Lições de humanidade de Agostinho – parte 3

Nos dois artigos anteriores aprendemos com Agostinho que: (1) Acomposição de razão e moral é o que faz do ser humano único entre todos os seres. (2) Os critérios de conveniência não podem ser definidos no mundo, pois por aqui tudo muda, apenas Deus que é imutável e eterno pode estabelecer as verdades morais cuja obediência nos torna humanos.

Agora, avançaremos falando sobre a felicidade que é alcançada quando o ser humano se realiza encontrando seu propósito enquanto criatura específica, diferente e sublime.

Para os antigos gregos, a realização de qualquer coisa consiste em atingir o seu propósito. Exemplos:  A flecha foi fabricada com o propósito de ser lançada e atingir o alvo, sua realização, portanto, consiste em atingir o alvo. O soldado existe para matar o inimigo, logo, o soldado se realiza tanto mais quanto mais inimigos for capaz de matar.

No caso do ser humano, a realização de seu propósito guarda relação com a própria ideia de felicidade (eudaimonia para os gregos) e era um mistério que assombrava os filósofos. Vejamos o argumento de Agostinho para responder ao dilema dos antigos pensadores:

Como o ser humano se realiza? Quando ele submete os seus desejos (animais) aos critérios de conveniência (racionais). Portanto, o ser humano encontra seu propósito quando: (1) age pelo julgamento racional que é (2) agir moralmente.

Logo, para ser racional, deve filtrar os desejos e selecionar suas ações. Para ser moral, deve buscar as verdades morais em Deus para orientá-lo na tomada de decisão.E quando o ser humano age orientado pela consciência e não pelos impulsos, goza de um atributo que apenas ele possui: a liberdade.

Veja o raciocínio: o ser humano possui razão por isso é livre. O maior privilégio do ser humano é a liberdade, ele é diferente porque é livre, é o único ser verdadeiramente livre. A pedra não é livre porque apenas existe, o animal não é livre, porque, embora viva, está preso aos seus instintos. Quem não sabe, não é livre!

Alguém pode questionar: “mas o pássaro pode voar para onde quiser!” Eis uma ilusão de liberdade: o pássaro não voa para onde quer, mas para onde seu instinto determina. Da mesma maneira, o homem não é livre quando faz o que quer, mas quando controla seus desejos fazendo o que deve fazer. Portanto, a liberdade não reside em fazer o que o instinto leva o ser humano a desejar, ao contrário, a liberdade reside na capacidade humana de domar os seus instintos.

Quem não domina seus impulsos não é livre!

A liberdade é o dom de poder fazer escolhas e é a responsabilidade de fazer o que é correto. Podemos escolher viver de acordo com a razão/moral controlando nossos desejos segundo o julgamento de conveniência e, assim encontramos nosso propósito, nos realizarmos e gozamos da liberdade.

Como seres livres, somos felizes.

Mas também, como seres livres podemos escolher viver em desacordo com a razão/moral submetendo-nos aos nossos desejos e não nos realizarmos como seres humanos. No segundo caso, não encontramos nosso propósito, nos igualamos aos animais, abrimos mão da liberdade e não encontramos a felicidade.

Agir conforme a razão e a moral é condição para que o ser humano se veja realizado, logo, feliz.




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