Lições de humanidade de Agostinho – parte 2

No artigo anterior acompanhamos o raciocínio de Santo Agostinho (ou Agostinho de Hipona, se preferir) demonstrando o diferencial do ser humano em relação a todos os outros seres como sendo sua capacidade racional e moral. A composição desses dois atributos fazem da nossa espécie o cume da pirâmide de tudo o que há no mundo.

Como visto, a moral se sustenta nos “critérios de conveniência”, tal constatação faz emergir uma dúvida: como tais são estabelecidos?

No mundo tudo está mudando. Tudo, absolutamente tudo está mudando: na natureza, na sociedade, no indivíduo… Nós mesmos mudamos: ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso.

A forma de interagir com o mundo muda? Sim! Criança corre, idoso não. A classificação de desejos muda? Sim! Criança deseja brincar, adulto deseja estudar filosofia (risos). O que é apropriado varia? Sim! Ao solteiro é apropriado procurar uma esposa, ao casado é apropriado sossegar o facho e ser fiel à esposa.

Ora, se no mundo tudo muda, onde encontraremos os critérios morais? O que fazer para estabelecer as conveniências? Em outras palavras: como determinar o que é bom e o que é mau? O que é certo e o que é errado? O que é justo e o que é injusto?

Por aqui, bom, certo e justo são relativos. Logo, se no mundo tudo muda, não é nele que encontramos os critérios morais. Porque se houver duas hipóteses para classificar determinado ato, na verdade, o mesmo não será classificado. Se duas afirmações antagônicas e mutuamente excludentes são consideradas verdadeiras, na prática, não há verdade alguma.

A verdade que orienta o bom, certo e justo não está no mundo. Para ser constante precisa ser imutável e eterno. No mundo tudo é mutável e contingente. É preciso, portanto, transcender o mundo para encontrar a verdade imutável e eterna que determina os critérios de conveniência.

Qual é o único ser imutável e eterno? Deus!

Deus é a verdade que aparta o bem do mal, determina o que é certo e o que é errado, estabelece a justiça repudiando a injustiça. Deus é o Ser necessário para que o critério moral seja possível.

Se o ser humano se realiza enquanto espécie quando age racional e moralmente, o homem depende de Deus para ser homem. Simples assim!




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