A participação dos militares se ampliou na disputa por cargos do Poder Executivo nas eleições 2018. O número de candidatos originários das Forças Armadas, Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros é 39% superior em relação ao pleito de 2014. Este aumento é 12 vezes maior que 1994, quando havia apenas 43 militares candidatos. Neste ano, em todo o Brasil, mais de 500 postulantes estão concorrendo aos cargos desde presidente a deputado.
A iniciativa pode estar ligada à reprovação de políticos de carreira e à busca por melhorias no setor de segurança pública, diante do caos que o Brasil se encontra. O perfil vai desde apoiadores do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) até militar a partidos de esquerda.
Em Minas Gerais, foram registrados 2.388 candidatos para os cargos de governador, senador, deputado estadual e deputado federal. Deste total, mais de 80 pessoas possuem alguma patente militar, representando quase 4%.
Para o professor, jornalista e cientista político, Paulo Roberto Leal, a participação de militares na área política só vem a ser preocupante quando é negado a existência da ditadura no país em 1964, em seus discursos, ou existe uma ameaça referente à democracia. “Eu espero que as elites militares façam autocrítica no papel que as forças armadas desempenharam em 1964. Seria perfeitamente desejável que, em 2018, ninguém pudesse dizer que não houve uma ditadura. Ninguém pudesse dizer que a ditadura leva à democracia e, é bastante desejável, que não tivesse alguém que dissesse que é razoável torturar alguém em nome de interesse do Estado”, ressaltou.
A delegada Sheila Oliveira, atualmente vereadora de Juiz de Fora e candidata ao cargo de Deputada Estadual, disse que seu envolvimento com a política se deu na busca de modificar o cenário atual do Brasil, principalmente na área de segurança pública, mas, também, na representatividade feminina. “Eu trabalhava com a questão da violência contra a mulher, o que é um problema muito sério. O Brasil ocupa a quinta posição do rank mundial dos países que mais apresenta a violência contra o sexo feminino. Isso demonstra que existe a falta de representatividade feminina, porque nós somos 52% do eleitorado, mas ocupamos menos de 12% das cadeiras dos cargos eletivos”, destacou a delegada.
Ela ainda ressalta que este aumento da participação dos militares na carreira política está associada com a insatisfação com a segurança pública, sendo estas pessoas mais preparadas a tratarem o problema, devido à profissão.
Para o cientista político Paulo Roberto, a promessa da resolução deste problema, relacionando à profissão, pode ser mal vista, quando não cumprida. “Candidatos que apresentam discurso da ordem, discurso do braço forte acabam tendo benefícios em contextos de segurança, como o que a gente está vivendo. Contudo, o simples fato de apresentar-se como alguém que imponha a ordem, não implica nenhuma possibilidade concreta que só essa narrativa seja suficiente para resolver problemas. Existe o risco de que candidatos que se elejam com essa narrativa e não tendo muito o que de fato não possam fazer no parlamento por exemplo, acaba introduzindo uma decepção para os seus eleitores”, destacou Paulo Roberto.