Arnaldo Niskier

Não deu para irmos à final da Copa do Mundo, mas temos que ficar atentos: a educação brasileira merece ser também priorizada. Com um certo saudosismo, me vi relembrando as Copas anteriores e o que estava ocorrendo com a nossa educação, por ocasião de suas realizações. A primeira foi aqui no Brasil, em 1950, de triste memória, porque perdemos a final para o Uruguai. Naquele ano, nossos educadores estavam debruçados na elaboração da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Em 1954, na Suíça, o Brasil ficou em sexto lugar, e vivíamos o período do segundo Governo Getúlio Vargas, que pouca atenção dava ao setor de educação.

O Brasil finalmente conquistou sua primeira Copa do Mundo em 1958, na Suécia. O sucesso da nossa seleção não pode ser comparado ao que ocorria com a educação naquele ano: o Plano de Metas do governo JK levou desenvolvimento a todo o país, mas dedicou à educação apenas 3,4% dos investimentos. Quatro anos depois, em 1962, no Chile, nos tornamos bicampeões mundiais, no futebol. Mas em educação, continuávamos devendo. No ano anterior, finalmente foi sancionada a LDB, e o governo havia lançado o primeiro Plano Nacional de Educação, que ficou apenas no papel.

Em 1966, fomos eliminados na primeira fase da Copa do Mundo, realizada na Inglaterra. Na educação, já com o governo militar, as derrotas continuavam, com críticas à ausência de vagas nas faculdades e às formas de financiamento da educação pública, além de repúdio às repressões ao movimento estudantil. Já em 1970, no México, finalmente, o Brasil se tornou o primeiro país a conquistar três Copas do Mundo. Na educação, havia movimentos para a realização de reformas educacionais do pré-escolar ao ensino superior, que acabaram sendo implantadas, trazendo mais problemas do que soluções. As Copas de 1974, na Alemanha, e de 1978, na Argentina, foram só decepções: trouxemos o quarto e o terceiro lugares, respectivamente. Nesse período, a reforma universitária de 1968 fracassou e a Lei 5.692, de 1971, que previa a formação profissionalizante, colaborou para que o sistema educacional brasileira atingisse os piores índices de produtividade.

Nas Copas do Mundo de 1982, 1986 e 1990, na Espanha, México e Itália, respectivamente, houve um fracasso triplo no esporte. Na educação as coisas começavam a melhorar, com o fim da profissionalização compulsória da Lei 5.692/71. Com a saída do governo militar, foram implantadas mudanças nos sistemas de ensino, e a Constituição de 1988 deu um bom destaque para a educação.

Em 1994, enfim, conquistamos o tetracampeonato, nos Estados Unidos, mas em 1998, na França, perdemos a final para o país anfitrião. Foi o período da implantação do Plano Real, que estabilizou a economia mas, na educação, não produziu bons resultados. Houve a edição de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, que acabou não decolando.

Em 2002, o Brasil conquistou a Copa realizada no Japão e na Coreia do Sul, tornando-se o único pentacampeão. Mas em 2006, na Alemanha, e em 2010, na África do Sul, ocorreram mais eliminações precoces. Na educação, com as mudanças políticas ocorridas, saindo um governo neoliberal e entrando um outro, com tendência popular, não se traduziu em melhorias para o setor.

A Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, ficou marcada pela goleada de 7×1 que a Alemanha nos impôs. E agora, em 2018, esperamos que o Brasil consiga o hexacampeonato, na Rússia. Na educação, torcemos para que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) atinja seus objetivos, e que a LDB, de 1996, que virou uma “colcha de retalhos”, seja revista e reformada.




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