O Dia Nacional do Surdo é celebrado em todo o Brasil no dia 26 de setembro. A data foi instituída em 2008, através da Lei 11.769, e foi escolhida por ser o dia da inauguraçãodo Instituto Nacional de Educação de Surdo (INES) em 1857, no Rio de Janeiro, sendo a primeira Escola de Surdos no Brasil.
Você sabe a diferença entre ‘deficiência auditiva’ e ‘surdez’? Se você não sabe, não se preocupe. Essa é uma dúvida comum entre aqueles que não têm perda auditiva ou que não convivem com alguém que tenha. Do ponto de vista clínico, o deficiente auditivo e o surdo se distinguem de acordo com o grau da perda de audição. A ‘deficiência auditiva’ consiste na perda parcial ou total da capacidade de detectar sons, causada por má-formação (causa genética), lesão na orelha ou na composição do aparelho auditivo. Em caso de surdez, é considerado surdo aquele que tem total ausência da audição. E é considerado parcialmente surdo todo aquele que a capacidade de ouvir, apesar de deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva.
No Brasil, de acordo com o Censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência. Deste número, cerca de 2.147.366 milhões apresentam deficiência auditiva severa. Ainda de acordo com o censo, em Juiz de Fora a população com deficiência auditiva é de quase 26 mil pessoas. Mais de 19 mil delas têm alguma dificuldade, 5.293 com grande dificuldade e 643 possuem perda total da audição.
Entre a população juiz-forana está o jovem BlendonPilato,21 anos. Ele é graduando em Letras-Libras e convive com a surdez desde a infância. “Eu tive uma infância tranquila, mas alguns momentos foram difíceis. Minha mãe sempre tentou lutar comigo e me deu um alívio”. Aos quatro anos, ele teve o primeiro contato com instrutores da Língua Brasileira de Sinais. Aos 12 ele teve contato com o aparelho auditivo. Ele entende a importância do aparelho, mas acredita que não seja necessário para sua vida.“É importante ser natural. Surdez não é doença, nem deficiência, é modo de vida. Eu fico muito feliz sem usar”, disse. Para se comunicar com familiares e amigos, Blendon conta com a ajuda da mãe, que sempre esteve na luta com ele, e agora também pode contar com o irmão. “Ele sabe um pouco e consegue interpretar para alguns parentes. Fico orgulhoso dele e torço para que minha irmã também consiga. A língua de sinais sempre traz felicidades”.
A luta das pessoas com deficiência, qualquer que seja, em busca de uma sociedade com menos preconceito e mais inclusão é contínua e envolve vários atores diferentes. É preciso continuar combatendo o preconceito e mostrando à sociedade o valor que as pessoas que possuem qualquer tipo de deficiência possuem.“Várias coisas são difíceis. Todos nós somos pessoas que se esforçam, mas algumas pessoas não-surdas e outros tipos de pessoas nos ignoram porque a sociedade nunca entendeu nossas vidas”, conta. No meio dessa caminhada estão várias dificuldades que precisam ser enfrentadas. “Nós temos capacidade de trabalhar, estudar e outras coisas que podemos fazer. Nos estudos é muito complicado e a sociedade ainda é teimosa para escutar quando dizemos que precisam se adaptar ou ter uma estratégia melhor”.
Diante de todos os obstáculos enfrentados por pessoas com algum tipo de deficiência, ainda há esperança de uma sociedade mais inclusiva.
Central de Libras
Para atender a parcela da população juiz-forana com deficiência auditiva, foi inaugurada em Juiz de Fora, em 2016, a Central de Libras.O objetivo da instituição é oferecer intérpretes da Língua Brasileira de Sinais a pessoas com deficiência auditiva da cidade.De acordo comThais Altomar, gerente do Departamento de Políticas para a Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos (DPCDH), “a Central é um programa do Estado e Juiz de Fora foi contemplada por ser o local onde a central funciona que é dentro do Departamento (DPCDH)”, explica. Atualmente, a Central de Libras está fechada por falta de profissionais para prestar esse tipo de serviço.
Para os surdos, a Central de Libras é um facilitador para ter acesso a serviços públicos garantidos aos cidadãos. É uma maneira dos deficientes conseguirem se comunicar com os funcionários que não sabem falar a língua de sinais e realizar seus afazeres. Thais Altomar comenta que a Central é uma garantia de acessibilidade de comunicação. “É uma das barreiras que a pessoa com deficiência auditiva encontra nos atendimentos, tanto públicos quando privados”.
De acordo com a gerente do DPCDH, um novo edital já foi aberto para a contratação de uma nova empresa que será responsável pelos intérpretes de libras. A expectativa é que a ‘reabertura’ da Central de Libras seja realizada até o final deste ano. Thais ressalta a importância do serviço para a população. “Nós fizemos vários acompanhamentos. É uma série de situações novas que surgiram, uma demanda com pedidos diversos e com certeza, para a pessoa surda, foi um grande alcance de atendimento”, conta. Através da Central, também foram criados cursos para formação em Libras (básico I e II).
Direito de Ouvir
Nessa terça-feira, 25, cerca de 80 estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizaram um ato de protesto na instituição para solicitar intérpretes de libras para alunos com deficiência auditiva.Eles foram acompanhados por membros de movimentos sociais e professores do curso.
Os estudantes foram recebidos no prédio da reitoria pelo pró-reitor da UFJF Marcos Freitas que disse que eles seriam recebidos pelo reitor Marcus David para uma conversa que aconteceu durante esta tarde, no anfiteatro da reitoria.
A UFJF tem 15 alunos surdos, matriculados em quatro graduações diferentes: Arquitetura e Urbanismo, Bacharelado em Artes e Design, Educação Física e Letras/Libras. No entanto, a instituição dispõe de apenas 12 intérpretes da Língua Brasileira de Sinais, sendo dez do quadro permanente e dois temporários. Desse total, oito foram contratados pela atual gestão, iniciada em março de 2016.
“A Reitoria compreende e defende a Política de Cotas, para as pessoas com deficiência.Temos em todas as reuniões da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) pressionado o Ministério da Educação (MEC), no sentido de conseguirmos estrutura para dar prosseguimento às estratégias de inclusão.Solicitamos 33 vagas de intérpretes ao MEC e só recebemos três, sendo que uma delas nem conseguimos preencher, porque os inscritos não foram habilitados no processo seletivo”, afirmou Marcus David, reitor da Universidade.