Transitando entre guerra, amor, sexo e poder

Rei de Espadas. No baralho ele representa força estratégica nos “combates” travados em mesas de jogos. Já no teatro, as metáforas que lhe cabem constroem a primeira cena – que recebe o nome da icônica carta – para falar de guerras, extermínios, invasões, batalhas, soldados e mortes. “Não nos referimos a eventos ou períodos históricos específicos. Falamos de forma geral e lançamos frases soltas. A guerra é cantada e gritada”, explica o ator Marcos Marinho, que divide o palco com a atriz e artista plástica Fernanda Cruzick no espetáculo Canastra Real. A peça, do Teatro Mezcla, será apresentada nos dias 1 e 2 de abril, às 20h30, no espaço de cultura e arte OAndarDeBaixo (Rua Floriano Peixoto, 37, Centro).

A traição, o amor impossível e as interferências do poder nas relações amorosas e afetivas são expostas em “Rei de Paus”, segunda cena do espetáculo. “Falamos, aqui, de amor e de sexo, mas o que impede ou atrapalha é o poder. Ele interfere nas relações amorosas e afetivas. Estas últimas são retratadas também como relações políticas”, conta Marinho, acrescentando que a cena é baseada na vida do dramaturgo inglês Christopher Marlowe. “Umas das peças que ele escreveu foi sobre a vida do rei Eduardo II [da Inglaterra]. Ambos foram discriminados por serem artistas, poetas e boêmios. Os poderes político e religioso, principalmente bispos e juízes, perseguiram o rei e Marlowe 200 anos depois”.

Resultado de ampla pesquisa, Canastra Real traz na sequência “Rei de Ouros” para falar do amor de pai pra filho. O poder – ou a perda dele – permanece em pauta na narrativa do espetáculo. A referência para a construção do texto está na obra-prima “Rei Lear”, de Shakespeare, na qual o monarca coloca o amor das filhas à prova. Aquela que amar mais ganhará a maior parte do tesouro do reino.

Com referências extraídas de “Hamlet”, também de Shakespeare, “Rei de Copas” (última cena) faz uso da metalinguagem (o teatro dentro do teatro), método muito usado não só pelo dramaturgo e ator inglês, como também seus contemporâneos. Na transição de uma cena para outra, o público, ao acompanhar a troca de cenário, também escuta a leitura de cartas anônimas brasileiras e de outros países que foram coletadas na internet.

Canastra Real estreou em junho de 2016 na Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora. Produzido de forma independente por meio do crowdfunding (financiamento coletivo), o espetáculo tem direção do também ator Ricardo Martins, que já percorreu países da Europa com espetáculo teatral na época em que era integrante do Grupo Armazém de Teatro. A direção musical é do renomado maestro e pianista André Pires.

SERVIÇO

A reserva de ingressos pode ser feita pelo e-mail espacomezcla@hotmail.com. A partir de quarta-feira, 29, a comercialização será feita no Café Bom Brasileiro (Rua Braz Bernardino, 97, Centro) por R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada).




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