Após um juiz federal do Distrito Federal autorizar, na segunda-feira, 18, em caráter liminar, que psicólogos possam atender eventuais pacientes que busquem terapia para reorientação sexual, jovens e adolescentes começaram a se mobilizar em Juiz de Fora para se reunir em um ato contra a decisão. “Na terça-feira, já tinham dois grupos no WhatsApp [aplicativo de mensagens para smartphone] se organizando para realizar um ato na cidade. Destes grupos, dez pessoas saíram e assumiram a organização da manifestação”, disse um dos organizadores, Felipe Borges Modesto. “Fizemos um evento no Facebook que tinha mais de mil confirmações no ato”, acrescentou.
Os manifestantes se reuniram na tarde dessa sexta-feira, 22, em frente à Câmara Municipal, no Parque Halfeld. O ato foi marcado com a presença de muitos adolescentes e jovens. “Desde jovem, precisamos ter posicionamento político definido para escolher nossos representantes, lutar pelos nossos direitos e não deixar ninguém passar por cima da gente”, afirmou Modesto, ao ressaltar que os organizadores possuem idade entre 16 e 19 anos.
“Queremos continuar com esse movimento e que ele possa aumentar também. Após este ato, que também foi realizado em outras cidades, que esta liminar seja revogada”, ponderou o manifestante.
Para a militante trans Bruna Leonardo, a presença de pessoas mais jovens no ato demonstra o grande passo para um futuro promissor. “Eu fico muito feliz em vê-los aqui. Quando eu sofria bullying na escola, na década de 90, ficava muito triste e eu não entendia o porquê”, ponderou Bruna. “Mostra que a juventude está entendendo que identidade de gênero e orientação sexual não é nada anormal e, por isso, estão tendo coragem de se assumir ou apoiar. Jovens livres de preconceito são um dos maiores presentes, pois são o futuro da nação”, completou a militante.
Bruna ainda afirmou que a decisão é dúbia ao dizer que as pessoas têm o direito de deixar de ser homossexual, por exemplo. “Se ela quer ser ‘curada’ é porque ela sofre preconceito, e, na verdade, ele que deveria ser ‘curado’”, ressaltou.
Cláudia Jacobsen, representante do coletivo “Mães pela Diversidade”, afirmou que a liminar é um retrocesso. “Essa decisão traz de volta um debate que já tinha sido concluído e o preconceito. A comunidade LGBT+ não precisa ser tratada. Ela precisa é de respeito”, ressaltou a militante, ao relembrar as decisões da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Desde 1990, a OMS não entende as questões de orientação sexual como doenças. Nove anos depois, o CFP proibiu os psicólogos de exercerem qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, bem como de colaborarem com eventos ou serviços que proponham o tratamento e a cura da homossexualidade.
“Este não é o caminho. As pessoas não devem ser rotuladas. Somos seres humanos com sonhos, vontades e medo. Deveríamos ser tratados como iguais”, frisou Cláudia.