O que poderia acrescentar, à nossa sociedade, uma criança com dificuldade de locomoção, fala, comunicação ou interação, se elas não produzem nada, não geram conhecimentos e são um “peso morto” que muitas vezes dependerão eternamente de auxílio externo até mesmo para as funções fisiológicas mais básicas?
Comunidades nômades simplesmente deixavam os recém-nascidos deficientes para trás ou colocariam a sobrevivência de todo o grupo em xeque. Incluem-se, nessas comunidades, muitas de nossas tribos indígenas atuais.
Mesmo algumas sociedades evoluídas com cidades estruturadas, bem desenvolvidas e com moradias fixas permitiam tanto aos nobres quanto aos plebeus se desfazerem de suas crias deficientes. Esparta, por exemplo, dentro de uma Grécia antiga que se vangloriava por sua democracia e racionalidade, lançava os incapacitados ao abismo.
Na Idade Média a deficiência era considerada uma “prova científica” da ira divina. Ainda hoje, em algumas regiões da Índia, uma dádiva ou reencarnação de alguma divindade.
Vivemos tempos polarizados, extremos e utilitaristas. Se você tem função, utilidade ou comunga com minha ideologia, ok… se não, tá fora.
Mas também vivemos uma época de muitos “não me toques”, “mimimis” e posturas “politicamente corretas”. Onde se corre o risco de ser queimado em fogueira pública por se questionar argumentos das minorias.
Certa vez fui a um sítio com uma antiga sócia que tinha uma filha com paralisia cerebral que comprometia severamente suas funções motoras. Chegando lá, ao lado da piscina, ela deixou a criança apenas de biquíni, vestiu-lhe uma boia em cada braço e, de rompante, lançou-a à piscina.
Para ser politicamente correto tentei manter uma cara de normalidade. Queria respeitar a cultura alheia (quase como um Darcy Ribeiro frente aos indígenas): vai que ela era espartana e estava sacrificando a prole deficiente ao mar?!
Vendo minha cara ela disse: dentro d’água a Mary se sente livre, consegue ficar em pé sem o tutor e os movimentos das pernas a fazem locomover como se caminhasse normalmente.
Aí minha cara mudou de politicamente correto para embasbacado.
Em conversas posteriores ela me confessou que quando sua filha nasceu, questionou a um amigo próximo:
– Meu Deus, mas o que eu poderei ensinar a essa criança?
Ao que ele respondeu:
– Já parou para pensar que talvez ela não tenha vindo a este mundo para aprender, mas para ensinar…
– Mas ensinar o quê? – retrucou.
– Paciência, humildade, carinho, compreensão, enfim: humanidade!
Dia 20/08 tem início a Semana Nacional da Criança Excepcional. Por isso as dicas da coluna de Arquitetura de hoje vão ao encontro dessa luta, dando dicas de projetos e soluções que permitam a essas crianças difíceis (como quase como qualquer outra) autonomia e segurança em seu desenvolvimento.
Portas de 80cm (preferencialmente de correr e com barras verticais) garantem o acesso de andadores e cadeiras de roda.
Equipamentos à altura: móveis com altura regulável respondem às várias necessidades de acesso e idades.
Móveis sem quina viva: os anjos da guarda dizem amém.
Vaso sanitário de deficiente?! Esse com um buraquinho na frente é altamente inacessível. Pergunte a quem precisa usá-lo.
Cores contrastantes ajudam a alertar às crianças (e adultos) que têm dificuldade de visão, além de estimularem processos de desenvolvimento cognitivo.
Estímulos táteis e sensoriais
Reabilitação animal: animais são ótimos companheiros e estimulam sociabilidade e capacidade cognitiva.
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