O ex-Ministro da Saúde e médico sanitarista José Gomes Temporão falou sobre os avanços e desafios do Sistema Único de Saúde (SUS), no 1º Colóquio de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A palestra foi realizada na tarde desta segunda-feira, 27, no Anfiteatro da Faculdade de Comunicação (Facom).
A redução da média nacional de mortalidade infantil pela metade entre 2000 e 2010, a redução da fome, do tabagismo e a erradicação da subnutrição foram alguns dos dados apresentados pelo professor, que foi Ministro da Saúde no segundo mandato de Luís Inácio Lula da Silva na Presidência da República. Mesmo assim, o serviço oferecido pelo SUS, conta com lacunas a serem resolvidas. Para Temporão, uma visão “hegemônica” de que o sistema único só é bom para os pobres é um complicador.
“Quando a sociedade não tem essa consciência clara, de que a saúde é um bem fundamental para o desenvolvimento humano e, portanto, é patrimônio de todos e que em uma sociedade não pode haver diferenças entre etnias, classes sociais, de trabalho e o direito à saúde, essa saúde fica precarizada. É isso que estamos vivendo hoje. Um reflexo disso é o subfinanciamento. Ou seja, se tivéssemos obtido mais recursos nesses 29 anos de SUS, estaríamos em outro patamar. Mas em uma sociedade em que a visão mediana do brasileiro comum é crítica em relação ao sistema, a gente perde força pra lutar por mais recursos”, avalia.
Pela análise do ex-ministro, existe na sociedade brasileira um déficit de consciência política sobre o direito a ter saúde. “Essa consciência é construída. A grande mídia trabalha o tempo todo contra, passando uma visão dúbia, sempre muito ácida, muito crítica. É curioso. Existem pesquisas mostrando que, quando você pergunta sobre a avaliação do serviço para quem usa o SUS, a resposta é muito boa. Para quem não usa, é muito ruim. Temos outros problemas estruturais, mas acredito que as questões centrais estão entre os comentários que fiz”, afirma.
Para resolver os problemas do SUS, Temporão propõe um financiamento estável e uma mudança de paradigma entre a população sobre o acesso à saúde. “Acho que o primeiro desafio a ser enfrentado é ter um financiamento estável e que dê conta das necessidades da população brasileira. Segundo, enquanto o SUS não for percebido pela sociedade brasileira como patrimônio intergeracional, que deve ser defendido, estruturado e aprofundado, vamos continuar com a saúde precária”, finaliza.
Abertura para outras visões de mundo
O 1º Colóquio de Pesquisa do PPGCom conta com a participação de pesquisadores de diversas áreas. Além de José Gomes Temporão, o evento terá palestras dos professores Monica Rebecca (ESPM), Cristiane Finger (PUC-RS), Fred Góes (UFRJ), João Massarolo (UFSCar) e Edson Dalmonte (UFBA). Segundo a coordenadora do PPGCom, Gabriela Borges, a variedade de assuntos proporciona aos alunos o contato com outras formas de pensar.
“Temos um conjunto de convidados que, além de serem muito bem preparados, porque são especialistas em suas áreas de atuação, podem nos abordar diferentes perspectivas de estudo. Vão trazer tanto para os grupos de pesquisa, quanto para os alunos de forma geral, diferentes contextos, leituras e visões de mundo”, diz.
Desta vez, as apresentações dos trabalhos desenvolvidos nos grupos de pesquisa do programa de pós-graduação saem do âmbito de jornadas internas e se abrem para novas interlocuções. “Esse encontro é muito importante para o desenvolvimento da pesquisa e para a maturação do projeto de doutorado. Permite também que os professores se conheçam melhor, porque muitas vezes a gente não tem tempo de entender o que o outro estuda, de pensar em outros objetos e possibilidades”, avalia Gabriela.
O colóquio segue com atividades até esta quarta-feira, 29, no anfiteatro da Facom.
Fonte: Assessoria