Dia Nacional da Consciência Negra: racismo ainda é realidade no Brasil

No Brasil, o dia 20 de novembro é marcado como o Dia Nacional da Consciência Negra. A data, que é celebrada há mais de 40 anos por ativistas do movimento negro, faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares que representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Em 2003, foi incluída no calendário escolar. O Dia da Consciência Negra começou a ser discutido no governo Lula, no entanto foi somente no governo de Dilma Rousseff e através da Lei nº 12.519 de 10 de novembro de 2011, que essa data foi oficializada.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, Pnad, entre 2016 e 2017, o número de brasileiros que se declararam negros subiu 6%. A alta foi de 1%, totalizando 96,9 milhões.O aumento vem sendo observado desde 2015, quando os brancos deixaram de ser maioria no Brasil. Esse mesmo dado comparado com o início da realização da pesquisa em 2012, os autodeclarados pretos cresceram 21,8%. Já o total de pardos aumentou 7,7%, e o de brancos caiu 2,4%. O dia 20 de novembro serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. A data enfatiza as pautas que são discutidas durante todo o ano pelos movimentos negros, sendo uma delas o racismo.De acordo com dados doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente o índice de brasileiros considerados negros e pardos somam quase 55% da população. Mesmo negros representando a maioria, o racismo continua sendo uma realidade no país. Martvs Chagas, sociólogo e coordenador do Movimento Convergência Negra, acredita que o país ainda não tem consciência da importância do povo negro. “É um momento muito delicado da sociedade brasileira, onde vemos a ascensão de grupos que condenam as políticas públicas que foram implementadas nos últimos anos, como políticas de cotas, políticas de ação afirmativas, e a condenação dessas políticas farão com que esses 130 anos de abolição inacabada possam continuar por muitos e muitos anos”, disse.

Os dados de cor ou raça apresentados pelo IBGE mostram que o Brasil ainda está longe de se tornar uma democracia racial. Em média, pessoas brancas têm os maiores salários, sofrem menos com o desemprego e são maioria entre aqueles que frequentam o ensino superior, por exemplo. Já nas análises dos indicadores socioeconômicos da população preta e parda, assim como os dos indígenas, costumam ser bem mais desvantajosos.“OBrasil sempre renegou sua condição escravocrata, mesmo sendo o último país a abolir a escravidão. Muito disso se deve a teoria da democracia racial, sempre tivemos essa ideia de que no Brasil as pessoas não tinham nenhum problema contra a raça e cor do outro, mas isso dito pelos brancos, por aqueles que escreviam história e desenhavam a sociedade. A parte negra dessa história, o que se viu e se vê até hoje, é uma enorme discriminação, falta de acesso à educação, falta de acesso à cultura, ao mercado de trabalho e ao sistema de saúde. E isso quem diz não sou eu, basta verificar todos os números do Brasil que apontam a população negra nos mais baixos estratos da sociedade”, completa.

Diego Augusto Ventura, estudante de Economia, conta que já passou por situações em que foi vítima de racismo. “Eu já estudei em colégios em que eu notava diferença de tratamento, mas eu dava a volta por cima. Vivi uma situação em um estabelecimento onde alguém me pediu informação e eu disse que não era funcionário do local e a pessoa que perguntou ficou indignada ao ver que eu também era cliente. Eu não deixo isso me abalar, não levo para a vida. Fico mais indignado quando vejo isso acontecer com alguém próximo”, comenta. Ventura aponta que é preciso discutir mais sobre racismo para conscientizar a população. “Atualmente ainda é muito questionado se existe ou não racismo. É preciso esclarecer o que é o racismo, é preciso mais informações. Muitas pessoas apontam que isso é ‘mimimi’. As pessoas precisam ter consciência dessa prática e a partir disso começaremos a trabalhar uma forma de eliminá-lo”, aponta.

Segundo os dados do Atlas da Violência de 2017, publicado pelo Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a nível nacional, em análise pela cor da pele, negros e pardos (53,6% da população) correspondam a três de cada quatro pessoas assassinadas em 2016. Os que se declaram brancos (45,5% dos brasileiros) foram vítimas em 25% dos casos. Para o sociólogo, “a grande maioria dessas mortes são de jovens negros e essa situação, infelizmente, não tende a minimizar com esse discurso de ódio racial, de meritocracia, com o discurso de que essas pessoas não fazem porque não querem. Com as últimas eleições do Brasil a população negra vai ter vida muito mais difícil do que teve nos últimos anos. Vamos passar por situações em que a simples visão de um negro vai condená-lo a prisão ou a ser subalterno, pura e simplesmente por ter a cor da pele diferente da maioria branca do poder”, comenta.

 

DADOS

Em Juiz de Fora, de acordo com dados disponibilizados pela Polícia Militar, com análise de janeiro a outubro de 2018, foram registrados 1.093 crimes considerados violentos. Desse total, nos registros preenchidos foram identificadas 1.434 vítimas. O dado aponta que 201 são negras e 443 são pardas.

Chagas defende que a solução para reverter essa situação envolve a conscientização de toda sociedade.Para o sociólogo é preciso que a população negra crie mecanismos de enfrentamento e resistência diários ao racismo. “Nossos ancestrais conseguiram sobreviver através dos quilombos, através da resistência, da irmandade, da religiosidade, através da cultura. Nós conseguimos nos manter e ser maioria da sociedade brasileira.Se conseguimos de antes até hoje, conseguiremos sobreviver de hoje em diante. A nossa saída é resistência!”, finaliza.

 




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