Numa tarde ensolarada de verão, resolvi ir ao parque das Águas Minerais Salutaris em Paraíba do Sul, minha terra natal, da qual guardo ótimas recordações. Sentado num banco próximo ao fontanário, à sombra do bambuzal que servira de registros de nomes e frases amorosas de adolescentes de várias gerações – inclusive a minha – pude sentir o fascínio daquele momento.
Era tudo muito real as coisas que se descortinavam na tela da mente. Podia ver com clareza de detalhes as pessoas que conheci e tanto admirei passeando alegremente naquele pitoresco recanto. Foram horas curtindo as belas lembranças. Cheguei a adormecer, despertando com um crepúsculo que há muito tempo não assistia: o sol cumpria mais uma jornada de trabalho, deitando sobre ás águas mansas de um riacho o seu reflexo deslumbrante, criando um clima de despedida e de saudade para aquele expectador solitário que ali estava.
Depois de alguns minutos, aquele cenário lindo do crepúsculo cedeu lugar a um céu escuro. Notei que estava para desabar um forte temporal. Os relâmpagos e as trovoadas me deixavam apavorado. A temperatura caiu vertiginosamente. Passei a viver uma situação feia e perigosa. Desde criança ouvia falar que não se deve buscar abrigo embaixo de árvores, em caso de chuva. Elas atraem os raios, que as destroem e aqueles que se expõem ao seu redor. Lutava contra o vento forte e a chuva. Parecia um pesadelo. A chuva não só molhava como chicoteava todo o meu corpo, tendo no comando dessa violência o vento forte que passava em grande velocidade.
O clarão de um relâmpago mostrou-me uma árvore cortada pelo raio e tombada no meio do caminho. O vento soprava em sentido contrário e quase me sufocava. A água fria da chuva aumentava minha respiração e, a baixa caloria do corpo, a cada instante, diminuía a resistência para enfrentar a tempestade. Já não tinha tanta certeza do meu retorno. A tempestade parecia não ter fim.
Não tinha a menor condição de gritar. Gemer era o máximo que podia fazer. Mas, gemido ao longe ninguém escuta, a não ser Deus, em quem eu pensava a todo o momento. Mais à frente, quando eu mal podia me arrastar, deparei-me com outra árvore derrubada por um dos raios que constantemente desciam do céu. Abriguei-me sob um amontoado de galhos, ali permanecendo por algum tempo até que o vento e a chuva se acalmassem.
Depois de alguns minutos, olhando para o alto, pude observar que as nuvens negras ao poucos iam cedendo lugar a algumas acanhadas estrelas que anunciavam o fim do pesadelo. Retomei o caminho de volta, já com parte da roupa estraçalhada pelos constantes tombos que levei resvalado em galhos de árvores. Parecia ter saído de dentro de uma arena de animais ferozes. Estava exausto, sentindo-me o mais estressado do mundo. Felizmente consegui, ainda que meio trôpego, chegar em casa, tomar um bom banho e agradecer a Deus pela proteção, sem a qual não estaria aqui para contar essa história.
Texto de Carlos Letra – Jornalista, escritor e colunista; Ex-Assessor de Imprensa do SUS-RJ e Ex-Assessor de imprensa e Assessor Parlamentar na Câmara Municipal de Juiz de Fora.