A Importância e o Perigo de se Acostumar
Esta é a história de um comandante de navio que, por ter-se acostumado demais a navegar, acabou cometendo um descuido fatal. É importante as pessoas se acostumarem com o que fazem, pois isso lhes possibilita obter bons resultados. Porém, quando se acostumam demais com alguma coisa, as pessoas tendem a não dar o devido valor a ela, a não se sentir gratas a ela. Esse comandante havia se acostumado tanto a ver o navio percorrer o mar sem qualquer problema, a ponto de passar a ter a ilusão de que o natural era o navio seguir a rota automaticamente, vencendo as ondas, e chegar são e salvo ao porto. Ele havia se esquecido de que, para o navio percorrer o mar, era necessário o trabalho conjunto do foguista, do maquinista, do timoneiro, dos marujos encarregados de lavar o convés, enfim, de toda a tripulação. Em outras palavras, havia se esquecido de que o seu navio podia seguir a rota graças aos esforços de muitas pessoas que trabalhavam para ele, e deixara de sentir-se grato a elas.
Frequentemente, nós também temos atitude mental semelhante à desse comandante. Por exemplo, todos consideramos natural a existência da atmosfera neste planeta, e creio que a maioria das pessoas nunca se sentiu grata pelo ar que respira. Aliás, nem se lembra de que existe ar. Isso acontece porque as pessoas estão acostumadas demais com a existência do ar. Por isso digo que acostumar-se com alguma coisa é importante, mas, ao mesmo tempo, é perigoso.
Voltemos à história do comandante. Certo dia, em que as ondas estavam bastante altas, ele subiu ao convés e reparou num homem que, suando em bicas, girava freneticamente, ora para a direita, ora para a esquerda, algo parecido com uma roda.
Quem é aquele sujeito? Que ele está fazendo? perguntou o comandante a um marujo que estava por perto. – É o timoneiro. Ele está controlando o leme do navio – respondeu o marujo.
O comandante, com ar de perplexidade, perguntou: – Ele fica o dia inteiro girando o leme?
– Sim, comandante – respondeu o rapaz.
– É um desperdício de esforço. É natural o navio seguir adiante. Não é preciso que aquele homem fique o dia todo controlando o leme.
Assim dizendo, o comandante mandou o timoneiro deixar o seu posto de trabalho.
Mesmo assim, o navio continuou seguindo para a frente pela força inercial. Enquanto isso, o comandante e a tripulação passavam o tempo na sala de lazer. De repente, ouviu-se um estrondo e o navio balançou violentamente. O chão e as paredes da sala de lazer se inclinaram de modo exagerado. O navio tinha se chocado contra um recife submerso e sofrido um grande rombo no casco. Em pouco tempo, as águas do mar invadiram o navio e este submergiu. Lamentavelmente, não só o comandante como também o timoneiro e toda a tripulação afundaram junto com o navio.