Preencher-se não de vinho mas do Espírito

Efésios 5: 18. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito, – Bíblia ARC

Estamos diante de uma metáfora clássica, porém que guarda sincronicamente um significado bem literal. Aqui Deus nos ordena a escolher uma coisa em detrimento de outra.

Existem conjunturas nas quais nós podemos somar, ser uma coisa e outra concomitantemente, ter um bem e outro ao mesmo tempo, estar em uma situação simultânea e outra… porém, há momentos em que não se pode ser, ter ou estar em duplas diferentes, feito que um dos termos repele o outro.

É como na física, um recipiente cheio de certo líquido, não pode ser preenchido por outro sem antes entornar o primeiro.

Será que é possível se embriagar com as coisas deste mundo e ainda assim se encher com as substâncias celestiais? O versículo acima responde que não. É preciso abrir mão do “vinho da contenda” para encher-se do Espírito de Deus.

O álcool entorpece e afasta o sujeito pelo lapso de tempo em que seus efeitos alienantes operam na pessoa. A finalidade do vinho é produzir embriaguês, as bebidas alcoólicas tem o propósito de suspender o juízo do indivíduo. Para alguns este é o meio de se obter prazer, um animador, fonte de euforia e divertimento; tudo isso é verdade, porém, é importante que se saiba, que tais prazeres baseiam-se na separação entre o “eu” e o “mim mesmo”.

Dessa condição alienante (dificilmente refutável) emerge uma reflexão: por que alguém precisa alienar-se, ou seja, deixar de ser ela mesma para poder alcançar prazer? Uma hipótese é que tal pessoa está, no fundo, insatisfeita com o que é, com o seu próprio “eu”. O esvaziamento da consciência é condição prévia para se sentir melhor. Pouca gente se dá conta de que isso é muito triste!

Escolher fugir do juízo significa “livrar-se” dos limites impostos pela própria consciência. Uma fuga que, via de regra, não leva a nada de bom, pois a embriaguez traz consigo descontrole e daí dissolução, animosidade, devassidão, libertinagem, violência, enfim, a pessoa torna-se uma espécie de animal que age por puro instinto. Esta é a condição de vida que aparenta o “carro de Jagrená” das histórias indianas, um veículo desgovernado que acelera em direção ao precipício.

É verdade que a existência traz seus fardos e que muitos deles são difíceis de carregar. Mas é igualmente verdade que qualquer fuga é inócua, pois não se pode desabalar de si mesmo permanentemente. Os efeitos entorpecentes passam,  ainda que se possa prolongar ao máximo sua duração; em algum momento a pessoa vai ter que encarar o seu “eu”. Portanto, se não resolvemos o que nos atormenta, estamos lascados, fadados ao sofrimento permanente, pois nenhuma fuga vai nos livrar definitivamente de nós mesmos.

O drama se completa quando nos damos conta que além do álcool e das drogas serem uma solução de curto prazo em seus efeitos psíquicos, é também uma abreviação da existência carnal em vista dos danos irreparáveis que causam na biologia e na marginalização social.

A Bíblia nos chama a procurar uma solução diferente e  definitiva para superar o que gera angústia e insatisfação. Uma solução que não é fugaz, que não passa pela alienação, mas que seja consciente e conclusiva. E para que seja permanente deve se basear no enfrentamento daquilo que nos torna o que não queremos ser. Uma solução que não é momentânea, menos ainda que precise ser sucedida por algum tipo de “ressaca”. Mas uma que é sólida, irreversível e constante, uma que nos faz amar o que nos tornamos por amar a fonte graciosa da transformação.

Tem gente que, uma vez descontente consigo mesma, embriaga-se de vinho, cerveja, cachaça, e se torna progressivamente mais vazio, enquanto outros contemplando em si o que não querem ser, buscam a mudança que transforma. Essa é a solução daqueles que decidem permitir preencher-se com o Espírito de Deus.

Pois o Espírito Santo é a substância que se alarga e expele o que não presta. Aumenta o volume e ocupa cada pedacinho, preenchendo todo pequeno espaço vazio.  É ele que altera os significados, os aromas, os sabores, as sensações, as percepções e os propósitos não por um breve lapso de tempo, mas permanentemente. E quando digo permanente refiro-me à permanência que é a definitiva entre todas as permanências, a eternidade.




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