Reitor define 2017 como ano de ataques e de resistência das universidades públicas

O Diário Regional lançou na edição anterior uma série de reportagens que traz um balanço de 2017 e as expectativas de vários segmentos da cidade para o próximo ano. Na primeira matéria, conversamos com o superintendente da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), Rômulo Veiga, que este mês completa um ano de gestão. Dando continuidade à série, fizemos uma análise de 2017 e previsões para o próximo ano com o reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcus David.

O reitor afirmou que o maior desafio deste ano foi defender a universidade pública pela importância que ela tem para o Brasil. “Este ano foi de resistência para as instituições de ensino superior pois foi um ano de muitos ataques às universidades. Houve questionamentos de autoridades governamentais sobre a racionalidade de se manter esse investimento que nos mantemos com a universidade pública. O Banco Mundial publicou um relatório questionando a justiça do sistema de ensino superior federal brasileiro. Além desses ataques, tivemos a prisão de dois reitores, que foram comprovadas como equivocadas, e teve esse desfecho trágico do reitor da UFSC”, afirmou David.

O chefe da administração da UFJF relembrou a morte do reitor afastado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier. Ele e outras seis pessoas eram investigados por desvio de recursos em cursos de Educação a Distância (EaD). O reitor afastado negava as acusações.

“A defesa da universidade é a defesa do futuro do país. O sistema de universidades federais é fundamental para garantir o desenvolvimento econômico, pois é justamente a pesquisa e tecnologia desenvolvidas nas instituições de ensino superior que podem dar capacidade de competitividade para as nossas empresas e o Brasil passar a ter algum protagonismo no cenário internacional”, ponderou.

Além disso, segundo o reitor, as universidades também são fundamentais para o desenvolvimento social do Brasil. “As universidades democratizaram o acesso. Nós conseguimos que um perfil de estudantes de segmentos da sociedade, que não tinham acesso, ingressem nas instituições”, ressaltou. Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), contou o reitor, mais de 60% dos estudantes das universidades federais são provenientes de um segmento social cuja renda per capita familiar é inferior a 1,5 salário mínimo.

 

ORÇAMENTO

Conforme o reitor, a contenção de recursos também tornou o ano difícil para as instituições de ensino superior. “O total do orçamento que foi distribuído entre as universidades em 2017 é o mesmo valor que o de 2014. Portanto, toda inflação que teve nesse período significa uma perda efetiva para gente, pois os nossos gastos são corrigidos, por isso, as despesas sobem e orçamento foi mantido”, explicou.

Portanto, mediante a crise orçamentária, o desafio da UFJF foi garantir a sua sustentação econômica. “No caso da UFJF, a gente conseguiu compensar essa perda com geração própria de receita, mas não é o modelo ideal. Nós estamos encerrando o ano com equilíbrio e com a absoluta pontualidade de pagamentos das nossas contas”, afirmou David.

Já o orçamento para o ano que vem ainda não foi fechado, por isso, o reitor viaja à Brasília nesta quarta-feira, 27, e permanece até amanhã, 28, para negociar a liberação das últimas parcelas de recurso para a universidade. “Estamos dependendo desses valores [para concluir]. O governo repassa R$67 milhões para custeio, mas os nossos gastos de manutenção são na ordem de R$100 milhões. Ou seja, o governo tem financiado 2/3 e nós temos que garantir o restante. Algumas universidades não conseguem, diferente de nós que temos financiado com a geração de recursos próprios de alguns projetos. Se estes projetos acabarem, a Universidade vai ter que encolher e caber nos 2/3”, frisou.

A UFJF adquire verba de recursos próprios com, por exemplo, aluguel dos espaços cedidos para os bancos, de cantina, inscrição do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism) e também através dos trabalhos realizados pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF). “O ideal seria que toda a manutenção fosse garantida pelo Governo federal e que esse recurso fosse investido em novos projetos, ao invés de pagar uma conta de luz, segurança, por exemplo”, afirmou o reitor.

 

OBRAS

A gestão de Marcus David herdou 19 novas obras paralisadas e inacabadas. Este ano, inaugurou duas delas: o Centro de Ciências e a Moradia Estudantil. Para o início do período acadêmico, há previsão de completar mais três obras para serem inauguradas: o prédio da Faculdade de Comunicação, o ginásio da Faculdade de Educação Física e o centro de monitoramento. Além disso também serão inaugurados o Jardim Botânico, o Museu da Engenharia e o Memorial do Movimento Estudantil.

Porém a administração possui casos complexos, como a construção do campus avançado da instituição na cidade de Governador Valadares, obras do Hospital Universitário (HU) e do teleférico do Jardim Botânico. “As três obras enfrentam questões judiciais. No caso do campus em Governador Valadares, há denúncia de irregularidades na obra por parte do Ministério Público, por isso, ela está parada. Além disso, esta obra e a do HU são casos complexos até mesmo pelo montante que estas obras exigem”, disse.

Para avançar com os projetos, a administração readequou os projetos do HU e do campus. “Da nossa parte, estamos fazendo de tudo que é possível. Readequamos os projetos para que eles sejam mais modestos e dentro da realidade econômica do país. Já contratamos uma empresa pra fazer estes projetos para que, assim que a justiça liberar, tudo estar pronto para licitar”, afirmou o reitor.

David espera que as licitações ocorram até junho de 2018. “Esta etapa de trabalho vai até o meio do ano que vem e se até lá a gente tiver a liberação do poder Judiciário, nós teríamos condições de abrir os processos licitatórios”, ponderou.

Outro projeto que deve ser licitado no meio do ano, mas que vive outro cenário, é o Parque Tecnológico. A UFJF já possui o terreno, porém não há recurso. “O probelma do Parque Tecnológico não é judiciário e sim, de recursos. Nós também fizemos a reformulação dele e agora estamos aguardando o Mistério da Educação (MEC) autorizar o uso da verba”, disse.

As demais obras internas da UFJF também passaram por readequação e aguardam a liberação de recurso, como a construção de um anexo de salas de aula nas faculdades de Odontologia e Farmácia, ampliação do setor de transporte e expansão das faculdades de Administração e Serviço Social.

Conforme o reitor, a construção do teleférico, além de estar embargada na Justiça, não é prioridade no MEC.

 

SEGURANÇA

Em 2017, a instituição retomou a instalação das câmeras de segurança, implementou o Fórum de Segurança e ampliou o número de vigilantes, porém enfrentou problemas nesta área. “Naturalmente, o processo de crise econômica agrava a situação de segurança urbana. Apesar desse impasse, nos negamos a fechar o campus, pois a Universidade tem que ser aberta”, afirmou o reitor, relembrando um dos nortes de sua gestão.

Os casos mais recentes de insegurança no campus ocorreu na última edição do Som Aberto, na qual sete pessoas foram assaltadas depois do evento. “Viaturas da Polícia Militar circularam pelo campus, e, inclusive, a PM se mostrou receptiva e comprometida a nos ajudar. Além disso, reforçamos a nossa segurança, mas foi impossível evitar que esse crimes ocorressem”, falou.

Para o próximo ano, o reitor reiterou que o evento será repensado. “De ponto de vista cultural, o evento é um sucesso, mas lamentavelmente em função dessas questões que fogem nosso controle, vamos discutir outros modelos para não perder esse ganho cultural, mas garantir a segurança de quem estiver aqui dentro”, ressaltou.

 

METAS PARA 2018

• Continuar política de melhoria da excelência da pós-graduação;
• Ampliar os projetos de extensão, principalmente vinculando com a pesquisa e com a graduação;
• Buscar alternativa para financiamento de eventos como o Festival de Música Colonial;
• Aumentar os convênios e parcerias internacionais;
• Ampliar as condições de permanência estudantil, que vai além do auxilio financeiro, com assistência pedagógica e psicológica.




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