É bem comum confundir o coração com as emoções, porém, o filósofo holandês Herman Dooyeweerd nos mostra em sua crítica transcendental radical que o coração é, na verdade, algo muito mais profundo. Ele constitui nosso centro mais íntimo, o ego, o self, o vital, aquela parte de nós que chamamos “eu”.
Essa é uma inspiração bíblica, pois as Escrituras tratam o coração como o núcleo do nosso ser, sendo ao mesmo tempo o “eu finito” que está aqui de pé neste mundo e o “eu infinito” que transcende a esta vida se preparando para a glória. Ele é o centro do que somos e o ponto de contato com Deus. “Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem” (Provérbios 27: 19).
Portanto, o coração é muito mais que mero “recipiente de emoções”. Elas constituem uma importante dimensão do nosso ser, porém, também podem nos armar ciladas, quando nos tira a aptidão para pensar. “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Provérbios 16: 32).
O Cristão sente como ninguém o cosmos, estando em comunhão com Deus, nos encontramos em sinergia com o universo. Essa relação com O Eterno nos proporciona sensações incríveis, parte delas manifestas em emoções como adorar a Deus, fé, amor, empatia, satisfação, triunfo, admiração, carinho, alegria dentre muitas outras. São as emoções que nos abraçam e se entrelaçam com a consciência do que é correto nos orientando em direção ao que é bom e nos motiva às boas obras! “Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade” ( 1 João 3: 18).
Mas também existem as emoções enganosas, que confundem causando sofrimento e dano. Essas são marcas da queda gravada em nossos corações. São a expressão daquilo que temos que rejeitar e que Cristo nos ensinou a resistir e a superar. Também são emoções: o medo, ansiedade, tristeza, inveja, antipatia, desejos desenfreados, ira, vaidade, soberba, remorso, dentre muitas outras. Se tais espécies de sentimentos dominarem o seu coração afetarão todo o seu ser. “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Provérbios 4: 23).
Por isso as Escrituras nos ensinam a instruir os nossos corações buscando o discernimento através da Palavra de Deus:
“Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema ao Senhor e evite o mal” (Provérbios 3: 5-7).
A Palavra orienta o coração a controlar-se: “Meu filho, guarde consigo a sensatez e o equilíbrio, nunca os perca de vista; trarão vida a você e serão um enfeite para o seu pescoço. Então você seguirá o seu caminho em segurança, e não tropeçará; quando se deitar, não terá medo, e o seu sono será tranquilo” (Provérbios 3: 21-24).
Ensina a resistir ao mal: “Aparta-te do mal e faze o bem; procura a paz e segue-a” (Salmos 34: 14).
E aconselha seguir a Cristo, deixando-se dominar pelo bem: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus” (Filipenses 4: 7).
Dessa maneira os nossos corações serão imunes às emoções errantes e teremos um “eu” renovado e conformado ao próprio Deus: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto” (Salmos 51: 10).