A imagem da paz, por contraditório que pareça, para mim, é o Cristo crucificado. Ali se prova que é preferível morrer perdoando que viver odiando. O ódio é o veneno que mata as relações entre Deus e a pessoa humana e as pessoas humanas entre si e tira a paz.

O Menino que nasceu em Belém, que é apresentado à humanidade por sua Mãe, recebe na história de Israel vários títulos. É chamado de Messias, Salvador, Deus Forte, Imortal, Príncipe da Paz. O nome que lhe é dado, ao ser circuncidado ao completar oito dias de nascido, rito pelo qual passa a ser integrado efetiva e afetivamente ao povo da promissão, é Yê-schuá (Jesus) que significa “Deus Salva”. A salvação é a paz procurada por todos os corações, pois não há nada pior que viver em conflito, dominado pela violência contra os outros que afinal é violência contra si memo. Quem alimenta violência perece por ela!

O dia 1º de Janeiro é Dia Mundial da Paz desde 1967, quando o Papa Paulo VI (1963-1978) o instituiu, crendo firmemente que a paz é possível entre os povos, que os conflitos podiam cessar um dia, que jamais a raça humana apele para a guerra.

Ele havia sofrido na pele os horrores da segunda guerra mundial e seu pai havia padecido, com sua família, o tremendo desatino da primeira guerra. Em seu discurso à ONU, na primeira visita que um Papa fazia àquela instituição, ele afirmou: “nunca mais uns contra os outros, nunca, nunca mais!”. Na ocasião, citava John Kennedy, um dos mais importantes Presidentes dos EEUU, em toda a sua história nacional: “A humanidade deve por fim à guerra, ou a guerra porá fim à humanidade”. E por fim, proclama: “A paz, a paz deve guiar o destino dos povos e da humanidade toda! Se quereis ser irmãos, deixai cair as armas de vossas mãos; não se pode amar com armas ofensivas em punho” (Paulo VI, Discurso na ONU, 4-10.1965, citado in Missal da Assembleia Cristã – Paulus, 1995).

A paz está ligada intimamente ao senso do perdão. Por isso, o Senhor, no alto da cruz, consegue transformar aqueles momentos de tormento em uma lição extraordinária de amor, jamais vista na história da humanidade. Eis a novidade do cristianismo: crer na força do amor para se atingir a paz. O rancor, a vingança, a maledicência levam facilmente à mentira, à inversão de valores capazes de, injustamente destruir uma pessoa. Dos pequenos conflitos é que surgem as grandes guerras. Tudo começa com intrigas não resolvidas, com posições endurecidas, com incapacidade de ceder opiniões em vista de um bem maior. A incapacidade de aceitar-se em situação de erro, de ser corrigido revela ausência de uma das principais virtudes construtoras da paz: a humildade.

Ao contemplar o Cristo na cruz, ouvindo-o rezar “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”(Lc 23,34), encontro-me diante de um programa de vida que me impõe determinação, despreocupação comigo mesmo, visando apenas e tão somente a paz que deve reinar entre pessoas, grupos e toda a humanidade.

No primeiro dia do ano civil, oito dias depois do nascimento do Príncipe da Paz, a Igreja convida para lançar os olhos sobre o Menino de Belém, e ao mesmo tempo contemplar sua Mãe, tentando enxergar nesta cena, os meandros do mistério da Salvação. Deus, usando de máxima humildade, envia seu Filho e este nasce de uma mulher, aquela prometida depois da queda dos primeiros pais, como narra o livro de Gênesis. A cena mística nos revela que tal mulher tem um lugar especialíssimo na história da Salvação. Ela é a Porta pela qual tudo acontece, para que salvos, os homens conquistem a paz nesta terra e na eternidade.




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