Projetos sociais em JF acolhem imigrantes

Sergio Maurício Gonçalves saiu de Portugal em 2015, para morar com a família na Venezuela, também, em busca de mais qualidade de vida. Dois anos depois, foi com o mesmo pensamento que ele desembarcou no Brasil. O português é uma das 24 pessoas já acolhidas pelo projeto “Gruta de Belém”, desenvolvido pela Associação dos Amigos (Aban) na cidade, que recebe pessoas que vieram do país vizinho e adentraram o Brasil por Roraima, dando suporte e o necessário para eles reconstruírem suas vidas.

De acordo com Gonçalves, a situação “humanitária e econômica”, vivenciada na Venezuela o fez buscar alternativas. “Cheguei ao Brasil em outubro, na primeira fase do projeto. A minha adaptação foi rápida. O fato de falar português facilitou muito. Porém, a principal dificuldade foi arrumar emprego”, conta.

O restante da família do português, que havia ficado na Venezuela, veio na segunda etapa do projeto. Atualmente, ele é motorista da Uber e mora em uma casa alugada. O “recomeçar”, como ele classifica a sua vinda para o Brasil, também o motivou a ajudar outras pessoas, que passaram ou estão passando por situação semelhante. “Me tornei voluntário, por conta de uma frase que me marcou que é: ‘dar com amor, aquilo que recebestes’, relatou. “A Aban teve grande impacto em minha vida, me deu a oportunidade de reconstruir tudo, dando suporte e tudo que precisava inicialmente. Poder transmitir para os outros que chegam da mesma forma que eu vim, sobre o que é a Aban, o trabalho que é feito por pessoas que abrem mão de muitas coisas para ajudar, não tem preço.Juiz de Fora é uma cidade acolhedora, com pessoas jovens, universitárias e com oportunidades para quem quer agarrar. Sou feliz em fazer parte desse projeto”, contou.

 

“PROMOVER INDEPENDÊNCIA PARA QUE O SER HUMANO VENÇA AQUELA ETAPA E SIGA SOZINHO”

Há mais de 20 anos, a Aban atua na cidade com o objetivo principal de combater a pobreza. A equipe é composta por voluntários, que realizam trabalhos em diversos bairros. Os imigrantes são acolhidos na Casa Benjamin, no bairro Dom Bosco, zona Sul, que já recebia pessoas em tratamento de doenças.

“Mais de um bilhão de pessoas estão refugiadas no mundo todo. Tem gente morrendo de fome na Venezuela e isso nos sensibilizou. Há dois anos, a casa passou por reformas, já pensando no acolhimento dos refugiados. Em abril do ano passado, o projeto ainda estava sendo estruturado. Estávamos tentando parcerias para trazer as pessoas, mas era difícil concretizar.O Renato, que é o nosso presidente, realiza uma ação social no Amazonas. Ele conheceu o padre Ronilson, que atua com os imigrantes venezuelanos em Roraima. Fechamos a parceria e trouxemos o pessoal para cá”, explicou a coordenadora do projeto dos imigrantes na Associação, Camila de Paiva Riani.

A casa tem a capacidade de acolher 10 pessoas a cada etapa. Os refugiados permanecem por três meses. O problema é que a associação não recebe incentivos financeiros para manter o programa, ela conta com voluntários e doações, o que torna o acolhimento ainda mais difícil.

“Tudo no projeto é feito via doação. A gente não tem outra maneira de fazer. Não temos uma fonte de renda e todo o trabalho é voluntário. A gente tem que arcar com as passagens dessas pessoas, com as contas de luz, água, internet e alimentação”, revela à coordenadora.

De acordo com ela, a ideia do projeto não é ser assistencialista, mas promover independência para que o ser humano vença aquela etapa da vida e siga sozinho. “O projeto fornece suporte para eles se adaptarem à língua, cultura, entender como funciona o mercado, conseguir emprego e superar traumas antigos, para se reerguer e que outros possam vir para seu lugar. Mas, para isso, precisamos de doações fixas, empresas ou pessoas comprometidas com a causa. Roupas, nós temos bastante. O que necessitamos mais são carnes, ovos, leite e materiais de higiene pessoal”, afirmou Camila.

 

JUNTOS COM A ABAN

Recentemente, a Aban ganhou um importante aliado para a manutenção do projeto. A Arquidiocese de Juiz de Fora, lançou a “Pastoral Arquidiocesana do Migrante”, que vai auxiliar nos trabalhos. “O arcebispo Dom Gil Antônio foi procurado e ficou sabendo da situação dos venezuelanos que estariam chegando. Nisso, ele decidiu organizar a Pastoral para que pudéssemos acolher essas pessoas”, explicou o padre Luiz Eduardo de Ávila, nomeado como assessor da Pastoral.

Segundo ele, em pouco tempo, a iniciativa já alcançou papel importante. “Já fornecemos roupas, alimentação, dicas de trabalho para os imigrantes. A igreja assumiu esse papel e trouxe ainda mais seriedade para um trabalho que já tinha enorme credibilidade, realizado pela Aban”, reforçou.

Ávila acrescentou ainda, que é preciso uma mudança comportamental para que projetos como esses evoluam e atenda a mais pessoas. “Sempre tem aquelas que acreditam que a vinda de imigrantes é algo negativo. Porém, somos todos irmãos. Essas pessoas chegam para somar. Elas trabalham, produzem, consomem coisas aqui, movimentam a economia e não podem ser consideradas um ‘peso’, como muitos acham. Além disso, elas trazem uma cultura diferente, que precisa ser respeitada”.

 

SERVIÇOS DA PJF TAMBÉM ESTÃO À DISPOSIÇÃO

Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) se manifestou e informou que, através dos Centros de Referência em Assistência Social (Cras), realiza os encaminhamentos no âmbito da assistência social a famílias em vulnerabilidade. A PJF também afirmou que disponibiliza o Portal “Seu Emprego JF”, para auxiliar a colocação no mercado de trabalho.

Ainda segundo o Executivo, dentre os serviços da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), em 2018, somente o Departamento de Políticas para a Pessoa com Deficiência (DPCDH) atendeu uma família venezuelana com uma integrante com deficiência. “Os outros serviços não receberam, este ano, demandas relativas a essas famílias, mas se encontram à disposição para realizar os atendimentos que forem necessários. A PJF está à disposição para auxiliar na busca por alternativas e soluções que visem assegurar a dignidade, os direitos humanos e a empregabilidade destes imigrantes.”

Quem quiser ajudar a Aban pode entrar em contato por meio do WhatsApp (32) 98852-2440. A Pastoral também busca voluntários. Basta procurar o padre Luiz Eduardo na Catedral Metropolitana, no turno da tarde, ou ligar para telefone (32) 3250-0700.

 

 

 

 

 

 




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