Recuperado de lesão e com forte preparação mental, Hugo Calderano sonha com medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio

O caminho de vitórias e o destaque no ranking mundial poderiam ter sido ameaçados não apenas pela pandemia de Covid-19, que prejudicou os calendários esportivos de todos os países, mas também por uma inesperada lesão no ombro. Mas, em vez de um obstáculo na preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, Hugo Calderano encarou a situação com outros olhos: uma oportunidade de rever a família, após um ano e meio de distância, e de aprimorar ainda mais o aspecto mental. Esse é, para ele, o principal trunfo dele para enfrentar até mesmo os favoritos chineses no caminho para uma inédita medalha no tênis de mesa.

“Tive uma lesão no ombro e precisei parar de treinar por mais ou menos um mês, o que atrapalhou um pouco a preparação. Por outro lado, pude voltar ao Brasil, repor as energias e ver a minha família, que não encontrava havia um ano e meio”, conta, garantindo estar bem, sem dores e de volta aos treinos com a intensidade e a qualidade que julga a mais adequada. “Estou me sentindo bem preparado e bem forte fisicamente”, resume.

Mesmo com a força física em dia, é na cabeça que ele aposta como um passo a mais para desbancar aqueles que, desde a estreia da modalidade em Seul 1988, conquistaram 28 das 32 medalhas de ouro em disputa nos Jogos Olímpicos. “Os chineses são realmente superiores na parte técnica, não tenho dúvidas disso. Sei que a minha técnica melhorou bastante desde que me mudei para a Alemanha, mas eles são superiores nesse quesito. É justamente pela parte mental que consigo competir com eles e ter alguma chance. É ali que consigo ter algo extra”, acredita.

Na busca por esse “algo a mais”, Calderano opta por blindar a mente e não dar ouvidos a opiniões contrárias. “É um grande desafio não só tentar ganhar dos chineses nos Jogos Olímpicos, mas também tentar desviar de todas as pessoas que estão à sua volta e todos os atletas que sentem que os chineses são imbatíveis. Na minha cabeça não são”, afirma, traçando aquele que acredita ser o melhor caminho para chegar à vitória.

“Sempre acreditei que posso ganhar, principalmente com meu estilo de jogo bem agressivo, um pouco diferente do que eles estão acostumados. Acho que no mundo não tem ninguém que tenha esse estilo de jogo como o meu. Fisicamente, sou um dos mais fortes e mais rápidos no circuito, e acho que esse é o caminho para ganhar dos chineses. Se eu ficar só na regularidade, só tentando colocar mais bolas na mesa do que eles, é quase impossível ganhar”, analisa. “Muitas vezes sou criticado por isso, ouço que deveria ter passado mais uma bola ali na mesa num lance ou outro, mas o que procuro é seguir o meu caminho. Pode ser que às vezes eu perca um jogo a mais por isso, por ter sido agressivo demais, mas tenho certeza de que, se quiser um dia conquistar grandes coisas, como uma medalha olímpica, vai ser por esse caminho, e é isso que eu vou continuar fazendo”.

Resultados expressivos

A maturidade do carioca contrasta com a idade. Hugo Calderano tem apenas 25 anos, mas já se tornou o maior nome da modalidade na história do país. Hoje em sétimo lugar no ranking mundial e presente no Top 11 desde julho de 2018, o jogador é bicampeão dos Jogos Pan-Americanos (Toronto 2015 e Lima 2019) e no evento peruano carimbou o passaporte para a segunda experiência olímpica da carreira. Há cinco anos, no Rio 2016, o atleta igualou a marca de outro Hugo, o Hoyama, ao chegar às oitavas de final da competição individual. Agora, como o quarto cabeça de chave, as condições de brigar por um resultado de destaque são outras.

“O meu objetivo com certeza é ganhar uma medalha. Os chineses são os grandes favoritos, mas há outros atletas muito fortes também brigando. Eu diria que uns 10 ou 12, além dos chineses, estão na disputa. Acho que, com a minha preparação, vou chegar a Tóquio bem e nessa briga por medalha”, calcula, contando ainda como, em sua mente, já antecipou diversas vezes a cena do torneio olímpico.

“Antes das competições, costumo fazer bastantes visualizações por conta própria. Muitas vezes me pego já imaginando como vou estar jogando nos Jogos Olímpicos. Acho que isso me prepara bastante mentalmente para a competição. Quando você já viveu aquele cenário na sua cabeça centenas de vezes, você já está mais preparado para as coisas que podem acontecer”.

Outra estratégia, em especial em tempos de pandemia e de menos eventos no calendário, é a de simular uma competição durante os treinos. “Claro que não consigo fazer isso todos os dias porque seria exaustivo, mas às vezes consigo simular uma competição no treino, na parte mental. Coloco na cabeça que ali vou dar 100%, o máximo. Acabo chegando à competição já preparado para o que der e vier”, comenta. Segundo o atleta, desde janeiro do ano passado ele já treina com a mesa e as bolinhas oficiais que encontrará em Tóquio.

Investimentos constantes

Durante todo o ciclo olímpico, Hugo contou com investimentos federais por meio do Programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Integrante da categoria mais alta, a Pódio, ele destaca o papel do recurso na preparação. “É muito importante ter a tranquilidade de se preparar da melhor forma possível. Muitas vezes a gente tem que investir não só tempo, mas dinheiro também em tratamentos. Quando tenho uma lesão aqui, muitas vezes tenho que ir a Munique ver um médico, um fisioterapeuta, um osteopata. Muitas vezes tenho que investir em passagens para ir para a Ásia treinar com os melhores do mundo. Tudo isso é muito importante para a nossa preparação”, conta.

Além dele, os outros sete integrantes da delegação brasileira de tênis de mesa, incluindo os reservas, também fazem parte do Bolsa Atleta. Gustavo Tsuboi, Bruna Takahashi e Caroline Kumahara são da categoria Olímpica, enquanto Vitor Ishiy, Eric Jouti, Jessica Yamada e Giulia Takahashi estão na Internacional. A modalidade é uma das 18, entre as 33 em que o Brasil tem vaga garantida, em que 100% dos convocados são beneficiados pelo programa de patrocínio. No ciclo entre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e de Tóquio, o investimento direto do Governo Federal no grupo de convocados foi de R$ 1,15 milhão. Na modalidade como um todo, foram R$ 10,3 milhões, que permitiram a concessão de 562 bolsas.

Fonte: Rededoesporte




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