No intuito de quebrar os tabus que envolvem a doação de órgãos, além de promover maior conscientização na população sobre a importância de se tornar um doador, o mês de setembro está sendo marcado pela campanha “Setembro Verde”, promovida Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), que traz o lema “Doe órgão, doe vida”, como estratégia para incentivar sociedade a conversar sobre o assunto.
“É a oportunidade de difundir, tirar dúvidas e convidar as pessoas para debaterem sobre as doações de órgãos. Infelizmente, um dos pontos críticos do transplante é a falta de doador, que tem aumento, em razão da recusa familiar. Entretanto, é muito importante que as famílias conheçam o processo de doação para poder dizer sim ou não”, afirma o Cirurgião do Serviço de Transplante de Fígado do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Juiz De Fora, Gláucio Souza. Ele acrescenta que a cidade abrange uma região com cerca de 2,5 milhões de habitantes e registra média anual de 20 a 25 doadores, que não atende completamente a demanda.
A fila de pessoas que esperam por um transplante, justifica a necessidade de mais doadores. Dados fornecidos pela SES-MG mostram que até março deste ano, 3.392 pessoas aguardavam por um transplante em Minas Gerais. Deste total, 2.352 esperavam por um rim, 41 por um fígado, 34 por coração, um por pâncreas, 52 por pâncreas/rim e 912 aguardavam por córnea. Conforme números do MG Transplantes, responsável por coordenar no estado a política de transplantes de órgãos e tecidos, em Juiz de Fora, que realiza transplantes de rim, fígado e córneas, e opera em parceria com a Santa Casa, 296 juiz-foranos estão esperando por um rim, três por um fígado e 26 por um transplante de córnea.
TRANSPLANTE EM JUIZ DE FORA
A Santa Casa de Juiz de Fora é referência em transplantes no estado. Salvando vidas desde 1983, o hospital é especializado em transplante renal, de fígado, córnea e, em breve, começará realizar transplante de pâncreas, já que também é habilitada. Somente em 2017, a entidade transplantou 64 rins e um fígado, além de manter a média de 80 cirurgias renais, anualmente, desde 2013.
Para conseguir a indicação, o hospital vem investindo constantemente para atender a demanda. A equipe multiprofissional conta com médicos, anestesistas, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, imunologistas, cirurgiões e hepatologistas para dar mais eficiência e eficácia aos procedimentos. “Nos últimos anos estamos fazendo investimentos para desenvolver atividades em transplante de órgãos. Foi criada uma unidade de transplantes dentro do hospital, onde os pacientes ficam internados e recebem cuidados diários de toda a equipe, que conta com equipamentos de primeira linha”, explica Souza.
COMO SER UM DOADOR
O primeiro passo é informar o desejo à família. Após o diagnóstico de morte encefálica, ela é consultada e orientada sobre o procedimento de doação de órgãos. A conversa é realizada pelo próprio médico do paciente, pelo médico da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ou pelos membros da equipe de captação, que prestam todas as informações que a família necessitar.
Considera-se como potencial doador todo paciente em morte encefálica. A morte encefálica, mais conhecida como morte cerebral, representa a perda irreversível das funções vitais que mantêm a vida, como a perda da consciência e da capacidade de respirar; o que significa que o indivíduo está morto. O coração permanece batendo por pouco tempo e é neste período que os órgãos podem ser utilizados para transplante.
Quando o doador é uma pessoa falecida, podem ser retirados para transplante duas córneas, dois rins, dois pulmões, fígado, coração, pâncreas, intestino, pele, ossos e tendões. Ou seja, um único doador pode salvar muitas vidas. Mas a retirada dos órgãos não pode esperar muito. Por isso a decisão deve ser tomada o quanto antes.
Também é possível ser doador em vida, sem comprometer a saúde, doando tecidos, rim e medula óssea. Ocasionalmente, também é possível doar parte do fígado ou do pulmão. Entretanto, algumas exigências são feitas aos doadores. “Para ser um doador a pessoa tem que ter a saúde perfeita, vários exames são realizados para comprovar a aptidão, além de ser um ato solidário. Pela lei, parentes até quarto grau e cônjuges podem ser doadores”, lembra o especialista, reforçando que não parentes só podem doar com autorização judicial.
OUTRAS AÇÕES NA CIDADE
O presidente das Ligas Acadêmicas Unificadas de Transplante de Órgãos de Minas Gerais, Ariel Victor Duarte e Cruz, ressalta a importância de divulgar o tema. “Uma grande barreira da doação é a falta de doadores. As pessoas não têm informações e conhecimento sobre o assunto. Geralmente, eles associam a doação à morte, que é um assunto que ninguém gosta de falar, porém, a doação não tem nada a ver com isso. Ela é a oportunidade de dar a vida à outra pessoa e a chance de encarar o falecimento de outra maneira, sabendo que está fazendo o bem para alguém”, defende.
A instituição vem realizando trabalhos de conscientização em vários pontos da cidade, como as escolas, além de integrar alunos que estão formando nas áreas da medicina, proporcionando a eles a experiência de estar em contato com o transplante. “Nossas atividades são voltadas para fomentar o conhecimento. Vamos a praças, locais públicos, escolas, onde conversamos com as pessoas, pois acreditamos que as pessoas precisam do conhecimento. Observamos nas ruas que elas não sabem o que é e como funciona o processo para ser doador. Quando difundimos nossos trabalhos com os estudantes, estamos fazendo com que eles, que ainda são jovens, discutam sobre o assunto e compartilhem com a comunidade”, finaliza.