Como relatar em palavras as coisas do coração e revelar a profundidade daquilo que é mais intrínseco ao ser humano (o amor)? Eis um sentimento sem forma, cor ou cheiro. Ele não é palpável, mas é possível senti-lo de forma desmedida. Há quem diga que o Dia dos Pais é todo “santo” dia, mas uma data – para muitos apenas comercial – pode ser o gatilho necessário pra um abraço apertado há muito tempo não dado ou um “simples” “eu te amo”. Pensando nos aprendizados que a vida tem pra dar, o Diário Regional reuniu algumas histórias de luta e superação.
“Lembro do médico obstetra falando: ‘nasceu o Arthur’. Foi instantâneo. Senti minha vida mudar na hora. Pensei: nasceu a pessoa que eu mais amo. Depois do nascimento, tive que sair da sala. Nessa hora, cinco minutos transformaram-se em cinco anos. A ansiedade e mil pensamentos tomaram conta de mim”, revela o jornalista Leonardo Bonoto, 40 anos, casado há três e pai do pequeno Arthur de um ano e dois meses.
Leonardo Bonoto ao lado do filho Arthur. Foto: Arquivo Pessoal
Na lista de emoções que fizeram história no coração de Leonardo, também estão o momento no qual ele ouviu o coração do filho pela primeira vez e a reação do pai ao saber da gravidez. “Por causa de problemas de saúde que tive, eu e minha mulher optamos pela inseminação artificial. Deu certo de primeira, o que costuma ser raro neste tipo de procedimento médico. Ela me deu a notícia da gravidez pelo WhatsApp, pois eu estava no trabalho naquela hora. Toda minha família comemorou. Meu pai, inclusive, me abraçou e chorou, pois ele sempre soube que a paternidade era um sonho pra mim. Após um mês e meio de gravidez, eu e minha esposa escutamos o coração dele batendo durante o exame de ultrassom. Nem consigo explicar o que senti”, finaliza Leonardo.
TRANSFORMANDO A DOR EM CORAGEM
Os super-heróis existem. Mas diferente da imagem construída pelas pessoas na infância, eles não andam por aí voando com aquelas roupas coloridas que lhes são típicas. Na verdade, estão entre nós. São mortais, mas com uma força interior inexplicável. Este é o caso de Octavio Fernandes, pai do pequeno Paulinho, que faleceu no dia 27 de julho de 2016, aos seis anos, devido a uma infecção generalizada grave, após contrair um vírus no pulmão. Também vítima de Leucemia, o menino recebeu um transplante de medula em novembro 2015. Nas altas hospitalares, Octavio chegou a se vestir várias vezes de super-herói para “resgatar” o filho das internações. Apesar do câncer não ter voltado, a saúde de Paulinho foi ficando debilitada por conta da quantidade de corticóides.
O menino se tornou símbolo de uma campanha no Facebook, por meio da página Juntos pelo Paulinho, que fez aumentar o número de cadastros de doadores de medula óssea no Hemominas de Juiz de Fora. Por fim, a mobilização se estendeu por todo o país e ganhou, além de mídia nacional, adeptos de todo o Brasil. O pai destaca – e relembra – que a campanha sempre foi a favor da vida de todos os que precisam da doação de medula. Sempre articulados nas redes, Octavio e sua esposa, Paula Chagas, mantêm a página em operação. Paulinho se foi, mas o seu exemplo ainda gera vida pra quem precisa.
“Eu estava lá quando ele se foi. Até hoje há momentos que choro. As fotos até consigo ver, mas os vídeos não. Meu filho mais velho, de 24 anos, já mora sozinho, mas começou a me visitar com mais frequência. O Arthur atualmente está com quatro anos. Mesmo com a pouca idade, ele sempre me fortalece. Quando estou triste e meu olho enche d’água, ele vem e diz: ‘eu sei que você está com saudade do Paulinho. Não fica assim não pai. Ele tá bem lá no céu!’ O Arthur sempre me coloca pra cima. Então, não consigo dar sequência naquele sofrimento”, relata Octavio.
Octavio Fernandes com os filhos Arthur (à direita) e Paulinho (à esquerda). Foto: Arquivo Pessoal
Com o tempo a dor diminui? O pai de Paulinho diz que não. “A dor da perda de um filho nunca passa. Aprendi a conviver com ela. Faço tratamento pra conseguir fazer outras coisas e não deixar isso me abater. O que muda é a forma como a gente encara. Buscamos na fé o auxílio pra conseguir suportar”, conta Octavio, que define sua concepção de pai. “É preciso ter dedicação. Pra que seu filho seja um agente de mudança, você tem que ser pra ele um exemplo; alguém em quem se espelhar”, finaliza.
PAI E FILHA NA UNIVERSIDADE
Que tal ir para a faculdade junto com seu pai? Mariana Monteiro, 23 anos, fez isso por algum tempo. O militar aposentado Wellington Monteiro, 53 anos, não teve, quando mais jovem, a oportunidade de estudar, porque começou a trabalhar muito cedo. Hoje, formado, ele é professor de sociologia na unidade educacional do Ceresp, onde ministra aulas de sociologia para detentos do sistema prisional.
“Meu pai voltou a estudar depois de quase 30 anos parado. Há cerca de três, ele não tinha nem o ensino médio. Então, estudou por meio do projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Colégio de Aplicação João XXIII. Por meio do Enem, ele entrou na UFJF para fazer a graduação de Ciências Humanas e atrasou um semestre para que pudéssemos formar juntos”, conta Mariana, que relata ainda sua experiência na colação de grau. “A formatura aconteceu recentemente, no dia 9 de agosto. Foi ele quem entregou o meu diploma ao invés do meu coordenador”.
Mariana Monteiro e seu pai, Wellington Monteiro, formaram-se no mesmo curso na UFJF em agosto deste ano. Foto: Arquivo Pessoal
Mariana revela também que o contato dentro da sala de aula com seu pai, em algumas disciplinas, também rendeu boas conversas de cunho acadêmico dentro de casa. “Sempre discutimos questões sobre política em casa, por exemplo. Com isso, minha mãe acabou aprendendo muitas coisas também. Tenho muito orgulho do meu pai. Ele me inspira e me faz querer sempre almejar coisas melhores pra mim”, confessa orgulhosa.
O PODER DA FAMÍLIA
O frentista aposentado Nilson Geraldo da Silva, 56 anos, sempre teve uma vida ativa. Independente e sempre acostumado a tomar todas as decisões, o homem, pai de três filhos, foi diagnosticado, em janeiro deste ano, com a Síndrome de Guillain-Barré, uma doença neurológica, cujo principal sintoma é a fraqueza muscular. A paralisia pode começar pelos pés e subir pelo corpo, chegando até o rosto. Em casos mais graves, pode afetar o diafragma e levar à morte.
Com amor e dedicação, Luis Arthur ajudou seu pai a superar as complicações da Síndrome de Guillain-Barré. Foto: Arquivo Pessoal
“Após o diagnóstico, meu pai ficou cerca de 45 dias internado. Logo na primeira semana ele ficou sem andar, e os movimentos dos braços ficaram comprometidos. Só era possível realizar a alimentação por meio de uma sonda”, explica um dos filhos, Luis Arthur Amaral Silva, 25 anos. “Atualmente, ele anda com o auxílio de uma muleta. Pra voltar a comer sem sonda, demorou dois meses e meio. A dependência da família pra fazer tudo deixava o meu pai estressado algumas vezes. Entretanto, ele foi forte e, de certa forma, soube lidar bem com a doença, pois além do nosso apoio constante, ele é um homem de muita fé. Uma das coisas que ele mais sente falta é de realizar suas atividades como Ministro da Eucaristia”, destaca Luis Arthur.
“Meu pai é um cara brincalhão, mas não é do tipo de pessoa que para pra conversar mais intimamente. Porém, eu aprendo com ele diariamente por meio de suas atitudes”, finaliza Arthur.