A população idosa de Juiz de Fora é uma das que mais sofre atropelamentos no trânsito. Essa triste estatística pode ser percebida, conforme dados da Polícia Militar (PM). Dos 860 atropelamentos registrados pela corporação entre janeiro de 2016 e março de 2018, 226 estavam relacionados às pessoas com mais de 60 anos. Isso corresponde a 26,27% dos casos. O resultado é as mais de 10 mortes de idosos que ocorreram no período.

De acordo com o Comandante do Pelotão de Policiamento de Trânsito da PM (PPTran), tenente Decio Vernay, não existe uma explicação científica que justifique o fato de os idosos serem acometidos com tanta frequência, mas a falta de atenção ao cruzar uma via pode ser a principal responsável. “As pessoas com mais idade precisam tomar um cuidado maior, principalmente, por conta da dificuldade de locomoção. Um problema muito grave que vejo, enquanto observador do trânsito, é que em uma situação em que uma senhora e outra pessoa estão prestes a atravessar a rua no momento que o semáforo está fechado para o pedestre, porém não está vindo carro e, por acaso, esse pedestre resolve avançar, aquela idosa, de maneira racional ou impulsiva, ao ver alguém tentando cruzar a via, decide agir da mesma forma. No entanto, pode acontecer de o outro pedestre conseguir concluir a tempo de evitar um atropelamento e a senhora não. Isso também pode ser visto de maneira geral, com pessoas de todas as idades. É o comportamento errado de uma pessoa que pode influenciar outras, que talvez não tenham a mesma mobilidade”, explica.

Segundo o chefe do Departamento de Fiscalização da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), Paulo Peron Júnior, a pasta tem intensificado os trabalhos de engenharia de trânsito, bem como os de fiscalização e educação no trânsito, especialmente, quando as situações de acidentes envolvem idosos. “Desde os primeiros casos envolvendo idosos que a Settra já levantou possibilidade de verificar melhorias na sinalização do trânsito ou tempo de semáforo, mas também das próprias intervenções, acessibilidade e mobilidade urbana. É um trabalho conjunto, que não conseguimos alcançar da noite para o dia. Sobretudo com os idosos, sabemos que é um assunto mais delicado. Ele já perde um pouco da mobilidade e atenção no trânsito e todo o cuidado precisa ser redobrado. Todo mundo tem o papel de contribuir para a segurança deles ao atravessar a via”, reforça.

Peron também afirma que a Settra já está nas ruas reavaliando o tempo das travessias, através da equipe de técnicos e das observações dos próprios agentes de trânsito que estão em campo, mas ressalta que os motoristas necessitam de se adequar a essa circunstância. “Pensa em um cruzamento mais longo. O tempo de travessia é muito enxuto e exato para uma pessoa com condições normais de atravessar. Um idoso ou o deficiente físico vai ter ainda mais dificuldade e não vai concluir o trajeto no tempo destinado a ele. Porém, o comportamento do condutor é primordial. Aliás, o Código de Trânsito (CTB) prevê que mesmo que o semáforo que permite o seguimento do automóvel se torne verde e o pedestre que iniciou a travessia ainda não a conclui, ele tem a preferência de seguir e isso deve ser respeitado. Essa é a dica de mudança de comportamento para evitar esse tipo de acidente”, lembra.

Mas, não são somente os idosos que estão envolvidos em acidentes no trânsito. Como o próprio tenente Decio Vernay afirmou, “essa é uma estatística que não escolhe classe social, idade ou cor para atingir”. Dos 860 registros feitos pela PM nos três anos, 28 são de vítimas fatais. Cinco, somente nos três primeiros meses de 2018, ano com a maior quantidade no período, se comparado a 2016 (uma morte) e 2017 (três mortes). Cerca de 280 atropelamentos aconteceram com pessoas na faixa etária de 35 a 59 anos. Vernay também compartilha a ideia de que o que precisa é a mudança comportamental da sociedade. “A maioria dos atropelamentos, eu atribuo a uma falta de respeito e atenção às normas de trânsito. É uma cultura que não temos de preservação da vida. Hoje, percebemos uma melhoria na questão da tecnologia dos carros, eles possuem freios mais rápidos, as leis são mais rígidas, a polícia tem reforçado as fiscalizações, mas ainda assim, o que falta é o respeito e atenção por parte dos envolvidos. Se tivéssemos pedestres mais atentos e motoristas mais responsáveis, veríamos uma diminuição considerável. Chegar a zero é uma utopia, mas haveria redução”, diz.

 

 

 

 

 




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