Se Juiz de Fora não tivesse optado pelo isolamento social a partir de 19 de março – quando o prefeito Antônio Almas publicou o primeiro decreto, adotando normas de combate à pandemia – a cidade teria, hoje, cerca de 2.600 casos prováveis de coronavírus. Com a adoção do isolamento, 76 leitos de enfermaria e 11 de unidades de terapia intensiva (UTI) deixaram de ser ocupados, até o momento, por pacientes infectados pela covid-19.
Os dados foram revelados por meio da “Modelagem Epidemiológica da Covid-19 em Juiz de Fora”, desenvolvida pelo coordenador do programa de pós-graduação em Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernando Antônio Basile Colugnati. O especialista vem utilizando, semanalmente, modelo matemático que permite traçar diferentes cenários da pandemia, conhecido como “Seir” – que modela “suscetíveis, expostos, infectados e recuperados”. Esta modelagem tem como objetivo principal gerar cenários que auxiliem o poder público e unidades de saúde a se prepararem para o combate ao avanço da epidemia da covid-19.
“Simulamos diferentes cenários de intervenção a partir de 19 de março, data do primeiro decreto. Fizemos cenários baseados no relatório do Imperial College de Londres, assinado por 50 cientistas, incluindo grupo relacionado à Organização Mundial da Saúde (OMS). Usamos quatro cenários, onde havia reduções em torno de 40%, 70% e 80%. A curva de Juiz de Fora, agora, está batendo, como se nossa intervenção tivesse reduzido a taxa de 80% de transmissão”, explicou o professor.
Apesar dos números positivos, Colugnati alertou: “Depois destas primeiras duas semanas, as pessoas começaram a relaxar e a saírem mais. A cidade hoje está menos isolada do que antes, e talvez esta curva volte a subir. Teríamos, hoje, um quadro muito pior, se não houvesse tido isolamento. É necessário que se reforce isso para a população. É essencial permanecermos um pouco mais em isolamento, para que esta curva não atinja pico muito grande e não afogue nosso sistema de saúde. Tem surtido efeito e temos que manter um pouco mais. Por quanto tempo? Não temos como prever. As coisas são observadas de acordo com que a epidemia vai mostrando os números. Mas, certamente, precisamos de mais isolamento”.
Epidemia dinâmica exige revisão diária dos dados
Segundo o pesquisador da UFJF, o modelo utilizado por ele gera cenários prováveis: “Os resultados aqui apresentados devem ser revistos periodicamente, ao menos uma vez por semana, ou sempre que ocorra algum fato relevante em termos de informações sobre intervenções populacionais, gargalos nos serviços ou eventos correlatos. Epidemias com este tipo de vírus possui propriedades exponenciais. Em termos práticos, isso significa que pequenas mudanças em contagens de casos e datas de ocorrências, ou qualquer outra perturbação, podem gerar cenários completamente diferentes, mesmo para médio prazo, algo como 15 dias”.
Fonte: Assessoria