Um palco cujas cortinas nunca se fecham

“O Parque Halfeld das minhas gazetas, cheio de irerês e do grito das araras cujas cores lembravam a das flores; cheio da sombra verde das magnólias e das sapucaias, do sussurro das casuarinas e dos bambus, do murmúrio das águas da fonte central e a das que caíam, como cortina de contas de vidro, das pedras rústicas encimadas pela Cabana. […] O jardim tinha a mesma graça tropical da Quinta da Boa Vista, do Passeio Público e do campo de Santana”. Este trecho entre aspas é do escritor juiz-forano Pedro Nava, parafraseado pelo historiador Marcos Olender no artigo “A contribuição da imigração italiana na consolidação da paisagem urbana de Juiz de Fora”, apresentado em 2014 no 3° Colóquio Ibero-americano, em Belo Horizonte.

O registro histórico, e também poético, do escritor faz referência à conclusão das obras no coração da cidade. Nesse sentido, destaca-se a importância da Pantaleone Arcuri, construtora que executou as obras, no final do século XIX, do jardim da praça intitulada Coronel Francisco Halfeld, em referência ao financiador do projeto.

Antes do início da construção, até meados da década de 1880, havia no local um largo onde eram realizadas as touradas e instalados os circos que passavam pela cidade. “Nele, sempre se localizaram os principais símbolos dos poderes públicos da cidade, como as Repartições Municipais e a Câmara Municipal. Em 1880 é realizado o primeiro projeto, do arquiteto alemão Miguel Antônio Lallemant. Adotando-se o ‘estilo inglês’, cercando-o de grades, o jardim apresentava problemas de projeto e execução. A firma de Pantaleone ganhou, no início do século XX, a concorrência pública para elaborar o novo projeto e realizar as obras de implantação do mesmo”, explicou o historiador em seu artigo.

Posteriormente, outras edificações compuseram a paisagem urbana do entorno. Entre elas estão a Câmara Municipal, inaugurada em 1878, em substituição a antiga Casa do Mercado; as igrejas de São Sebastião e Metodista Central, cujas obras foram finalizadas em 1878 e 1928, respectivamente; e o antigo prédio da Prefeitura, inaugurado em 1919, atualmente sede da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa).

O Parque Halfeld, hoje símbolo de referência urbana e de valor afetivo para a população, no entanto, foi entregue pela Pantaleone Arcuri à cidade em 5 de outubro de 1902. “Hoje em dia, do seu projeto original, restam os espelhos d’água, o quiosque e alguns bens integrados e árvores. Apesar de ser conhecido ainda como Parque Halfeld, as intervenções que ocorreram no decorrer do século XX, readequando o espaço para as novas demandas urbanas, fizeram com que o mesmo se tornasse uma praça”, esclareceu Olender.

Mais do que árvores e bancos cercados por conjuntos ornamentais, o espaço se impõe de forma imponente no coração do município. E talvez não exista morador da Manchester Mineira que não tenha pisado ao menos uma vez em seu solo, um palco cujas cortinas nunca se fecham e que abarca, desde o seu surgimento, inúmeras histórias a cada dia.




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