Quando as famílias recebem a notícia de que existe um bebê a caminho, a casa toda se organiza para recebê-lo.
São nove meses de preparativos, chá de fralda, consulta de acompanhamento médico, expectativa de saber o sexo, compras de enxoval, montagem do quarto…
Nesse último quesito, inclusive, há vários estilos arquitetônicos, conciliados com linhas pedagógicas, para se projetar o ambiente.
E essa festa e preparativos todos são para receber a nova vida que se aproxima. Uma figurinha, careca, sem dente, que baba, chora, perturba, causa olheiras nos pais por noites mal dormidas, que só se comunica através de choros, cheiros e sons desconexos.
Preparamo-nos para dar toda a atenção, proteção e carinho para alguém completamente dependente e indefeso.
Imagine projetar o espaço para alguém que não tem a visão bem focada, a audição sem boa definição, dificuldade de locomoção e de alcance dos objetos, percepção limitada do espaço, falta de domínio de algumas funções fisiológicas e cheio de manias e afeições adquiridas ao no transcurso de uma longa vida?
Opa… “transcurso de uma longa vida”?!
Desculpem-me, mudei do assunto de bebê para “segunda infância” sem aviso prévio.
Se por um lado nos preparamos festivamente para a chegada de um bebê. Por outro lado, negligenciamos os preparativos para os idosos, que muitas vezes têm as mesmas necessidades de atenção e cuidados.
No quarto do bebê, o cliente final não opina. Ele é projetado através de normas técnicas específicas e atendendo aos gostos pessoais dos pais.
Nos projetos de ambientes para os idosos, devem-se atender a uma série de normas técnicas; aos filhos, que pressupõem saber o que é melhor para os próprios pais (talvez isso seja uma vingança pelo quartinho que receberam quando bebês); e também ao cliente final, o idoso, com toda a sua carga cultural, afetiva e emocional.
Nesse sentido, o projeto para a ambiência de idosos é tão importante, ou mais, do que o do quarto de um bebê: esses se desenvolverão e ganharão autonomia em poucos anos; aqueles, por sua vez, se não forem bem cuidados, podem perder autonomia e se tornarem dependentes por muitos anos.
Os bons projetos arquitetônicos não visam apenas estética e conforto, mas podem criar autonomia e até auxiliar na saúde dos idosos, prevenindo alguns sintomas da senilidade ao estimular fatores físicos e cognitivos.
Segurança
A dificuldade de locomoção e equilíbrio acomete muitos idosos. Instalar barras de apoio nos banheiros e evitar o uso de tapetes, que podem ocasionar tropeços e quedas, são pequenas modificações que facilitam a autonomia e diminuem o risco de acidentes domésticos.
Mobilidade
A instalação de portas de 80cm de largura permite a passagem de cadeira de rodas e andadores.
No caso dos banheiros, fazer com que a porta abra para fora ou instalá-las de correr ajuda na mobilidade.
Retirar as mesas de centro e objetos que dificultem o deslocamento dentro de casa são ações simples que facilitam o dia a dia de quem tem dificuldade de locomoção. Paredes espelhadas, ao contrário, podem causar desorientação no deslocamento.
Mobiliário com alturas adequadas também favorecem à autonomia.
Iluminação natural
Ambientes escuros contribuem para o desenvolvimento da depressão, por isso a iluminação adequada é fundamental. Melhor ainda se for natural, que ainda auxilia na eliminação de mofo, ácaros e agentes biológicos.
Arte e cor
Ambientes monotônicos são também monótonos e podem gerar depressão. Os extremamente coloridos fazem com que o excesso de informação os tornem cansativos e estressantes. O equilíbrio é sempre recomendável.
Quadros, fotos e peças de arte criam uma ligação afetiva e auxiliam na memória.
Cantinho ao sol
Jardins sensoriais estimulam os sentidos. Cuidar de hortas e jardins (mesmo que em vasos) permitem a interação com a natureza e resgatam o senso de dever e utilidade.
Privacidade
Ter um cantinho exclusivo, mesmo que seja um armário, é fundamental. A privacidade é uma necessidade natural de todos nós que somos seres sociais e vivemos constantemente cercados.
Tecnologia
Sensor e/ou bloqueador de vazamento de gás, sensor presença para acender a luz em ambientes estratégicos, números de emergência com fácil acionamento e acesso, celulares com botões grandes são recursos tecnológicos que facilitam o dia a dia dos idosos.
Para sugestões, dicas ou mais informações: Argus Arquitetura