Resultados preliminares da pesquisa “Perfil da demanda turística LGBT+”, realizada pelo projeto de extensão “Miss Brasil Gay – interfaces com a UFJF e a comunidade”, sugerem que Juiz de Fora recebeu em torno de quatro mil turistas durante a semana de realização do Miss Brasil Gay 2017, da Rainbow Fest Brasil e das atividades da I Semana Rainbow 2017, promovida pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), realizados em agosto deste ano. Os eventos LGBT+ fizeram a taxa de ocupação mensal dos hotéis – que gira em torno de 45% – saltar para 67%, ou seja, um acréscimo de 22%.
De acordo com o professor do Departamento de Turismo do Instituto de Ciências Humanas (ICH) e coordenador do projeto de extensão, Marcelo do Carmo, a análise preliminar permite prever o número aproximado de 4 mil turistas e excursionistas, além da movimentação da comunidade gay local e da população “simpática” aos eventos.
“Se cada uma dessas pessoas gastou na cidade em torno de R$500, temos facilmente a marca de R$2 milhões injetados na economia. Bem longe dos tempos áureos dos eventos LGBT+ locais, mas bem próximo de uma nova etapa na percepção e apoio aos mesmos”.
A ocupação dos hotéis da cidade também é destaque na opinião do professor. “Se 67% dos quartos dos hotéis locais foram ocupados por turistas, logo temos uma média de 855 quartos ocupados com dois turistas por apartamento, o que permite aferir o total de 1.710 turistas nos principais hotéis da cidade. Isso sem contar os turistas que se hospedaram na casa de amigos e os excursionistas, que vieram de cidades vizinhas e não utilizaram os meios de hospedagem”, acrescenta o coordenador do trabalho.
Maioria hospedou-se em hotéis
A pesquisa, que validou um total de 136 questionários, aplicados entre os dias 17 e 20 de agosto no calçadão da Rua Halfeld, na casa de shows Terrazzo (onde foi realizado o 37° Miss Brasil Gay), praça Antônio Carlos (local de realização do Rainbow Fest Brasil) e Cine-Theatro Central (onde foi realizado o show da atriz-cantora, Jane Di Castro), foi custeada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Zona da Mata (Abrasel/ZM).
A idade dos entrevistados é variada, mas há o predomínio do público entre 21 a 65 anos, representado por 122 pessoas, que correspondem a 90,3% dos questionários válidos. O total de turistas cursando ou já tendo concluído a graduação é o mais representativo: 108 pessoas. Sobre a remuneração mensal, 96 pessoas (70,6%) exercem alguma função remunerada. Quanto à faixa salarial: 56 pessoas (41,2%), afirmaram entre um e três salários mínimos.
A respeito do meio de transporte utilizado para chegar em Juiz de Fora, a grande maioria viajou em automóvel próprio (77 pessoas – 56,6%). Sobre os meios de hospedagem utilizados, a maior parte das pessoas se hospedou em hotéis: 78 (57,4%).
Segundo Marcelo, um item levantado pela pesquisa aborda uma questão que exige maior atenção e análise: “trata-se do período de hospedagem, ainda bastante restrito”. Das 136 pessoas entrevistadas, 100 delas (73,5%) permaneceram na cidade entre uma ou duas pernoites. Aquelas que permaneceram em Juiz de Fora por três pernoites correspondem a 13,2% (18 pessoas).
No período da pesquisa, a cidade recebeu turistas oriundos das mais diversas cidades do país. O destaque fica para Belo Horizonte, de onde vieram 12 pessoas (8,8%), Rio de Janeiro (38 pessoas – 27,9%) e São Paulo (quatro pessoas – 8,1%).
Resultados serão apresentados em fórum mineiro
Os resultados do trabalho acadêmico serão apresentados, oficialmente, no 1º Fórum Mineiro de Turismo LGBT, que ocorre na próxima terça-feira, 24, no Museu Brasileiro do Futebol, no Mineirão, em Belo Horizonte.
Para Raphael Rompinelli, aluno do 9º período do curso de Ciências sociais e membro do Grupo de Educação Tutorial (GET) do curso de Turismo, que participou, como bolsista, da pesquisa, o trabalho se mostra importante “não só porque mapeia o perfil do turista que veio à Semana Rainbow, como demonstra o retorno econômico para o município e, sobretudo, como é forte a demarcação identitária do público alvo com a cidade.
Já é o 37º Miss Brasil Gay, apesar do vácuo de três anos, por falta de incentivo. Todavia, a persistência e a vontade dos organizadores só demonstra o quão forte é o evento na cidade”.
O coordenador da pesquisa reitera as palavras do bolsista. “No que diz respeito às questões sociais, o retorno dos eventos LGBT+ é terreno fértil para a pesquisa, a extensão e o ensino. Um universo de possibilidades para se pensar o preconceito, as diferenças ou ‘alteridade’, a aceitação de novas formas de viver, os novos formatos familiares e as novas orientações sexuais e/ou de gênero. Os eventos LGBT+ existem justamente para dar visibilidade e tornar mais ‘palatável’ essa discussão ainda ‘árida’.
Porém, a realidade continua apavorante: um homossexual é morto a cada 25 horas no Brasil; a expectativa de vida para travestis no Brasil é de 35 anos; em países do Oriente Médio e da África, a homossexualidade é punida com pena de morte… e os horrores não param por aí.”, conclui o professor.
I Semana Rainbow
Entre os dias 14 e 20 de agosto, foi realizada em Juiz de Fora uma série de atividades, voltadas para a comunidade LGBT+: a I Semana Rainbow 2017 contou com exposições, exibições de filmes, espetáculo teatral, mesas-redondas, palestras e pesquisa acadêmica. A ação foi promovida por meio de uma parceria entre o projeto de extensão “Miss Brasil Gay – interfaces com a UFJF e a comunidade”, a Pró-reitoria de Cultura, as diretorias de Imagem Institucional e de Ações Afirmativas e diversos cursos da Instituição, além de ter o subsídio de emenda parlamentar, disponibilizada pela deputada federal Margarida Salomão, no valor de R$ 100 mil.
Vinte alunos do curso de Turismo e do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFJF coletaram dados nos principais pontos de interesse do turista LGBT+, com o objetivo de conhecer o turista que visita Juiz de Fora durante a semana do Miss Brasil Gay, de forma que as informações possam servir de subsídio para a proposição de políticas públicas de turismo para a cidade.
Miss Brasil Gay retorna ao calendário turístico municipal
Além da I Semana Rainbow da UFJF, a iniciativa também englobou o 37° Miss Brasil Gay e a 17ª Rainbow Fest Brasil. Marcelo do Carmo afirma que o Miss Brasil Gay continua sendo o “carro-chefe” dos eventos LGBT+ em Juiz de Fora, por acontecer desde 1976. Após um hiato de três anos, o concurso voltou a ser realizado, em uma formatação nova e com novo posicionamento da marca.
“Em uma reconstituição histórica, deve-se destacar o papel inovador do concurso que, desde a ditadura militar, coloca em pauta as discussões sobre homossexualidade e respeito às diferenças, através da arte, da ‘efervescência festiva’, com uma visibilidade poucas vezes vistas no que se diz respeito à atividade turística na cidade de Juiz de Fora”.
Neste ano, 27 candidatos, oriundos dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, participaram da competição que elege o mais belo transformista do país. “O público presente pôde assistir a uma competição de nível bastante elevado, com trajes que ultrapassam o valor de R$ 50 mil”, comenta Marcelo.
Após quatro horas de desfiles, a representante de Minas Gerais, Guiga Barbeiri, foi eleita a Miss Brasil Gay 2017. Além do concurso, a organização também realizou no domingo, 20 de agosto, a Feijoada da Miss, ocasião pela qual o público pôde conhecer e tietar a miss eleita na noite anterior.
Segundo a assessora de imprensa do Miss Brasil Gay, Gisele Cid, a edição 2017 teve, “sem dúvida, a maior repercussão em mídia espontânea da história do evento. Tivemos 30 veículos de comunicação credenciados e mais de cem jornalistas e técnicos trabalhando na cobertura. Além da excepcional repercussão na imprensa regional, tivemos importantes publicações em caráter nacional, como jornais da GloboNews, Fantástico (TV Globo) e o portal Põe na Roda, considerado hoje o mais representativo do público LGBT+”.
Cultura LGBT+
Juntamente à realização do Miss Brasil Gay, no período de 18 a 20 de agosto, o Movimento Gay de Minas (MGM) organizou o Rainbow Fest Brasil. O evento também não foi realizado em 2016, o que, segundo Marcelo, exigiu a redefinição do seu formato. Em 2017, as ações concentraram-se na Praça Antônio Carlos (com apresentações culturais, feira de moda, venda de produtos exclusivos para o público LGBT+, bares e restaurantes) e no calçadão da rua Halfeld (com a montagem de palco e passarela para desfile e apresentação de artistas locais e regionais). Segundo dados do MGM, o Rainbow Fest Brasil teve público médio de 15 mil pessoas, em seus três dias de atividades.
Para incrementar ainda mais a programação, em 2017 foi criado o projeto de extensão “Miss Brasil Gay – interfaces com a UFJF e a comunidade”, que também está sob a coordenação do professor Marcelo do Carmo. A iniciativa tem o objetivo de promover discussões transdisciplinares sobre o tema e dar protagonismo à comunidade acadêmica no que diz respeito às discussões sobre homossexualidades, identidades de gênero e sexuais, além do respeito à diversidade.
As atividades do projeto estiveram concentradas entre os dias 14 e 20 de agosto, e foram compostas por uma exposição de fotografias e artes plásticas, festival de cinema, palestras e rodas de conversa, teatro, espetáculo musical, e aplicação da pesquisa acadêmica “perfil da demanda turística”, além de ações de sensibilização para DST e Aids.
“Os eventos reuniram a média de cinco mil pessoas, nos seus sete dias de duração, mas o impacto e a repercussão são avaliados como positivos, uma vez que o objetivo de sensibilizar a comunidade acadêmica para os temas foram alcançados, o que faz com que a Semana Rainbow da UFJF passe a constar no calendário de eventos da instituição, com sua realização garantida para os próximos anos”, avalia o coordenador.
Fonte: UFJF