Imersos no amplo universo tecnológico, dentro dos prédios ou casas, e com uma quantidade infindável de alimentos industrializados e repletos de condimentos à disposição, as crianças, mesmo com a pouca idade, já enfrentam problemas de saúde, como obesidade e colesterol elevado. O informado até aqui não é novidade, porém, “cabe aos pais darem o exemplo de boas práticas e estimularem os filhos a fazerem o mesmo”, garante a médica pediatra Márcia Mizrahy.
“As crianças, hoje em dia, passam muito tempo dentro de casa assistindo televisão ou jogando vídeo game, por exemplo. De forma precoce, muitas delas já utilizam celular, e isto contribui para criar condições que favoreçam a obesidade. A falta de contato com o ambiente externo ajuda a diminuir os níveis de vitamina D, fundamental para o bom desenvolvimento”, avalia Márcia.
OS NÚMEROS COMPROVAM
O Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE), por meio de sua última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, aponta que 65,5% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental não realizam 300 minutos de atividades físicas na semana. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda pelo menos 420 minutos.
Já a agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) revelam que mais da metade da população brasileira está com sobrepeso. Entre as crianças menores de cinco anos, estima-se que 7,3% delas estão acima do peso.
ORIENTAÇÕES
A médica pediatra enfatiza ainda que, no caso de adolescentes, a TV, o celular e o computador, entre outros dispositivos tecnológicos, não podem sobrepor as relações interpessoais. “Os pais devem ficar atentos e chamá-los para o convívio social. O uso excessivo desses dispositivos contribui para uma vida sedentária e aumento de peso. Hoje a obesidade é a epidemia do mundo”, instrui Mizrahy.
De acordo com guia lançado pela SBP no fim de julho deste ano, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garantem às crianças e jovens o direito ao lazer, ao esporte e à diversão, assim como o acesso à saúde. Destaca-se, portanto, que o país firmou, em março deste ano, junto a Organização das Nações Unidas (ONU), o compromisso de combater a obesidade infantil.
Os jovens obesos apresentam maior probabilidade de desenvolverem fatores de risco que podem causar doenças como diabetes, hipertensão, depressão, alterações ortopédicas e articulares. Logo, o manual da SBP foi elaborado com base no alerta de estudos e protocolos internacionais.
O documento aponta que os bebês, por exemplo, devem ser estimulados a se movimentarem várias vezes ao dia, seja engatinhando, buscando objetos ou movendo os membros do corpo, sob supervisão e estímulo dos pais. As crianças de três a cinco anos podem se exercitar por 180 minutos ao longo do dia, andando de bicicleta, com brincadeiras de perseguir ou jogos com bola, por exemplo. Entre seis e 19 anos de idade, é recomendado exercitar por pelo menos uma hora por dia com atividades mais intensas, como correr, nadar, pedalar, saltar ou com brincadeiras que trabalhem com o peso corporal e acelerem mais a respiração e o batimento cardíaco.
Márcia Mizrahy chama atenção para o fato de que os pais também podem estimular o comportamento saudável dos filhos com a prática de esportes, mas sempre respeitando os horários de pico do sol, mantendo uma boa hidratação e roupas adequadas. “Vale também matricular os filhos em atividades físicas adequadas a idade. Isso ajuda a manter a saúde não só física, mas emocional. Por outro lado, é preciso dar o exemplo, afinal os filhos se espelham nos pais. Em relação à alimentação, por exemplo, não tem como exigir que seu filho coma frutas, verduras e legumes regularmente se você mesmo não faz isso”, ressalta.