Pouco mais de 900 mil brasileiros aguardam na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar uma cirurgia eletiva, ou seja, aquela que não se reveste das características de urgência e emergência. Os números são do Conselho Federal de Medicina (CFM), que realizou o levantamento em alguns estados do país. Desse total, 0,8% estão localizados em Juiz de Fora. Conforme as informações da Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), 7.595 procedimentos eletivos estão pendentes no município. A maioria das pessoas está precisando ser operada de problemas no aparelho digestivo, no rim, útero, próstata, vesícula, coluna, cintura e membros inferiores.
Há sete anos, Natália Cristina, de 29 anos, convive com um problema crônico no ombro esquerdo e desde setembro espera pelo procedimento. “Meu ombro vive se deslocando. Até então, eu conseguia voltar ele para o lugar e, durante algumas vezes, bastava ir ao médico que ele resolvia. Porém, de julho para cá o problema tem ocorrido com frequência. Fiz a ressonância, a qual constatou a necessidade da cirurgia. Inclusive, o especialista disse que se eu não operar nos próximos meses, corro o risco de perder os movimentos dessa parte”, afirma.
Por conta das dores, Natália teve que deixar o trabalho de auxiliar de cozinha em um restaurante e o emprego em um escritório administrativo da cidade, o que reduziu a sua renda mensal. “Sempre estou tomando anti-inflamatórios para aliviar as dores. Fora isso, os gastos com o remédio e com as consultas médicas aumentaram. Antes, eu ainda trabalhava e dava para controlar os gastos, mas agora que recebo auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e meu ganho mensal gira em torno de R$1 mil, quase que não consigo arcar com as despesas. Sem falar que, periodicamente, tenho que passar por perícias para comprovar a continuidade do benefício, algo que é muito incerto”, relata.
Para o Gerente do Departamento de Apoio Diagnóstico e Terapias da SS, Sydney Castro dos Reis, as maiores dificuldades para reduzir ou zerar a fila estão relacionadas à disponibilidade de leitos, em decorrência da crescente demanda de pacientes em estado de urgência e emergência, que fazem uso do espaço, sem contar os hospitais que se tornaram “vítimas” do subfinanciamento federal, em razão da defasagem na tabela de pagamentos do Ministério da Saúde (MS).
Ele reitera que a pasta vem trabalhando para agilizar a realização dos procedimentos. “A secretaria vem se adequando às orientações do MS e do governo do estado, visando organizar-se na fila de espera, aguardando as estratégias em discussão para otimização das cirurgias eletivas, através de recursos direcionados, bem como estuda fluxos, de forma continuada, em conjunto com os prestadores e municípios pactuados, para garantir o atendimento das demandas”, diz.
Sydney também explica que, por se tratar de cirurgia eletiva, não existe um grupo prioritário para atendimento, mas que os médicos reguladores têm dado atenção à análise de casos mais graves. “Os pacientes são inseridos em fila de espera do sistema SUS Fácil, que tem o objetivo de acelerar a troca de informações entre as unidades administrativas e as unidades hospitalares na busca ativa de leitos para pacientes que precisam de internação”, afirma.
SUS REALIZOU MAIS DE 1 MILHÃO DE CIRURGIAS ELETIVAS EM 2016
Segundo o CFM, o SUS realizou no ano passado mais de 1,5 milhões de cirurgias eletivas. O número é inferior aos anos de 2015, que registrou 1,7 milhões de cirurgias; e 2014, com o total de 1,8 milhão. O balanço parcial deste ano realizado pelo MS aponta crescimento de 39% no número de procedimentos realizados na rede pública entre janeiro e setembro, mês que registrou mais de 150 mil cirurgias.
Na avaliação do gerente do departamento municipal, o aumento no número de solicitações de procedimentos eletivos em Juiz de Fora ainda é estável, mas “na medida em que se amplia a oferta das especialidades, automaticamente, crescerá a demanda para cirurgias eletivas”, pontua.
Questionado sobre a quantidade de recursos viabilizados para o município para a realização de cirurgias eletivas, Sydney reitera que não é possível definir este valor, uma vez que a verba repassada custeia os procedimentos eletivos e de urgências e emergências.
De acordo com o MS, o governo federal repassa de forma regular, mensalmente, recursos de média e alta complexidade a todos os estados e municípios e ainda dispõe de R$250 milhões em valores extras que poderão ser liberados para os gestores locais. Cerca de R$41,6 milhões já foram liberados este ano para a realização de mutirões.