Todas as manhãs, antes do sol nascer, abro a janela e vejo algumas acanhadas estrelas naquele céu com pequenas machas da noite. Acompanho atentamente aquele momento mágico de despedida daquelas estrelinhas já empalidecidas pela claridade do novo dia que vem chegando de mansinho. Como tudo na vida se transforma de maneira dinâmica, nunca se sabe o que vai acontecer. Vejo ao mesmo tempo a movimentação de pessoas apressadas para o trabalho, se esbarrando uma às outras nas estreitas calçadas. O dia vai fazendo sua travessia para mais tarde passar o bastão à noite, onde muitas histórias alegres e tristes sempre acontecem e servem de manchetes para os jornais, além de engrossar os noticiários das rádios e das tevês numa disputa pela audiência cada vez mais crescente.
De repente, me vejo imaginando no mundo inteiro a humanidade avançando em alta velocidade, atropelando tudo que vê pela frente. Guerras isoladas em vários países do Oriente, com reflexos negativos e perigosos para o Ocidente, o que parece já estar fora do controle das grandes potências mundiais, cujos governantes querem provar seus potenciais nucleares, ameaçando lançar suas terríveis bombas atômicas, cujos estragos causaram tanta dor a milhares de pessoas na última guerra mundial.
Não se importam com uma terrível destruição de crianças, jovens e idosos que nada têm a ver com a doentia ganância dos mandatários insensíveis dessas nações, que um dia se arrependerão de suas crueldades ao ceifarem tantas vidas inocentes.
Basta lembrar a atrocidade do dia 6 de agosto de 1945, com a explosão de uma bomba atômica lançada sobre o centro de Hiroshima. Por ter explodido no ar e não em terra, foi possível haver sobrevivente, tendo em vista a onda de choque ter se espalhado verticalmente e não horizontalmente. Mesmo assim, a devastação e a destruição da cidade foram incalculáveis. Morreram mais de 60 mil pessoas. Em Nagasaki, a fumaça atingiu uma altura de mais de 18 quilômetros, destruindo tudo que havia no caminho. O calor e o fogo queimaram as pessoas e a natureza, cujo solo até hoje está envenenado.
Caro leitor, não gostaria de ter misturado a observação de uma movimentação matinal de uma cidade do interior com assuntos tão trágicos. Mas, na maioria das vezes, viajamos no tempo e não conseguimos deter nossos pensamentos. Parece que algo muito forte assume, não só o teclado do computador, mas nossa própria mente e, quando vemos, o texto está concluído.
Carlos Letra – Jornalista, escritor e colunista; Ex-Assessor de Imprensa do SUS-RJ e Ex-Assessor de imprensa e Assessor Parlamentar na Câmara Municipal de Juiz de Fora