Vereadores se reuniram na tarde dessa terça-feira, 17, para discussão das pautas presentes na Ordem do Dia. Dentre elas, estava a votação das moções de repúdio, protocoladas pelos parlamentares André Mariano (PSC) e José Mansueto Fiorilo (PTC), à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e ao Colégio de Aplicação João XXIII, devido ao vídeo de comemoração do Dias das Crianças.
Desde a abertura da plenária, os manifestantes contrários e a favor das moções trocaram ofensas. A leitura da Ordem do Dia foi interrompida diversas vezes devido às manifestações do público presente. O ápice da discussão foi entre um estudante, contrário ao documento, e um homem que estava a favor. Durante a troca de ofensa dos mesmos, manifestantes gritavam e os vereadores Mello Casal (PTB) e Roberto Cupolillo (Betão-PT) intervieram, mas os dois parlamentares também entraram em atrito verbal e foram separados pelos demais vereadores.
Após o tumulto, o presidente da Casa, vereador Rodrigo Mattos (PSDB), informou aos presentes que o parlamentar Fiorilo retirou a moção que tinha protocolado.
MOÇÃO DE REPÚDIO
Dando continuidade à reunião, foi a vez do vereador André Mariano subir ao púlpito e se posicionar. No início de sua fala, o parlamentar afirmou que a moção não era para as instituições, mas sim para a atividade. “Eu sei que existem profissionais que não concordam com tudo que acontece, mas a atividade não trouxe indignação simplesmente a eles, mas também às famílias”, disse Mariano.
Em seguida, ele afirmou que estava retirando a moção de forma provisória para ouvir uma resposta das instituições de ensino. “A atitude que eu estou tomando é de certa forma para que a gente possa ter uma reposta da UFJF e da direção do João XXIII. Uma resposta de uma atividade que aconteceu na escola e que nós não concordamos”, ponderou.
O parlamentar afirmou que tomou a decisão a partir do pedido da Mesa Diretora da Câmara e de outros vereadores. “Eles [vereadores] também querem entender essa atividade. Nós queremos uma resposta e temos esse direito”, falou Mariano, que também afirmou que uma audiência pública será agendada para abordar o assunto.
Depois da fala do vereador, Rodrigo Mattos afirmou que uma reunião entre a Câmara Municipal e a Universidade foi agendada para esta quarta-feira, 18.
O representante do Partido Conservador em Juiz de Fora e diretor da Direita JF, Alexandre Leonel, estava presente na reunião e afirmou que assistiu ao vídeo e era a favor das moções. “Eu tenho um profundo respeito pelos homossexuais, mas eu sou contra a imposição da ideologia de gênero nas escolas”.
Leonel também afirmou que é necessário que haja o diálogo entre as partes. “Não devemos impor uma agenda. Devemos ter uma discussão sim, mas sem empurrar a ideologia de gênero. Como o projeto Escola Sem Partido, que prevê que se seja ouvido à esquerda e a direita”, ressaltou.
A FAVOR DA DIVERSIDADE
Quem também estava acompanhando a reunião era a militante transexual Bruna Leonardo. Para ela, falar sobre diversidade sexual e de gênero nas escolas faz com que as crianças e adolescentes entendam que a diversidade existe. “Assim, eles passam a respeitar os colegas de sala e escola, porque eu acredito que o preconceito é construído e, assim como ele é construído, pode ser desconstruído. Então, se você não mostrar que ser diferente é normal, eles vão continuar a reproduzir a LGBTfobia e oprimindo os colegas com piadinhas e até com agressões físicas”, frisou Bruna, ao afirmar que é necessário criar uma geração que respeite e aceite toda a diversidade.
A militante também afirmou que assistiu ao vídeo e achou maravilhoso. “Quando o menino fala ‘essa coisa de menino e de menina é preconceito’ fica claro que quando você reforça que existe brinquedo de menino e de menina, aqueles que foram ocasionalmente brincar com um brinquedo considerado do gênero oposto vai sofrer homofobia ou lesbofobia”, reforçou Bruna, que também disse que a ideia do vídeo era mostrar que as crianças podem brincar com o que elas quiserem.
Entre os presentes também estava o estudante Nino de Barros, que interpreta a drag queen Femmenino. Para ele, a situação criada a partir do vídeo é muito estranha, pois já trabalha na Diretoria de Imagem Institucional, responsável pela produção do programa “Na hora do Lanche”, há dois anos e sua personagem já teve contato com crianças. “No Som Aberto [evento realizado na Universidade e no qual Femmenino apresenta as atrações], minha drag teve contato com várias crianças e famílias inteiras e ninguém me difamou via internet ou pessoalmente. Acho que tudo, na realidade, é um jogo político”, afirmou.
Questionando se há falta de conhecimento do que é drag queen e travesti ou transexual, Nino afirmou que sim. “A pessoa que estava comentando e disseminando ódio nos comentários não tem esse tipo de informação. Então para eles, é uma grande confusão. Eu faço drag queen que é uma performance de gênero e é diferente de ser uma trans e uma travesti . Sobre isso, eles não querem se aprofundar e discutir”, concluiu o artista, que completou dizendo que o público confunde as questões relacionadas a gênero com as relacionadas a orientação sexual.
POSICIONAMENTO
O vereador Betão leu no plenário a nota de esclarecimento do Colégio de Aplicação João XXIII. Confira:
“O Colégio de Aplicação João XXIII, pelo respeito que tem por seus alunos, pais e familiares, bem como para informar corretamente a população de Juiz de Fora, vem a público para esclarecer o que se segue a respeito de atividade programada pela Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, postada em vídeo no site da UFJF no dia 12/10/2017:
1 – A produção do vídeo faz parte do Programa Institucional “Na Hora do Lanche”, que é veiculado mensalmente pelo canal do youtube TVUFJF. O contexto do vídeo é a temática do dia das crianças. Femmenino, personagem interpretada por Nino de Barros, estudante da UFJF e bolsista participante da equipe de produção do referido programa, comparece ao Colégio para conversar com os estudantes sobre o que gostariam de receber como presente pelo dia das crianças. Foi uma conversa descontraída e divertida.
2 – A partir das respostas dadas pelas crianças, surge o questionamento sobre a distinção estabelecida entre o que é presente de menino e o que é presente de menina, o que claramente trata-se de um condicionamento cultural, uma vez que os brinquedos simulam os papéis sociais masculino e feminino. Não se coloca aqui a questão das diferenças biológicas existentes entre meninos e meninas, mas os papéis que nossa cultura atribui a uns e outros.
3 – Educar para a diversidade significa o estímulo ao reconhecimento de que somos diferentes, e de que respeitar as diferenças, sejam elas quais forem, além de não significar adesão a essas diferenças, é a alternativa para construirmos uma sociedade mais fraterna e tolerante.
4 – O trabalho pedagógico, que não pode prescindir do diálogo, se desenvolve em instituições escolares e, como indicado no art. 1o da lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, § 2o, estabelece que “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.” Ora, a prática social engloba todas formas de estar no mundo e relacionar-se com o outro. Portanto, uma educação que pretenda cumprir efetivamente seu papel não pode desvincular-se desse compromisso de considerar todas as manifestações da realidade social.
5 – O Colégio de Aplicação João XXIII orgulha-se de valorizar a diversidade e uma demonstração inequívoca desse orgulho pode ser vista na forma de ingresso de seus estudantes: o sorteio público. Essa forma contempla o acesso de estudantes oriundos de diferentes níveis sócio-econômico-culturais, de diferentes etnias, de religiões várias etc. A sociedade juizforana reconhece a qualidade do trabalho do Colégio e acorre em grande número em atendimento aos editais que informam a abertura de inscrições para o sorteio público, que indicará os discentes que iniciarão sua jornada estudantil no Colégio.
6 – Não faz sentido diversificar na entrada para padronizar depois. Portanto, pedagogicamente, o tema da diversidade faz parte do projeto educativo defendido e praticado pelo Colégio. A temática veiculada não apresenta conflitos com os princípios orientadores daquilo em que o Colégio acredita e trabalha, de forma respeitosa e adequada à faixa etária dos estudantes, como parte de seu Projeto Político Pedagógico.
7 – Desconsiderar aspectos da realidade e considerar determinados assuntos interditados ao trabalho pedagógico, aí sim é permitir a formação de conceitos e práticas baseados na intolerância, nos costumes que têm cristalizado situações de injustiça e desrespeito e na falta de comprometimento com o desenvolvimento da sociedade como um todo. Destacamos que em nossa ação pedagógica não há qualquer elemento de doutrinação, mas de construção de uma autonomia, de um respeito às capacidades de entendimento dos estudantes, que, ainda que com pouca idade, vivem e formam seu pensamento a partir de tudo que os rodeia.
Esperamos que estes esclarecimentos possam realçar o compromisso que o Colégio de Aplicação João XXIII tem assumido com uma educação de qualidade, que, para além da veiculação de um conteúdo relevante, estimule a formação de cidadãos comprometidos com o respeito, com a justiça, com o desenvolvimento social e com a transparência das finalidades orientadoras das ações que desenvolve.”