Já se passava das 13h30 e os manifestantes ainda não tinham chegado ao ponto final do ato, no Parque Halfeld. Uma multidão de integrantes esperava para recepcionar e compor o movimento contra a reforma da Previdência, Trabalhista e as terceirizações. A Greve Geral do dia 28 parou Juiz de Fora.
O aposentado João Geraldo Barbosa, que acompanhava a passeata, explicou que estava apoiando o protesto em favor dos trabalhadores e dos jovens. “Mesmo aposentado, estou aqui no sentido de mudança. Estas reformas prejudicam de modo geral a vida dos trabalhadores e, principalmente, os jovens”, comentou o homem.
Aos gritos de “Vem pra rua, vem!”, o caminhão que conduzia o trajeto, à frente da população, seguiu e estacionou na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Halfeld. Foi quando terminou a passeata, que durou mais de seis horas ininterruptas.
Enquanto o protesto ocorria, diversas lojas das proximidades estavam entre meia porta ou completamente fechadas, em função da manifestação. “Por mais que esse ato possa impactar a empresa privada, são nossos direitos em questão, e por isso, devemos apoiar”, comentou Ana Clara Neves, funcionária de uma loja no Centro.
Os protestos, no entanto, foram vistos com maus olhos por grande parte da população. Alguns lojistas, insatisfeitos com a forma como o ato foi conduzido, criticaram. “Esta manifestação nos atrapalhou. Na falta do ônibus, muitos não tiveram condições de trabalhar ou de vir ao Centro da cidade. Consequentemente caiu o movimento”, ressaltou um comerciante que não quis se identificar.
A contadora Flavia Nery, também ficou insatisfeita ao ser surpreendida pela manifestação na Avenida Rio Branco e ficar presa no trânsito.”Ninguém foi avisado de que a manifestação viria para a Rio Branco. Disseram que seria na Praça da Estação”, reclamou.
O QUE LEVA A POPULAÇÃO ÀS RUAS?
Por meio dos debates e análises de políticos e especialistas acerca das reformas, é mais fácil que se entenda qual é a insatisfação colocada nas ruas e, por outro lado, porque estas propostas são defendidas.
Paulo Roberto Figueira Leal, mestre e doutor em ciência política, avalia que as propostas trazem prejuízos ao trabalhador que, nesta conjuntura, vai às ruas tomar seu lugar de fala na tentativa de fazer com que o governo volte atrás em decisões. “Na prática, existe um conjunto de diferentes iniciativas, que acabam atuando juntas, para produzir uma perda de direitos. Se você somar a já aprovada mudança da terceirização, que vai facilitar a possibilidade de que empresas possam contratar terceirizados, inclusive em suas atividades fins com as mudanças da reforma Trabalhista, que implicaria a possibilidade de que a CLT possa ser superada por acordos estabelecidos entre sindicatos e patrões, você conclui que vai precarizar o trabalho. Somasse isso a um conjunto de mudanças possíveis da reforma previdenciária, você tem uma série de medidas do governo especialmente lesiva para o trabalhador e para a garantia de direitos fundamentais da constituição de 1988. Percebendo isto, as pessoas vão ás ruas”.
O Deputado Federal Marcus Pestana (PSDB), que votou a favor da reforma trabalhista, defendeu a decisão. “O mundo mudou, a economia é globalizada, é dinâmica, e ela é fragmentada”, e completa, “No século 21 existem outras formas de trabalho, então, é preciso dar a liberdade a trabalhadores e empresários, para que eles dialoguem, negociem e criem formas eficientes e dinâmicas para que se gerar emprego”.
Ao final das manifestações na sexta-feira, o vereador Roberto Cupolillo (Betão-PT), que esteve à frente das manifestações em Juiz de Fora,adiantou que novas ações estão previstas e avaliou que a participação da classe trabalhadora é uma forma de tentar barrar as aprovações. “Isto vai ajudar na luta para derrotarmos as reformas trabalhistas, previdenciárias e a terceirização que esse governo está tentando aplicar. A tendência, agora, é que esse movimento continue”, atentou.
DESDOBRAMENTOS
Na próxima segunda-feira, os sindicalistas convocaram os manifestantes a se reunirem no dia 1º de maio, segunda-feira, no bairro Vale Verde, para novos protestos. No dia 2, terça-feira, as centrais sindicais se reúnem para avaliar o ato e programarem os próximos passos e, no dia 4 de maio, os representantes se reúnem a nível nacional.