O mês de setembro é dedicado a conscientização da população sobre a realidade do suicídio. A campanha setembro amarelo, movimento organizado no Brasil pelo Centro de Valorização à Vida (CVV), visa alertar a população e dar ênfase a prevenção. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) é possível prevenir o suicídio desde que a gente consiga trabalhar com os fatores protetivos”, ressaltou Andréia Stenner, gerente do Departamento Especializado em Saúde Mental (Desm) da Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
Conforme os dados da OMS, 800 mil pessoas tiram a sua vida por ano. É uma morte a cada 40 segundos, segundo o relatório de 2015 da organização. O levantamento também indica que o Brasil é o oitavo país no ranking. Por dia, 32 brasileiros cometem autoextermínio, taxa superior às vítimas da Aids e da maioria dos tipos de câncer. A OMS também afirma que nove em cada 10 casos poderiam ser prevenidos.
“O primeiro passo é identificar as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e que estejam pensando em desistir da vida”, disse a especialista. Segundo Andréia, esse pensamento geralmente é causado por fatores desencadeadores, como uma separação ou a perda do emprego. “Esta pessoa passa por uma situação que a gente considera limite e que a leva sentir sem saída. Portanto, ela acha que o próprio recurso é tirar a própria vida”, ponderou.
O passo seguinte é trabalhar os fatores protetivos, ou seja, as alternativas que essa pessoa tem para lidar com o problema. “Adquirir hábitos saudáveis, não ficar sozinha, se relacionar em grupo, fazer atividade física, se inserir em contexto saudável, conversar com alguém mais próximo sobre o que está acontecendo, religiosidade e valores motivacionais, como fé, esperança e resiliência. Então, você valoriza esses fatores protetivos para que a pessoa se previna e não ache que a única saída diante do problema é retirar a própria vida”, frisou Andréia ao afirmar que o uso de medicamento será necessário em casos graves.
A especialista reforçou que a busca por ajuda é fundamental. “Às vezes, uma pessoa faz ingestão abusiva de medicamentos, e por tabu da própria família, recebe o tratamento no hospital e retorna para casa. É importante que os familiares procurem o atendimento de saúde mental, porque naquele momento a conseqüência foi resolvida, mas o que motivou o problema não”, explicou Andréia.
Para busca de tratamento, as pessoas devem procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS), onde será avaliada e, se necessário, encaminhada a um Centro de Atenção Piscosocial.
DEBATE
Em Juiz de Fora, buscando discutir o tema, desconstruir mitos e compartilhar informações de modo a facilitar a busca por ajuda, o Desm promove uma mesa-redonda no dia 21 de setembro, entre 10h e 12h. “O tema será ‘a potência de viver e o suicídio: formas de prevenção’ e terá participação de psiquiatras e psicólogo’”, disse Andréia.
As inscrições podem ser feitas pelo telefone 3690-7183. O evento será realizado no auditório do Subsecretaria de Vigilância em Saúde, localizado na Avenida dos Andradas, nº523, no bairro Jardim Glória, região Central.
MÍDIA
No início do ano, suicídio se tornou um tema recorrente nas rodas de conversa após o serviço de streaming Netflix lançar a série “13 Reasons Why”, que narra as causas do suicídio de uma adolescente. “O cuidado que se deve ter é que pode ocorrer o fenômeno de contágio. Dependendo da forma que o assunto é abordado, ao invés de fortalecer os fatores protetivos, pode gerar um contágio e as pessoas acabarem realizando o ato. Quando você trabalha a prevenção, você trabalha a proteção e isso deve estar em evidência”, afirmou Andréia.
A partir das questões levantadas pela série, o Serviço de Psicologia Aplicada, Clínica Escola do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, realiza, no dia 14 de setembro, às 19h, uma palestra que aborda o tema. “É muito complicado, pois a percepção é individual. Uma pessoa com dificuldade pode tomar aquilo de exemplo ou como reforço para aquela ideia, mas também pode ter efeito contrário. O mais importante é a gente realmente ressaltar que aquilo pode ser cuidado e que é preciso falar dessa dor”, ponderou a coordenadora da clínica-escola, Elza Lobosque, sobre a representação do assunto na mídia.
Além da palestra, a instituição irá confeccionar um mural falando sobre suicídio e fará panfletagem sobre o tema na parte da manhã e à noite, na entrada do Centro Universitário. “Os índices que a gente tem são da mídia e as informações dos consultórios da Clínica Escola. Nós percebemos um aumento de pessoas que já tentaram ou pensam em tirar a sua própria vida”, disse Elza.
De acordo com a especialista, os sinais podem variar. “Pode ser que a pessoa nunca teve essa ideia, mas acontece com perda pontual, com a qual ela não consegue lidar, e desencadeia um processo depressivo que leva a pessoa à essa situação. Diferente disso, pode ter casos em que o indivíduo não identifique essa dor, pois podem ser questões psicológicas inconscientes que estão ali guardadas e que são pequenas, mas se juntam e se tornam uma bola de neve. Nesse caso, por exemplo, não tem uma causa específica, mas várias que levaram a isso”, explicou Elza.
Apesar das diferenças que podem levar ao pensamento suicida, o primeiro indício é o mesmo: a mudança de comportamento. “O indivíduo muda o comportamento e se esquiva de dar informações sobre ele ou dos seus afazeres. As pessoas mais próximas conseguem perceber mais fácil”, disse.
Para ela, a divulgação da campanha é fundamental. “Quanto mais informação melhor, pois a gente dá oportunidade para as pessoas conhecerem as suas possibilidades e poderem encontrar um lugar onde serão acolhidas e terão atendimento psicológico”, falou Elza.
A instituição ainda estuda a possibilidade de realizar ações de conscientização e prevenção no Centro da cidade. Porém, aqueles que necessitam de ajuda podem agendar uma consulta com a Clínica Escola pelo telefone 3249-3644.