Moda sem gênero ganha espaço na cidade

Não é pra homem. Não é pra mulher. É pra quem queira usar. Enquadrada, na verdade, fora dos enquadramentos sociais “masculino” e “feminino”, a moda sem gênero é tendência que surge e cresce a passos largos em Juiz de Fora, acompanhada da tendência nacional. Das grandes grifes às lojas de departamentos e marcas menores, as roupas dialogam com a premissa do termo “identidade de gênero”: a forma como cada pessoa se reconhece e deseja que os outros a reconheçam.

Segundo Paulo Rodrigues, mestrando em Artes, Cultura e Linguagens na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a moda sem gênero segue dois caminhos: aquela que se encontra nas vitrines dos shoppings como uma simples tendência, mas também a que um determinado grupo, geralmente marginalizado, busca se expressar e contestar algumas normas de gênero e sexualidade vigentes. “Penso que ambas são importantes, mas a primeira costuma ficar num debate raso e, obviamente, econômico. A segunda já me deixa mais interessado, pois transcende a efemeridade da moda em si e percorre um caminho de questionamentos”, explica.

“Primeiro, temos que por em mente que na história sempre tiveram pessoas que percorriam as fronteiras do gênero e não é algo de hoje. Muitos destes estilos marginalizados, porque não seguiam os papéis do gênero, se tornaram posteriormente as roupas do dia a dia. Um exemplo é a calça para mulheres. Maria Antonieta as usava em suas montarias”, pontua Paulo, que é formado em Artes e Design, também pela UFJF, tendo cursado um período da graduação em Portugal.

MODA SEM GÊNERO PRA QUÊ?

“A moda sem gênero contesta papéis sociais que muitos de nós acreditamos ser ‘naturais’, mas são imposições, um dispositivo de controle a certos corpos. Por isso, não podemos deixar de debatê-la, pois, infelizmente, ainda há certa resistência a grandes deslocamentos na esfera do vestuário e da moda”, diz Paulo, que revela ser um consumidor de longa data do vestuário sem rótulos. “Eu a consumo antes mesmo deste tipo de moda ter sido colocada em slogans de grandes marcas. Às vezes, pequenos adereços que não seriam adequados ao seu gênero causam grandes estardalhaços. Homens usando salto ou mulheres com o cabelo raspado já viram motivos de cochichos pela rua”, afirma.

Um dos defensores da moda de “gênero fluído” é João Pedro Basques, proprietário da loja Hezel. “Meu estabelecimento é voltado para o público masculino, mas temos vendido muito para as mulheres. Então, atualmente, tentamos trazer uma neutralidade nas nossas peças. Entretanto, vale dizer que é a pessoa que atribui o gênero; se aquilo é pra ela ou não. Não precisa ser algo tachado de masculino ou feminino”, opina Basques, que também é designer de moda e alfaiate por formação acadêmica.

O empresário ressalta que não só o estilo, mas a modelagem das camisetas também é pensada de forma a não atender apenas um gênero. “Essa moda que transita entre os dois mundos vem sendo proposta desde o início do século passado. A estilista Coco Chanel ‘inseriu’, na década de 1920, peças do vestuário masculino no guarda-roupa feminino. É preocupante pensar que pouco se avançou desde então. Ainda há um grande espaço a ser conquistado pela moda sem gênero”, defende.




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