Na terça-feira, 1º de janeiro de 2019, tomou posse em Brasília, o 38º presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro (PSL). Aos 63 anos, Bolsonaro é um capitão reformado do Exército que atuou por quase três décadas como parlamentar e que agora chega ao poder em um momento de grande polaridade política e grandes desafios para o país.
O atual presidente tem como uma de suas pautas voltadas para a área da segurança pública, a discussão a respeito da liberação da posse de armas e a proteção de agentes de segurança, como policiais e integrantes das Forças Armadas. Ao longo de sua trajetória política, seu discurso foi e é baseado na “defesa da família”. Com 57,8 milhões de votos, o atual presidente chega ao Planalto levando a esperança de seus eleitores “cansados de um governo corrupto”.
Em seu discurso de posse, Jair Bolsonaro destacou a união do povo brasileiro, compromisso de rigor econômico e defendeu temas ligados à religião e à família. Ele também estabeleceu suas prioridades, como a reforma da Previdência e a redução da maioridade penal. Bolsonaro também reafirmou as bandeiras apresentadas na campanha eleitoral, defendendo um “pacto nacional” e dizendo que pretende “restabelecer a ordem” no Brasil. O cientista político Paulo Roberto Leal analisa o discurso de posse do atual presidente de forma contraditória. “Os dois discursos foram profundamente contraditórios. Se no discurso no Congresso ele fala em pacto nacional, no discurso no parlatório quando efetivamente toma posse e fala à multidão, ele reafirma todo um discurso de desqualificação da oposição, fala em erradicar socialismo como se tivéssemos sido socialistas um dia. Ou seja, há aqui uma enorme contradição nas falas do Bolsonaro como aconteceu durante toda a campanha”, avalia. Quanto aos dois discursos, Leal comenta que nos próximos dias veremos qual deles será implementado.“Os finais são muito ruins, do ponto de vista do Presidente da República não ser capaz de fazer um efetivo sinal de pacificação da sociedade e, ao contrário, fazendo um discurso de posse como se ainda estivesse em campanha”, disse.
Mais empregos e melhores condições nas áreas da segurança, saúde e educação, são alguns dos pontos mais pedidos e comentados pelos eleitores de maneira geral, que tiveram alguns atendimentos nesses setores prejudicados, e que são partes fundamentais do dia a dia da população. Para o cientista político, o caminho seguido pelo atual presidente não é favorável para a resolução ou um avanço positivo desses problemas.“Na prática o que o Governo tem proposto, em alguma medida, aprofundará o problema. Por exemplo, a primeira notícia do Ministério da Educação é que você vai desmontar a secretaria que cuida de diversidade, alfabetização e voltar a métodos que não são usados há trinta anos. As medidas que têm sido anunciadas para a economia para gerar emprego estão no sentido de precarizar ainda mais as relações de trabalho. Liberar ou facilitar posse de arma, em todo o mundo, demonstra ser a contramão do combate a violência. Mais armas circulando implica mais violência. Acho que há um conjunto de propostas do novo governo que em alguns casos não apenas não resolverão, como os aprofundarão”, disse.
Diante do cenário que será enfrentando pelo novo presidente, entre as primeiras medidas a serem anunciadas pelo Governo, espera-se que estejam relacionadas a destravar a economia. Na avaliação deste cenário, de acordo com o também cientista político, Fernando Perlatto, o governo Bolsonaro vem propondo e anunciando mudanças neste setor que são diferentes do que vimos em governos anteriores.“O governo Temer já significou em uma certa medida uma mudança em relação aos próprios governos anteriores.Não apenas a administração do PT, mas a própria administração do Governo Fernando Henrique. Quando você tem, do ponto de vista econômico, a aprovação daquilo que se chamou de PEC dos gastos, você já teve uma mudança substantiva do ponto de vista da forma de como se pensava a economia. O governo do Bolsonaro, pelo menos o que vem sendo anunciado, parece que vai radicalizar e ir ainda mais além nessa pauta ‘mais ortodoxa’”, disse. Perlatto ainda diz que há uma dificuldade concreta em se transformar discurso em prática. “Todas as pautas de política econômicas mais significativas do Governo Bolsonaro dependem de aprovação do Congresso. Então, uma questão que ainda está em aberto é para ver se esse governo vai conseguir conquistar uma maioria no Congresso que permita que ele aprove essas reformas”, disse.
Conforme já divulgado, para 2019, atual governo terá à disposição um Orçamento de R$3,38 trilhões para administrar. Desse valor, são previstos apenas R$137,7 bilhões para despesas discricionárias, manejáveis. Já o déficit primário atinge R$139 bilhões, no cenário em que a dívida pública, entre amortizações, juros e refinanciamento, chega a 42,1% do Orçamento da União, somando R$1,42 trilhão.