Um dia depois de anunciar, ao lado do governo japonês, a decisão de adiar para 2021 os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, concedeu, nesta quarta-feira (25.03), uma entrevista coletiva por meio de vídeoconferência.
O dirigente detalhou os bastidores sobre como o COI e o governo japonês tomaram a decisão de, pela primeira na história dos Jogos Olímpicos da era moderna, adiar a competição. Ele falou sobre os desafios que virão para que o megaevento se realize no ano que vem, inclusive referentes à Vila Olímpica.
Bach comentou que espera que os contratos de patrocínio com o COI referente aos Jogos de Tóquio 2020 que expiram no fim deste ano sejam mantidos para 2021 e, diante da incerteza de que o cenário atual global em relação ao coronavírus possa não estar completamente superado até o verão de 2021, afirmou que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos só serão realizados caso seja possível garantir um ambiente seguro para todos os envolvidos.
A decisão de adiar os Jogos
O que nos levou a tomar essa decisão foram as consequências da disseminação dinâmica do coronavírus. Desde o início, comunicamos que estávamos monitorando a situação dia a dia, 24 horas por dia, e que nos adaptaríamos a quaisquer mudanças e seguiríamos os conselhos da Organização Mundial da Saúde (OMS). No início da crise, tínhamos um foco claro nos acontecimentos no Japão. Tínhamos que avaliar se o Japão estaria em condição de oferecer um ambiente seguro para todos os participantes. Então, esse foco mudou cada vez mais para o cenário internacional. Pudemos ver, por um lado, os progressos no Japão, o combate ao vírus e a eficiência das medidas adotadas. Por outro lado, o vírus estava se espalhando tão rapidamente que se tornava cada vez mais uma questão de saber se o mundo poderia viajar ao Japão e se o Japão realmente podia se dar ao luxo de convidar o mundo no espírito de contenção do vírus.
Essa situação mudou muito rapidamente, por isso estávamos adaptando nossos cenários, que sempre discutimos com o Comitê Organizador: medidas mitigadoras, quarentena, muitas outras questões. Chegamos então à situação em que, por um lado, estávamos bastante confiantes de que, ao adaptar essas medidas de proteção e mitigação, o Japão poderia, daqui a quatro meses, organizar os Jogos. Ao mesmo tempo, nossas dúvidas estavam crescendo se o mundo estaria pronto para esses Jogos Olímpicos.
Tivemos que resolver a situação. O Japão estava confiante em seguir em frente. Então vimos, no domingo de manhã (22.03), os números da África, onde obviamente estamos no início de um surto, com muitos países sendo afetados. E foi assim que tudo começou em todos os lugares. Vimos os desenvolvimentos dinâmicos na América do Sul, nos Estados Unidos e em outros países. E foi nesse momento que convoquei uma reunião de emergência do Conselho Executivo do COI, com o objetivo de abrir uma discussão com nossos anfitriões, parceiros e amigos japoneses sobre o adiamento dos Jogos.
Como não conseguimos administrar tal adiamento sem o Comitê Organizador e com o apoio total do Japão, liguei para o Presidente Mori, do Comitê Organizador, antes desta reunião do Conselho Executivo. Ele entrou em contato com o primeiro-ministro Abe (primeiro-ministro do Japão, Abe Shinzo). O resultado dessa conversa foi que o Comitê Organizador e o Japão estavam prontos para discutir diferentes cenários, em particular um adiamento.
Ele ouviu nosso compromisso de que um cancelamento não seria um daqueles cenários a serem considerados. Tivemos, então, a reunião do Conselho Executivo na tarde de domingo, o que resultou em abrir a porta para estudar o adiamento. Horas após essa reunião, novas informações alarmantes estavam chegando. Vimos cada vez mais restrições de viagens. Também ouvimos dizer que o vírus estava começando a se espalhar em várias ilhas da Oceania.
Na manhã seguinte, recebemos uma declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) que foi bastante alarmante. O Diretor-Geral da OMS disse que a disseminação estava se acelerando e ele queria ter uma ligação de emergência com os líderes do G20 para resolver essa situação.
Isso nos levou a entrar em contato com o Comitê Organizador novamente, para informá-los de nosso desejo de propor uma decisão sobre o adiamento dos Jogos a ser tomada já na ligação agendada para o dia seguinte, entre o primeiro-ministro Abe e eu. Durante essa ligação, o primeiro-ministro, em suas observações introdutórias, sugeriu que o COI decidisse adiar os Jogos.
Chegamos à conclusão de que essa decisão não poderia ser unilateral pelo COI. Em vez disso, tinha que ser uma decisão conjunta, porque, para organizar os Jogos de sucesso, precisamos estar em pleno acordo e precisamos estar unidos. Essa foi a sequência de nossa tomada de decisão. Ele seguiu nossos princípios, desde o início, de adaptação à situação por meio do monitoramento. Também seguimos os princípios de colocar a saúde e a segurança dos atletas e de todos os envolvidos nos Jogos em primeiro lugar e contribuir para a contenção do vírus.
Arrependimentos por não tomar a decisão antes
Não (me sinto arrependido por não tomar a decisão de adiar os Jogos antes), porque esse era o compromisso e é o compromisso com nossos parceiros japoneses. Eu tentei explicar que o foco estava mudando. O que expressamos foi a confiança de nossos parceiros e amigos japoneses na organização dos Jogos Olímpicos em julho, em condições seguras. Para isso, estávamos comprometidos e continuamos comprometidos com os Jogos adiados. O que mudou foi a situação mundial da saúde. Poderíamos ter decidido um cancelamento por conta própria. Mas para adiar, precisávamos do total comprometimento de nossos parceiros japoneses. Isso é o que procurávamos com nossa abordagem e foi o que alcançamos, possibilitando que os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 estejam acontecendo e não precisem ser cancelados. Podemos dar aos atletas a esperança e garantia de que seu sonho olímpico ainda pode se realizar, mesmo com um atraso.
Nova data para os Jogos em 2021
Essa é uma pergunta desafiadora e, após o acordo com o primeiro-ministro Abe, solicitamos à nossa Comissão de Coordenação, juntamente com o Comitê Organizador, que a estudasse em detalhes. Eles agora formaram uma força-tarefa com um nome que considero muito bom, com um bom espírito. A força-tarefa se autodenomina “Aqui vamos nós”. Isso precisa de consulta, antes de tudo, com as 33 Federações Internacionais. Acho que teremos uma conferência telefônica amanhã (nesta quinta-feira, 26.03). Como primeiro passo, temos que ver quais são as opções. E depois de consultá-los, também precisamos levar em consideração o calendário esportivo dos Jogos Olímpicos e muitas outras questões. Acho que devemos chegar a uma solução o mais rápido possível, mas a primeira prioridade deve ser a qualidade dessa decisão e a capacidade de levar em consideração a participação de todas as partes interessadas: os Comitês Olímpicos Nacionais, os atletas, os parceiros. Obviamente, o Comitê Organizador também é fundamental nisso.
O acordo é que queremos organizar esses Jogos Olímpicos o mais tardar no verão de 2021. Isso significa que a força-tarefa pode considerar uma visão mais ampla e isso não se restringe apenas aos meses de verão. Todas as opções estão na mesa antes ou durante o verão de 2021.
Fonte: Rede Nacional do Esporte