Com duas Paralimpíadas no currículo – Londres 2012 e Rio 2016 – e mais de dez anos de seleção brasileira, a pivô Paola Klokler, do basquete em cadeira de rodas, buscou alternativas para tentar manter o ritmo de treinos, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus (covid-19).
“Eu comecei sozinha mesmo. Montei uns pesos de cimento e usei até garrafas de água cheias de areia, latas de tinta. Enfim, dei um jeito”, relata Klokler, que nasceu com uma má-formação no fêmur esquerdo que prejudicou o desenvolvimento da perna.
É por meio do Whattsapp que a atleta, de 29 anos, recebe o plano de treinos da preparadora física Suelen Serral. “O atleta deve ser saudável. E não só corporal, mas também mentalmente. A parada para o pessoal que tem esse hábito de estar sempre em contato com o esporte é pior. E a manutenção dessa rotina é saudável também para outros órgãos do corpo. Não pode ficar em ‘estado de tranquilidade’, como costumamos chamar”, explica Serral.
“Acabei comprando também uma tabela de basquete e instalei aqui em casa. Chamei a Gabi (Gabriela Oliveira), minha colega de seleção e de time (Aedrehc). Treinamos juntas a parte de academia com a orientação da Suelen e a parte técnica mesmo, de bola, com a cadeira”, descreve a jogadora, que mora em Guarulhos, na região metropolitana da capital paulista.
A rotina diária de treinos é seguida à risca, segundo a ala armadora Gabi, de 19 anos. “Pela manhã, musculação. Academia mesmo, levantando peso. À tarde, mais a parte específica do basquete. Tem também o trabalho de análise de jogos com a equipe, por videoconferência. É uma rotina que vai das 7h até umas 20h. A ideia é dar uma espairecida nessa quarentena. Está sendo muito bom”, explicou Gabi, que estreou na seleção ano passado, nos Jogos Parapan-Americanos de Lima e ajudou a equipe na conquista da medalha de bronze.
A parceira de time é a maior incentivadora de Gabi. “Ela é uma das atletas mais empolgadas e dedicadas nos treinos. Tem pensamentos parecidos com os meus em relação ao esporte. Então, achei que essa era a melhor forma de passar por essa pandemia. Treinando com ela e aguardando o reinício dos jogos e dos campeonatos”, completou Klokler.
Tênis de Mesa
A gaúcha Victória Strassburger tem apenas 14 anos e pratica tênis de mesa há três. Atleta da seleção brasileira infantil, ela também encontrou uma maneira de não parar de treinar, mesmo durante a quarentena em Ivoti, cidade da região metropolitana de Porto Alegre. “Estou treinando dentro de casa. Conseguimos improvisar um espaço aqui na garagem”, contou Victória, ou simplesmente Vicky, como é conhecida entre os colegas.
A adolescente contou com o apoio dos pais para viabilizar a estrutura dentro de casa. “Eles me ajudam muito. Incentivam demais. Minha avó também. Ela costurou alguns panos azuis para forrarmos as paredes, já que elas têm quase a mesma cor da bolinha”, detalha Vichy.
Como os clubes da região estão fechados, alguns colaboraram transferindo equipamentos para a casa da atleta. “Um deles levou uma mesa e um “rebatedor” para lá. Outro emprestou os pisos emborrachados. O Centro está praticamente completo”, afirma o técnico Jorge Fanck, que também coordena o projeto Diamantes do Futuro, da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM).
Atualmente, Fanck acompanha os treinos da jovem às terças-feiras e aos sábados. “Sou grata a todos eles por estar conseguindo manter minha rotina de treinamento”, diz Vicky, que antes da pandemia praticava na Sogipa.
Há aproximadamente um mês, os treinos no clube da capital gaúcha retornaram, com limitações impostas pelos órgãos locais de saúde. Mas a atleta e os familiares decidiram manter os trabalhos apenas na garagem da própria casa por uma preocupação bem justificável. “Desde que voltei do Peru nem saí de casa ainda. Como não está havendo competições, eu e minha família optamos por não retornar aos treinos no clube, por enquanto”.
Convocada pela seleção brasileira infantil, Vicky viajou para Lima em março passado para competir no Campeonato Sul-Americano e também em uma etapa do Circuito Mundial de Tênis de Mesa. E as lembranças da experiência seguirão com ela por muito tempo, devido aos efeitos do novo coronavírus.
“Foi bem no início da pandemia. Surgiram boatos de que dois atletas tinham testado positivo. A competição quase foi cancelada. Mas a organização conseguiu autorização para seguir. Fecharam o ginásio e jogamos sem ninguém assistindo. Só atletas e técnicos. Naquele sábado, o clima no caminho entre hotel e ginásio estava bem diferente, com filas em supermercados, prateleiras vazias, gritos de ‘corona, corona'”, recorda Vicky.
“A verdade é que joguei e voltei logo para o hotel para ficar confinada junto com todos os brasileiros até os nossos voos, que seriam só no final do outro dia, no domingo. A equipe de São Paulo saiu antes e eu tive que ficar mais uma hora sozinha no aeroporto. Tinha risco de fechamento de fronteiras. Meus pais estavam tensos em casa e só relaxaram quando mandei foto, já dentro do avião. Fecharam as fronteiras à meia-noite e, graças a Deus, eu ainda consegui embarcar. Consegui trazer duas medalhas, fiz ótimos jogos, mas, com certeza, foi o vírus que tornou esta experiência inesquecível”, completa.
Fonte: Assessoria