Certo dia; uma senhora que morava na mesma rua, me surpreendeu ao me presentear com um bonito carrinho. Ela disse: “na semana que vem é Natal. Como eu tenho que viajar, quero lhe entregar de uma vez. Espero que tenha gostado”. Eu disse que era muito lindo. Agradeci-lhe com um abraço apertado. Fiquei emocionado. Meu Papai Noel havia chegado bem antes do Natal. Ao entrar em casa minha mãe foi logo perguntando: “de quem é este brinquedo?”. Eu disse a ela que foi a senhora que mora na última casa da nossa rua. “Eu sei quem é”, respondeu minha mãe. “É de família muito boa. Já conversamos algumas vezes”.
No dia seguinte fui direto para a pracinha. Meus amiguinhos acharam muito bonito. Comecei a brincar com eles. A poucos metros, vi que um menino muito grande me olhava com a cara fechada. Afastei-me dali e me juntei a um grupinho de crianças mais ou menos do meu tamanho De repente ele pisou várias vezes no meu carrinho, deixando-o todo destruído. Segurando um pedaço do que sobrou, lhe perguntei: “Por que fez isso? Eu gostava tanto do meu brinquedo. Foi um presente de Natal”. Juntei os pedacinhos do meu carrinho e me sentei num banco. Fiquei muito triste, mas não chorei. De repente sentou-se ao meu lado um senhor. Ele me disse: “eu vi quando o menino pisou em cima do seu carrinho. Não fica triste não. Eu sou marceneiro e amanhã vou fazer um carrinho bonito para você”.
No dia seguinte me entregou dois carrinhos lindos, iguais, com cores diferentes. Fui direto para a pracinha para brincar com os meus carrinhos de madeira. Um pouco distante estava um menino que eu conhecia. Era pobre como eu. Ele não tinha nenhum brinquedo, se divertia num montinho de areia. Lhe dei um de meus carrinhos. Quando paramos de brincar, ele veio me devolver, mas eu disse: “pode levá-lo. Estou lhe dando de presente”. Sua alegria foi tanta que me fez chorar.
Todas as manhãs ele passava na minha casa e dali a gente seguia direto para a pracinha. Como havia sumido, fui até a casa dele. Uma senhora abriu a porta e eu perguntei pelo meu amiguinho. Ela, se escorando numa bengala, disse com a voz embargada e lágrimas nos olhos: “Deus o levou”. Ao me identificar, ela me abraçou e disse: “ele, antes de partir, pediu para lhe dizer que você foi o seu maior amigo. Comentou sobre o carrinho que você lhe havia dado. Pediu para dar á uma criança pobre como ele. Fiz o que ele me pediu”.
Naquele dia fiquei muito sofrido. Não levei meu carrinho. Fui me distrair num montinho de areia. De repente, senti que alguém tocava meu ombro. Sua mão espalmada na minha frente tinha um carrinho igual ao meu. Ele disse: “brinque com esse carrinho. Não precisa me devolver”. Quando me virei, pude vê-lo andando e desaparecendo por entre os canteiros do jardim. Estava com a mesma camisa vermelha bem desbotada. No chão, um pequeno crucifixo que ele sempre usava, o qual até hoje carrego comigo. Nas minhas orações peço a Deus para que sua alma seja iluminada e reflita na vida de todas as crianças para que tenham muita alegria e paz.
Carlos Letra – Jornalista, escritor e colunista; Ex-Assessor de Imprensa do SUS-RJ e Ex-Assessor de imprensa e Assessor Parlamentar na Câmara Municipal de Juiz de Fora