A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora anunciou na manhã desta quarta-feira, 20, a realização do primeiro transplante simultâneo de pâncreas e rim na cidade e região, sendo o primeiro de pâncreas na história do município.

O procedimento ocorreu no último dia 12 de junho, sendo um homem de 36 anos a receber os órgãos. O paciente era portador de diabetes tipo 1, desde um ano de idade, ou seja, ficou diabético durante 35 anos. Uma semana após a realização do transplante, ele segue em recuperação e desde então não precisou receber nenhuma dose de insulina e não precisou realizar mais hemodiálise.

A equipe do Diário Regional conseguiu conversar rapidamente com o paciente transplantado, Diogo Souza Bernardes. Ele contou como era a vida antes do transplante. “Nunca tinha feito uma dieta muito rigorosa, e isso veio complicando aos poucos. Comecei a realizar a hemodiálise, pois tinha muita fraqueza, falta de ar e não conseguia fazer esforços físicos grandes”.

Diogo se preparava para mais uma sessão de hemodiálise quando recebeu o telefonema informando sobre o possível transplante. Ele então realizou todos os procedimentos necessários para realização da cirurgia.

Hoje, cinco dias após o procedimento ele afirma se sentir melhorando gradativamente. “Por ter feito duas cirurgias, e por terem sido feitas após ter vindo de uma semana adoentado acredito que o corpo ainda está acostumando com a medicação e com o novo ritmo. A expectativa agora é de uma nova vida”.

O chefe da Unidade de Prática Integrada de Transplante, Dr. Gustavo Fernandes Ferreira destacou o processo para que a Santa Casa alcançasse o novo patamar na realização de transplantes, reforçando a capacidade da Santa Casa na realização de transplantes de órgãos abdominais. “O primeiro transplante de rim ocorreu em 1983, ou seja, foram décadas que a instituição se preparou para pode evoluir e passar para os próximos órgãos. Ano passado já divulgamos o transplante de fígado, deixando programa ainda mais robusto. E semana passada consolidamos o transplante de pâncreas”.

Devido a esse diabetes de difícil controle, o quadro de Diogo evoluiu para falência renal. O rim dele parou de funcionar e então, a partir de novembro de 2013, ele precisou iniciar a hemodiálise. Nesse período a Santa Casa não possuía o transplante de pâncreas em seu programa. O paciente então ficou na fila de espera pelo rim.

Em 2017 o hospital conseguiu o credenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) para realização do transplante de pâncreas e então o paciente foi colocado na fila de espera para pâncreas rim.

De acordo com o chefe da unidade “o paciente tinha muitas lesões causadas pelo diabetes e todos os sinais de que a doença era bastante agressiva. Ele tinha bastante dificuldade de controlar essa glicemia, apesar de todos os esforços que poderiam oferecer para ele no controle glicêmico”.

No dia do transplante, parte da equipe de médicos envolvida no procedimento se deslocou, com apoio do helicóptero da Polícia Militar (PM), até a cidade Muriaé, onde captaram os órgãos de um indivíduo que teve morte cerebral e o qual os familiares autorizaram a doação. Já com os órgãos, parte da equipe retornou à Santa Casa de Juiz de Fora. Nesse mesmo dia foram captados, rim, fígado e pâncreas.

Dr. Fernandes relatou os procedimentos prévios para realização do transplante. “Chegando a Juiz de Fora todos os exames imunológicos foram feitos em um tempo muito curto, para que conseguíssemos implantar os órgãos com o menor tempo de isquemia. Nós conseguimos realizar o procedimento com 9h e 50min, isso desde a retirada do órgão em Muriaé até o paciente já ter os órgãos implantados. Então, ele já saiu da cirurgia já com pâncreas e rins funcionando, o que deu uma chance muito maior para o procedimento”.

O médico esclareceu que “o paciente ainda está em fase de recuperação, mas podemos considerar que ele não é mais um paciente diabético e não é mais um paciente doente renal crônico. Com esse procedimento foi possível retirá-lo da situação que vivia e oferecemos uma qualidade de vida muito maior, uma chance de vida muito maior.”

Os transplantes de pâncreas se fazem através de três modalidades, a principal delas é o transplante de pâncreas rim simultâneo, o que foi realizado na última semana pela Santa Casa. Segundo os clínicos, só utiliza-se esse tipo de transplantes em pacientes que possuem tipo de diabetes tipo 1 avançado, que evoluiu para falência dos rins. O rim é um dos órgãos mais acometidos pelo descontrole do diabetes.

Além do transplante de pâncreas rim simultâneo, a Santa Casa também oferece outras duas opções terapêuticas à população, que são o transplante de pâncreas após o rim e transplante de pâncreas isolado.

Ainda de acordo com Dr. Fernandes, “em Minas Gerais apenas a Santa Casa de Juiz de Fora e o Hospital Felício Rocho de Belo Horizonte realizam estes procedimentos. No estado do Rio de Janeiro não temos nenhuma cidade fazendo. Em São Paulo temos, em Paraná e Santa Catarina também. Rio Grande do Sul ainda não realizou nenhum destes procedimentos neste ano”.

Diogo era portador de diabetes tipo 1, desde um ano de idade, ou seja, ficou diabético durante 35 anos. Foto: Felipe Carvalho

 

O PROCEDIMENTO

O cirurgião geral, Gláucio Rocha explicou como foi realizado o procedimento para transplantar os órgãos. “O transplante aconteceu com aproximadamente 40 pessoas dentro do hospital trabalhando. Quando fazemos um transplante de pâncreas temos até 12 horas para fazer os procedimentos e conseguimos realizá-lo neste caso, dentro de um tempo hábil. Nós colocamos o pâncreas conectado ao intestino e de um lado e do outro, o rim, para fazer as funções renais. Implantamos os dois órgãos e imediatamente eles começam a funcionar. O paciente já obtém seu controle glicêmico e começa a fazer seu controle renal o que permite ficar fora da hemodiálise”

 

INDICAÇÕES

Apesar de o resultado ter sido positivo para o paciente, o transplante de pâncreas só é indicado para diabéticos com quadros da doença muito avançados. Dr. Alberto Aloísio, chefe da Endocrinologia e da Residência de Endocrinologia, pontuou algumas das consequências do diabetes quando descontrolado. “Existem diversas consequências de um diabetes descompensado durante longo tempo, 10 ou 20 anos, por exemplo, como é o caso do nosso paciente. Há uma deterioração de vários órgãos. Onde há vaso sanguíneo, onde tem circulação de artérias, elas são modificados pela hiperglicemia e isso acarreta lesões nesses órgãos que por sua vez, acabam deteriorando suas funções. Temos consequências principalmente para a retina, o rim, nervos, aparelho digestivo, coração, todos são muito prejudicados pela evolução do diabetes”.

Quando a diabetes é bem controlada, é possível distanciar as consequências da hiperglicemia.

O chefe da Endocrinologia ainda reforçou em quais casos o transplante de pâncreas é indicado “Muitas pessoas perguntam, por que não se faz transplante de pâncreas em um diabético normal. A indicação primordial para transplante de pâncreas é que seja simultâneo ao transplante de rim ou após o transplante de rim, devido a necessidade de grande mudança que tem que ser feita no organismo com a introdução de medicamentos imunossupressores. Então na verdade não há indicação para se fazer transplante de pâncreas em qualquer paciente diabético. Ele é indicado a pacientes graves que já tiveram uma deterioração da sua função renal” finalizou ele.

 




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