*Caroline Delgado e Sávio Duque
Lama, destruição e indignação. Três palavras que podem definir o sentimento da população de Brumadinho. Na última sexta-feira, 25, a barragem I do Córrego do Feijão se rompeu. Até agora, 65 pessoastiveram suas vidas perdidas, 31 delas já foram identificadas. Um laço de solidariedade foi criado em prol da cidade de um pouco mais de 30 mil habitantes, que fica no Sudeste de Minas Gerais. A reportagem do Diário Regional conversou com pessoas que foram até o local, que relataram uma cena, que não podia ser diferente, de muita tristeza e mobilização.
“O cenário é horrível, uma extensão toda coberta de lama. Conversei com os moradores e eles falaram que o local tinha mato e árvores”, resume a jornalista Mônica Cury sobre a sua chegada em Brumadinho. Ela e mais alguns amigos, saíram de Juiz de Fora nesse domingo, 27, para levar algumas doações.
A jornalista conta que no momento em que caminhavam pela lama, os voluntários encontraram um veículo em meio a dejetos. “Estava andando pelo local, afundando o pé, foi quando acharam um ônibus que estava cheio de gente, pelo que eu entendi, pois não fui olhar porque não consegui. O cheiro era muito forte”, descreve.
“A gente viu muita tristeza”, comenta a videomaker e diretora de fotografia, KatianaTortorelli. Ela também esteve no local da tragédia no último domingo, 27. “Parecia cena de filme de fim do mundo. É uma lama bem esquisita, vermelha, e tinha um cheiro muito forte. Casas que as pessoas viviam, tomavam café, foram destruídas e agora está tudo enterrado debaixo da lama”, relata.
Ela conta que foi até o local não só para registrar algumas imagens, mas também para entender mais sobre o que é preciso ser feito para ajudar as pessoas envolvidas na tragédia.Através do site https://www.agirporbrumadinho.org/, que Katiana ajudou a criar, foram desenvolvidas com objetivo de ajudar Brumadinho. “Eu quero também entender como ajudar mais pra frente. Agora está muito tumultuado. Eu conheci pessoas, peguei contatos e quero poder perguntar ‘e aí, está tudo bem?’”, comenta.
Ainda no site é possível encontrar dados referentes à tragédia. Além disso, está sendo compartilhada uma hashtag através das redes sociais: #AgirPorBrumadinho.
“Resgate”
No último domingo, 27, o fotojornalista Otávio Martins foi para Brumadinho com um grupo de três pessoas para levar algumas doações e para ser voluntário nas buscas por corpos e vítimas. “Chegamos à tarde na cidade e o clima estava bem ‘tenso’. Tinham acabado de localizar e buscar dois corpos e não deixavam a imprensa e os moradores chegaram perto do local onde as pessoas eram levadas. Isso gerou um transtorno imenso e revolta da população”.
O fotojornalista ainda conta que logo que chegaram em Brumadinho e deixaram as doações eles foram auxiliar nas buscas, todos, como voluntários. “A lama estava muito molhada o que impossibilitava a retirada de animais e o acesso das pessoas. Porém, conseguimos com tapumes e dificuldade chegar até um animal que estava vivo e isolado”. Foi nesta hora que o grupo sentiu um cheiro de carne muito forte e desconfiaram que algo poderia está ali. “Começamos a cavar, eu e mais sete voluntários, até que por fim encontramos um segundo ônibus soterrado”, conta a experiência em meio ao caos.
No decorrer da entrevista, Otávio resumiu o seu sentimento diante de toda a tragédia. “Disso tudo só consigo sentir raiva e tristeza. Raiva das pessoas que não se importam com vidas, que deram aval para que uma mina funcionasse e tratam as pessoas como números.Tristeza por todas as inúmeras vítimas que ainda estão sob a lama”, finaliza.
Tragédia
A barragem da Mina CórregoFeijão, da Vale, em Brumadinho, se rompeu na tarde de sexta-feira, 25. Até a manhã dessa terça-feira, 65 mortes já haviam sido confirmadas, 288 pessoas – entre funcionários da Vale, terceirizados e moradores de Brumadinho – estavam desaparecidas.