Seguindo tendência mundial, como uma das saídas para a crise econômica pós-pandemia, Juiz de Fora atua para responder às mudanças de comportamento e aos novos modelos de negócios que se apresentarão em curto espaço de tempo, em um cenário em que economia e sustentabilidade se mostram indissociáveis. A resposta não começa do zero. Nesta sexta-feira, 5, “Dia Mundial do Meio Ambiente”, serão apresentadas as primeiras entregas do “Programa Produtor de Águas” (PPA) e da “Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata” (PbioZM), em reunião a ser transmitida no facebook da Prefeitura: facebook.com/JuizdeForaPJF, às 10 horas. O ato terá participação do prefeito Antônio Almas, representantes da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), e parceiros nacionais e internacionais da PbioZM, as empresas Geoflorestas, Acrotech, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Governo britânico, Green Fuels, Gol Linhas Aéreas, Ubrabio e Secretaria Nacional de Aviação Civil.
“Este é um momento de fundamental importância na questão da sustentabilidade, não só em Juiz de Fora, como também na região, num processo universal de uma nova realidade econômica no pós-pandemia”, afirmou Antônio Almas. “Neste momento de tantos desafios, nossa cidade e região demonstram seu vigor, energia e determinação, ao preparar e concretizar alternativas, juntamente com nossos parceiros, para o enfrentamento, que será inevitável, diante destas novas dificuldades que já se prenunciam na economia mundial, com sérias conseqüências no Brasil e, é claro, em nossa região. Cientes destas responsabilidades em relação a este novo tempo, e dentro de nossas convicções políticas, sociais e ambientais, estamos determinados a vencer mais este desafio econômico e ecológico, de olho no presente e nas novas gerações. E, o que é mais importante, neste momento de crise e de insegurança, estes programas geram perspectivas de esperança num futuro bem melhor para todos”, acrescentou o prefeito.
Entre as ações que serão apresentadas está o início da recuperação ambiental de 8,6 hectares de área degradada em Juiz de Fora, às margens da Represa “Dr. João Penido”, com o plantio de 600 mudas de macaúba e 14.300 de outras espécies nativas, representando a primeira ação do PPA no Município. A iniciativa é fruto da doação de plantas e serviços da empresa Geoflorestas, parceira da Plataforma. Junto a elas, Juiz de Fora passa a contar com duas unidades técnicas de demonstração (UTDs), que considera a integração da macaúba com outras espécies nativas e o plantio de agricultura sintrópica (forma de cultivo que conserva a mata natural, associando-a à plantação de culturas alimentares) com consórcio de feijão e milho.
Para a recuperação ambiental e implantação das UTDs, foram contratados produtores rurais da comunidade vizinha, buscando envolvê-los e transformá-los em fiscais desta área recuperada, além de treiná-los em técnicas de manejo agrícola sustentáveis, visando transformá-los em multiplicadores do projeto. Historicamente, todo este espaço recuperado sempre sofreu com queimadas e degradação.
O secretário de Planejamento e Gestão da PJF, Rômulo Veiga, explicou que, além de criar alternativa de renda para esses produtores, a implantação do modelo, que integra lavoura, pecuária e floresta, associado às ações de recuperação ambiental, “é oportunidade de dinamizar o potencial de produção de alimentos no Município, que, mesmo apresentando 65% de área rural, não consegue atender a 1% da demanda local”. Assim, esses produtores poderiam passar a ser, inclusive, fornecedores para o abastecimento de escolas e restaurantes populares da cidade,
A importância da recuperação da área
André Wilson da Silva é pedreiro e, devido à pandemia, estava sem prestar serviços: “Apareceu esse projeto no momento em que estávamos precisando, e tem sido bem útil para a gente. Algo que chegou em nossa comunidade e vai valorizar o bairro, retribuir a natureza, trazendo empregos”. Filho de produtor rural, ele se orgulha de participar do projeto: “Tudo o que a gente planta é para o nosso consumo, tudo tirado da terra”.
Emerson Silva de Jesus tem 20 anos e já trabalhava como agricultor: “Estou aqui há um mês e acho o projeto muito importante, com a preservação da natureza, além de valorizar a comunidade e trazer emprego”. Daniel Luiz, que acabou de chegar, acredita que haverá transformação da realidade local: “Acompanho o projeto desde que começou. É muito bom para a gente contribuir com algo que vai trazer vida para o planeta. Acredito que esse projeto veio para fazer uma mudança radical, até mesmo na visão das pessoas. Aqui é um pasto vazio, e futuramente estará cheio de árvores”.
Histórico
Criado a partir da Agenda de Desenvolvimento Econômico da Zona da Mata, que conta com a participação da PJF desde 2011, o Projeto “Macaúba Zona da Mata” tem o objetivo de promover a recuperação ambiental de áreas degradadas do Município. Ele tem como base a plantação da palmeira macaúba com outras espécies nativas, agricultura sintrópica e pecuária de leite e corte.
A elevada produtividade de óleo e proteína da macaúba, associada à sua alta capacidade em fixar água no solo, promovendo a recarga hídrica dos mananciais, transformou o projeto em grande oportunidade para o desenvolvimento sustentável regional. Entre seus objetivos está a geração de empregos e aumento da renda, bem como a recuperação de mananciais e da Mata Atlântica.
O potencial do projeto despertou o interesse de vários municípios da Zona da Mata, que celebraram, em 5 de junho de 2017, um “Protocolo de Intenções”. Este documento tem como objetivo apoiar a recuperação de 130 mil hectares de áreas degradadas na região, utilizando sistemas de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), a partir do consórcio de macaúba e outras espécies nativas.
“Plataforma de Bioquerosene e Renováveis”
Mas o potencial da macaúba vai além. Ao mesmo tempo em que o projeto se desenvolve na Zona da Mata, a aviação civil internacional busca alternativas para promoção da descarbonização do setor, imposta pelo “Esquema de Redução de Emissões da Aviação Civil” (Corsia, na sigla em inglês), das Nações Unidas.
No Brasil, a chamada “Plataforma Brasileira de Bioquerosene” vinha testando, entre algumas oleaginosas, o óleo da macaúba, para produção de querosene renovável de aviação. Apresentando as maiores florestas de macaúba do país, o Governo de Minas criou, em 2014, a “Plataforma Mineira de Bioquerosene”.
Devido à liderança da Zona da Mata no “Projeto Macaúba”, foi criada, em 5 de junho de 2018, a “Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata”. Seu objetivo é o de desenvolver, na região, cadeia produtiva integrada, para produzir bioquerosene de aviação e diesel verde (HVO), da agricultura até a asa do aviação, utilizando a macaúba como principal insumo, bem como viabilizar a implantação, em Juiz de Fora, da primeira biorrefinaria no país destinada a produzir, de forma regular, os combustíveis .
Programa “Produtor de Águas”
Para incentivar o produtor rural a investir em ações que ajudem a preservação, a Agência Nacional de Águas (ANA) criou o Programa “Produtor de Águas” (PPA). Ele usa o conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que estimula os produtores a investirem no cuidado do trato com as águas, recebendo apoio técnico e financeiro para implementação de práticas conservacionistas. Assim, além do ganho econômico de seu trabalho, o produtor melhora a quantidade e a qualidade da água da região.
Em Juiz de Fora, o PPA foi instituído pela Resolução Municipal 147/2019, voltado para recuperação das áreas degradadas, localizadas nas bacias de contribuição hídrica dos mananciais da Represa “Dr. João Penido” e do Ribeirão do Espírito Santo. Tudo isto a partir de investimentos públicos e privados, realizados no contexto da Lei Municipal do Pagamento por serviços Ambientais (nº 13.294/2016).
A convergência dos objetivos do PPA e da “Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata” transformou o programa municipal em exemplo nacional e internacional de economia circular, alinhado aos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis” (ODS), estabelecidos pelas Nações Unidas.
Fonte: Assessoria