A escola como instituição social transformadora no Brasil

A escola como instituição social no Brasil foi criada para servir como um dos instrumentos de transmissão da cultura européia. Até metade do século XVIII, as iniciativas de escolarização se construíram sobre a orientação jesuítica.

Com o advento da República, no final do século XIX e a urbanização do país, a educação escolar começa a se disseminar no Brasil. As poucas escolas públicas eram acessíveis apenas às famílias de “classe média” que eram representadas por comerciantes e donos de pequenos meios de produção. As famílias mais abastadas enviavam os filhos para os colégios particulares que funcionavam em regime de internato aqui e, principalmente, fora do país.

A educação de qualidade era privilégio dos nobres. Entretanto, aos filhos de famílias com baixo poder aquisitivo, restava vaga apenas aos filhos mais jovens porque os filhos mais velhos tinham obrigação de dirigir os negócios da família os impossibilitando de estudar. O pior ficava para as mulheres porque eram obrigadas a aprender boas maneiras e prendas domésticas para atender aos seus futuros maridos que, muitas chegavam formadas das metrópoles.

As únicas exceções aconteciam nas escolas técnicas e “normais” que tinham função de preparar “as meninas” das famílias abastadas para educar a mão de obra miscigenada que aqui chegou com o intuito de branquear a cultura brasileira seguindo a orientação do Conde Arthur de Gobbineau que esteve no Brasil em 1858 pelo Darwinismo Social. Esse modelo se estendeu até meados do século XX.

Somente por volta da segunda metade do século XX, a escola brasileira inicialmente elitista e centralizadora, começa a atender a outros grupos sociais que dela foram excluídos ao longo da sua história, graças às inúmeras reivindicações das indústrias que aqui estavam se instalando depois de Juscelino Kubitscheck.

Essa escolarização era básica e continuava promovendo um conhecimento sistematizado, privilegiando uma cultura padronizada. Ou seja, a cultura de atores sociais brancos, masculinos, de classe tida como “média”, considerados “normais” ainda prevaleceu.

Com o aumento da presença de diferentes grupos sociais no interior das escolas, surgiram as discussões acerca de se repensar a instituição escolar no seu fazer e no seu dizer. Com isso, visando suavizar a discriminação, os governos começam a instituir na escola situações em que, acreditavam estar valorizando esses grupos e recuperando suas culturas historicamente negadas. Um exemplo disso é o de dedicar um dia no ano letivo para discutir questões como consciência negra, das formas de opressão de mulheres e da negligência dos cuidados com as crianças etc.

A partir do final do Século XX e início do Século XXI temos algumas outras tentativas de mudanças, como:

– A tendência redentora que usa a escola como a salvação para todos os males e delega autonomia para interferir de forma absoluta, mantendo e conservando todos os flagelos sociais. Infelizmente, essa postura ainda se faz presente hoje, quando ouvimos professor dizer: “ eu não estou nem aí com a educação, fico aqui somente até arrumar uma outra coisa” ou “ graças a Deus, já estou quase aposentando”…

A segunda tendência é a reprodutivista (reproduz o aparelho do estado) ela pretende apenas demonstrar como atua a educação dentro da sociedade, não propõe um modelo pedagógico, mas analisa o existente. A escola é usada como principal instrumento para a reprodução, de um lado, ensinando os saberes práticos e de outro, reproduzindo a cultura da classe dominante. Ou seja, a escola trabalha com “o saber fazer” e o “saber comportar-se”, a fim de tornar o aluno mais competente para manter uma sociedade determinada. Então, os professores recebem os pacotes prontos para serem executados, tanto das secretarias municipais quanto do próprio MEC (Ministério da Educação e Cultura) através dos currículos ocultos; os alunos, são copistas, memorizam os conteúdos sem nenhuma reflexão professor / aluno com relação as necessidades reais do contexto, e, ainda se propagam um discurso vazio, de que está formando um sujeito crítico, reflexivo e autônomo se nem mesmo a própria escola tem autonomia de montar a proposta pedagógica e trabalhar projetos voltados para a realidade local.

A terceira tendência coloca a educação como transformação social, ou ainda, como uma possibilidade de mudança. Nesta perspectiva, os teóricos que discute essa tendência, consideram a possibilidade de agir a partir dos próprios condicionantes históricos. Neste aspecto, Freire argumenta: uma educação que não promove a emancipação reduz o ser humano ao “autômato”, que constitui a negação de sua ontológica vocação de ser mais. Uma concepção de homem como ente “vazio” a quem o mundo “enche” de conteúdos,
Dessa forma, educação é a “ação de educar”, ou seja, fazer com que o sujeito adquira conhecimentos necessários para viver em sociedade. Transformação, é passar alguma coisa de um modelo para outro, é mudar etc.

Nesse aspecto, Freire está atento para os limites da educação como prática de liberdade. Para ele, a educação é modelada pela sociedade segundo os interesses dos que detêm o poder, e sozinha não vai instruir uma sociedade emancipada. Desse modo, Freire enfatiza que embora a educação não seja a alavanca da transformação social, a transformação em si, é um evento educacional.

No contexto atual, o desafio da educação e transformação social é estimular, nas circunstâncias mais diferentes, a capacidade de intervenção e transformação na perspectiva social de emancipação humana contemplando a diversidade cultural. É necessário, portanto, criar condições estratégicas para tal, caso contrário terá que concordar com as palavras de Althusser “o poder dominante é tão forte, que não há possibilidade nenhuma para a escola trabalhar pela sua transformação”.

Portanto, a educação como transformação social não é tão fácil de ser instituída, pois a educação não é por si só um fator determinante de transformação. No entanto, mesmo diante de todos os limites, ela vem ocorrendo a partir de diferentes formas de luta e manifestações de sujeitos sociais nos diferentes lugares, sentidos, povos, culturas em defesa um mundo mais justo e que em um estado de direito todos possam exercer e gozar de sua cidadania.

 

Professor Leonardo Barreto Vargas – Psicólogo, Pós Graduação em Psicopedagogia institucional

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