intervenção está agendada para o próximo dia 27, domingo, com participação de um grupo teatral da cidade. Em ambas as atividades, a participação é gratuita e livre para todos os públicos.

Conforme a historiadora do Departamento de Memória e Patrimônio Cultural (Dmpac) da Funalfa, Carine Muguet, o trabalho é embasado na dissertação de mestrado (UFJF) de Christiane Abreu, que resgatou a trajetória da Vila da Prata. “Nosso foco nessa visita é a apresentação de elementos históricos do processo de remoção pela Prefeitura das famílias residentes na área da antiga Fazenda da Lajinha. Ao final do circuito, vamos promover uma roda de conversa, com participação de três moradores do bairro Santa Efigênia que vivenciaram essa história”.

A pesquisa de Christiane Abreu indica que o antigo proprietário das terras era José Bueno. Sua viúva, Lourdes Bueno, mudou-se do casarão principal após a morte do marido, permitindo, à época, que os colonos e suas famílias permanecessem no local. Conforme a dissertação: “No terreno, havia água farta, proveniente de minas, uma grande extensão de mata nativa, na área mais íngreme, e, na parte mais plana, terra fértil propícia para plantações, pastagem e criação de animais de pequeno porte.” Ao longo do tempo, o local passou a ser ocupado informalmente por indivíduos carentes de moradia, em sua maioria vindos de regiões rurais próximas à cidade.

“Assim foi se constituindo em matéria e símbolo, a comunidade da Vila da Prata, que existiu por aproximadamente dez anos, assumindo os contornos e as formações de uma favela, estereótipo desagradável para uma parcela bem marcada da população”, pontua Carine, acrescentando que, diante da falta de herdeiros, a Prefeitura tornou-se proprietária das terras, em razão do acúmulo de dívidas dos antigos proprietários.

A historiadora conta que, por volta de 1978, com o objetivo de liberar espaço para a construção da via de interligação do tráfego com a BR-040 (principal acesso ao estado do Rio de Janeiro) e para viabilizar a criação do Parque da Lajinha, os moradores da Vila da Prata começaram a ser desapropriados. Em três anos, o processo foi finalizado, sendo os residentes alocados em terrenos de pouca estrutura, nos bairros Santa Efigênia e Santo Antônio.

As visitas guiadas coordenadas pelo Dmpac/Funalfa são parte da Agenda Novembro Negro, organizada pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), com o objetivo promover reflexões e demarcar o posicionamento da gestão contra o racismo estrutural, além de reconhecer e valorizar pessoas, instituições e tradições da cultura de matriz africana.




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