Recentemente, uma leitora do Diário Regional, que preferiu não se identificar, foi surpreendida após uma compra na internet. A mulher, de 42 anos, comprou um celular em um site especializado e pagou R$3.429. Passado alguns dias, a encomenda chegou até sua residência. Quando abriu o pacote, ao invés do aparelho caro e de última geração, ela se deparou com uma pedra e um carregador usado.
“Antes de abrir a caixa, tinha percebido um barulho estranho que se parecia com terra solta. Achei aquilo estranho. A embalagem estava perfeita, sem nenhuma violação, mas, quando abri a caixa, vi uma pedra no formato do aparelho e o carregador todo despedaçado”, contou.
A sorte dela foi que a política do site protegia a compra. “Rapidamente comuniquei com o site. Como estava dentro do prazo de sete dias para devolução, tive menos problemas ainda, pois o atendimento me informou que era para devolver a caixa e que o estorno do valor seria realizado em meu cartão de crédito”, relatou.
A situação da mulher não precisou da intervenção da polícia para ser resolvida. A mesma coisa não pode se afirmar das 106 ocorrências de estelionato registradas pela Polícia Civil (PC) em Juiz de Fora, entre janeiro e maio deste ano. Os casos estão relacionados, exclusivamente, a dois sites muito utilizados quando o assunto é a compra e a venda de mercadorias: OLX e Mercado Livre.
De acordo com as informações divulgadas pelo delegado Eurico da Cunha Neto, responsável pelas 1ª e 2ª delegacias distritais da PC, 66 pessoas procuraram a polícia para se queixar de alguma atividade ocorrida na plataforma da OLX e outras 40 no Mercado Livre. “Muitas pessoas vieram até a delegacia para relatar que caíram em golpes na internet, a maioria relacionadas a esses sites. Fizemos o levantamento para esclarecer o que tem acontecido na cidade e evitar que novas vítimas aconteçam. A ideia é alertar, pois, por exemplo, numa transação que envolve depósito de dinheiro, depois de concretizada, fica muito difícil reaver o dinheiro. A mesma coisa é quando a situação tem a presença de documentos falsos ou contas de outros estados. Mesmo que a polícia apure as informações para identificar o autor, todos esses empecilhos dificultam nossa ação”, explicou.
Segundo o delegado, dois casos foram registrados nesta semana. O primeiro é de um homem que depositou R$1.500 como parcela de entrada de um carro, mas que depois descobriu o golpe. O segundo é de um rapaz que estava vendendo um videogame pelo mesmo valor. “A vítima não queria entregar o aparelho sem a confirmação do depósito. Como forma de garantia, o suposto comprador entregou a carteira de identidade e disse que, posteriormente, depositaria o dinheiro. Acontece que o depósito não foi feito. O que mais chamou a atenção da polícia foi a audácia do criminoso, que entregou o documento, mostrando que não se importava se seria ou não responsabilizado pelo crime”, disse. Para Cunha Neto, a ousadia do estelionatário é uma consequência judicial. “Dificilmente você vê um estelionatário sendo preso num primeiro momento, ou fica muito tempo na cadeia, o que faz com que esses crimes aconteçam cada vez mais”.
PROCON ALERTA
O superintendente da Agência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon/JF), Eduardo Schröder, que comprar pela internet exige cuidados. “Um conceito que as pessoas ainda não entenderam bem, é que nem sempre as relações estabelecidas nos sites são de consumo. A OLX, por exemplo, geralmente é utilizada para vendas entre pessoas físicas, o que não configura relação de consumo. Depois disso, tem a questão da proteção. A internet é um ambiente muito frágil, em que nem sempre sabemos com que estamos negociando”, alertou.
“É importante o consumidor sempre buscar fazer essas compras on-line em sites idôneos, que são comumente utilizados. Procurar um fornecedor já conhecido, que forneça protocolos de segurança em seu site e dados para o consumidor reclamar em caso de problemas. Caso não seja um site comum, que faça uma pesquisa para saber se existe alguma reclamação contra aquele site antes de realizar a compra”, recomendou Schröder, acrescentando que também existe a possibilidade de desistir da compra em até sete dias. “A primeira ação é reclamar no site que vendeu e, não obtendo respostas, procurar os órgãos de defesa do consumidor. Se tratando de uma fraude, recomendo procurar a polícia e registrar o boletim de ocorrência”, concluiu.