Há cinco anos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciava um time de dez nomes que, pela primeira vez, integraria uma equipe de refugiados em uma edição de Jogos Olímpicos. Do Rio 2016 para cá, o time aumentou em quase três vezes. Nesta terça-feira (08.06), a entidade divulgou que 29 atletas farão parte do grupo de refugiados que competirá nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, em 12 modalidades.
Selecionados entre os 56 apoiados pelo COI por meio de um programa de bolsas, os convocados representarão nos Jogos um sinal de esperança para o mundo. “Falo em nome de todo o Movimento Olímpico quando digo que mal podemos esperar para encontrá-los pessoalmente e vê-los competindo em Tóquio”, disse o presidente, Thomas Bach, durante a cerimônia virtual de anúncio dos convocados. “Quando todos se reunirem no dia 23 de julho, isso vai mandar uma poderosa mensagem de solidariedade, resiliência e esperança para o mundo”, acrescentou.
“Sobreviver à guerra, à perseguição e à ansiedade do exílio já os torna pessoas extraordinárias, mas o fato de agora também se destacarem como atletas no cenário mundial me enche de imenso orgulho. Mostra o que é possível quando os refugiados têm a oportunidade de aproveitar ao máximo seu potencial”, destacou o alto comissário da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi.
Os 29 atletas competirão pela bandeira Olímpica. Na cerimônia de abertura dos Jogos, a equipe será a segunda a desfilar, logo após a Grécia. Antes de embarcar para o Japão, a delegação se reunirá em Doha, no Catar, nos dias 12 e 13 de julho. Já em Tóquio, os competidores ficarão hospedados na Universidade Waseda, contando com instalações de treinamento, antes de se mudarem para a Vila Olímpica. A chefe de missão da equipe será Tegla Loroupe, ex-recordista mundial de maratonas.
Convocados
A escolha dos atletas refugiados que competirão no Japão foi, segundo o COI, baseada em uma série de critérios, como desempenho esportivo e o status de refugiado confirmado pela ACNUR. Também foram considerados fatores como uma representatividade equilibrada entre esportes, gêneros e regiões.
Entre os 10 atletas que competiram no Rio 2016, seis estarão também em Tóquio: a nadadora Yusra Mardini, o judoca Popole Misenga e os corredores Anjelina Nadai Lohalith (1.500m), James Nyang Chiengjiek (800m), Paulo Amotun Lokoro (1.500m) e Rose Nathike Likonyen (800m). Entre eles, Popole Misenga já é um conhecido da torcida brasileira.
Nascido na República Democrática do Congo, o judoca mora no Rio de Janeiro e treina na equipe do Instituto Reação. Na Arena Carioca 2, em 2016, ele conseguiu vencer a primeira luta, mas foi derrotado na sequência pelo então campeão mundial, o sul-coreano Donghan Gwak. “Meu nome já entrou na história olímpica. Um refugiado estava aqui e ganhou uma luta. E lutou também com o campeão do mundo. Para mim é ótimo”, disse na ocasião.
Popole fugiu da guerra ainda aos sete anos, deixando três irmãos para trás. A mãe havia sido morta. Foi em 2013, contudo, quando foi convocado para o Mundial no Rio de Janeiro, que decidiu que ficaria no Brasil, depois de ter documentos, dinheiro e até quimonos roubados. Depois de vagar pelas ruas por alguns dias, falando apenas francês, conseguiu a ajuda de um angolano, que o encaminhou para uma entidade de auxílio a refugiados. Em seguida, foi acolhido pelo Instituto Reação.
Outro relato de sobrevivência é o da nadadora síria Yusra Mardini. Na fuga, em 2015, ela e a irmã passaram pelo Líbano e pela Turquia, onde embarcaram em um bote rumo à Grécia. O motor, contudo, parou de funcionar. Na tentativa de salvar os cerca de 20 refugiados a bordo, as irmãs e outra mulher, as únicas que sabiam nadar, mergulharam e empurraram o bote até a costa. De lá para cá, Yusra conseguiu refúgio na Alemanha e, em 2016, disputou as provas de 100m livre e 100m borboleta.
Fonte: Ministério da Cidadania / Comitê Olímpico Internacional (COI)